terça-feira, 22 de maio de 2018

COLUNAS VESTIBULARES - B & J


Em 23/03/2018 o Irmão Companheiro Tarciso Silvestre Ferreira, Loja Filhos de Adonai, REAA, GOB-MA, Oriente de Presidente Dutra, Estado do Maranhão, solicita o seguinte esclarecimento:

COLUNAS VESTIBULARES


Gostaria de saber os motivos pelos quais a Grande Loja que diz ser do REAA usam as colunas J e B dentro do Templo posicionando o Cobridor que seria Interno e o Mestre de Harmonia atrás das colunas, consequentemente fora do Templo. E porque da inversão do Mestre de Cerimônia com o Hospitaleiro em relação às Lojas do GOB?

CONSIDERAÇÕES.

Pois é, em se tratando de Rito Escocês Antigo e Aceito as Colunas B e J são colunas vestibulares, portanto elas deveriam se posicionar no vestíbulo, ou no átrio do Templo ladeando a sua porta de entrada. B à esquerda de quem entra e J à direita.
Justifica-se essa disposição porque ela está diretamente associada à alegoria do Templo de Jerusalém onde as Colunas Gêmeas exteriorizadas são mencionadas na Bíblia conforme os livros de Reis e Crônicas e Paralipômenos.
Em Maçonaria, e em particular no REAA, fisicamente as Colunas também são conhecidas como solsticiais (relativas aos solstícios de João, o Batista e de João, o Evangelista) porque marcam simbolicamente a passagem dos trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul. Isso se dá levando em conta a relação cosmogônica, própria do Rito Escocês que, embora tenha algumas tendências teístas (anglo-saxônicas), possui mesmo forte influência deísta dada às suas origens na Maçonaria francesa. Na concepção cosmogônica o Templo representa um segmento da superfície terrestre situado sobre a linha do equador – nesses limites se operam as transformações iniciáticas.
É por essa óptica que as Colunas Solsticiais se situam no limite ocidental do Templo maçônico. Assim, de dentro do Templo, aquilo que estiver situado além delas estará localizado no exterior do templo. É por essa razão que no REAA\ as Colunas devem se situar conforme a descrição bíblica, isto é, no vestíbulo do Templo e junto à porta de entrada.
Amiúde, é bom que se diga que a primeira visão que o observador tem do Templo é de fora para dentro. Isso é lógico em qualquer situação – quem ingressa no edifício o faz vindo de fora para dentro.
Comentários à parte, a questão é que nos Templos Maçônicos a situação dessas Colunas não tem caráter unânime e pode variar de lugar de acordo com os ritos maçônicos. Por questão doutrinária, e mesmo cultural essas Colunas às vezes podem também aparecer - conforme o Rito - interiorizadas e junto à parte interna da porta. Às vezes invertidas e, em outras até situadas em outros lugares distintos dentro da sala da Loja. Já no caso do REAA\ elas se situam mesmo, ou pelo menos deveriam se situar, tradicionalmente no Átrio.
Quanto à razão dessas distorções, veja que não é segredo para ninguém da existência de uma grande quantidade de edições de rituais que paulatinamente apareceram na Maçonaria brasileira ao longo da sua história. Desses rituais, inquestionavelmente muitos foram montados, copiados e enxertados com costumes de uns em outros ritos. Ao final desse processo apareceram indevidas inserções que permaneceram na viciada tradição latina em nome do tudo o que está escrito está irremediavelmente certo - o que nem sempre é verdade.
Quanto ao que diz respeito à posição invertida do Mestre de Cerimônias e do Hospitaleiro no REAA\, é a mesma coisa.
Isso se dá em alguns rituais simplesmente porque os erros se perpetuam a partir de cópias de procedimentos anacrônicos de rituais antigos.
Infelizmente ainda alguns “acham” que qualquer ritual antigo é sinônimo de coisa certa. Ora, isso está muito longe de estar de acordo com a verdade. Antiguidade nesse caso, nem sempre significa idoneidade.
No caso do Mestre de Cerimônias, que tradicionalmente ocupa a Coluna do Sul graças ao seu ofício de dar beleza à sessão (objetividade, fluidez e respeito), desafortunadamente alguns ritualistas inversamente o colocaram na Coluna do Norte por associá-lo ao deus mitológico Mercúrio, cujo planeta correspondente se localiza a nordeste na decoração da abóbada do Templo. Alegaram esses tratadistas que devido aos deslocamentos desse Oficial por todos os quadrantes da Loja ele se assemelhava com o deus mensageiro simbolizado pelo astro (planeta) que mais rapidamente se desloca pelo espaço sob o ponto de vista da Terra. Tudo isso não passa de mero exercício de imaginação.
Na verdade essa comparação é equivocada e não procede porque tradicionalmente os verdadeiros mensageiros na Loja são os Diáconos, não como condutores de documentos, recados ou afins, mas como os antigos oficiais de chão da época da Maçonaria Operativa. Note que não é por acaso que os Diáconos ocupam a banda nordeste e sudoeste do Templo, pois Mercúrio que é o planeta símbolo do deus mensageiro aparece na decoração da abóbada sempre na sua porção boreal.
Outro motivo dessa inversão é porque inadvertidamente muitos copistas de rituais não observaram a disposição dos cargos conforme o Rito. Por exemplo, é certo que alguns ritos invertem posições dos Vigilantes e de alguns Oficiais em relação aos outros. Isso pode ser facilmente conferido em se observando, por exemplo, a planta do Templo dos Ritos Moderno, ou Francês, Adonhiramita e Escocês Antigo e Aceito – vide que muitas dessas posições se invertem entre eles.
Assim, muitos rituais antigos que serviram muitas vezes como base para se compilar procedimentos, trazem essas distorções equivocadas em relação ao rito e que acabaram se consolidando em alguns rituais. É o caso do Mestre de Cerimônias mencionado na sua questão que contraditoriamente exerce o seu ofício, segundo um ritual, a partir da Coluna do Norte.
Devo mencionar a existência de muitas sutilezas na liturgia maçônica que explicam a razão e o significado das práticas ritualísticas. Copiá-las apenas sem uma análise mais crítica antes de inseri-las num ritual fatalmente poderá acabar em perpetuação erros.
Por fim, é certo que quando se aprova um ritual que traz consigo práticas contraditórias, acaba se prestando um desserviço à autêntica ritualística.


T.F.A.

PEDRO JUK


MAIO/2018

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