quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

O ATO DO TELHAMENTO NA MAÇONARIA - ORIGENS.

Em 26.09.2022 o Respeitável Irmão Lauro Goerll Filho, Loja Justiça e Caridade, REAA, GOB-PR, Oriente de Paraíso do Norte, Estado do Paraná, faz a seguinte questão.

 

ORIGENS DO TELHAMENTO

 

Estimado Irmão Pedro Juk, gostaria de saber se a origem do atual Telhamento, está ligado aos antigos canteiros de obras, onde os Maçons operativos para serem reconhecidos, eram submetidos a tal prática.

 

CONSIDERAÇÕES.

 

O neologismo maçônico “telhamento” se refere à cobertura do ambiente de trabalho maçônico. Implica que pelo lado de fora não se pode ver e nem ouvir o que ocorre dentro de um determinado espaço.

                 É daí que o termo foi ajustado na Maçonaria e o porquê da figura do Cobridor como aquele que cobre o templo, no caso os Cobridores que cobrem o templo pelo seu lado externo e interno.

Em Maçonaria é graças à palavra “cobertura” que se utiliza o substantivo feminino “goteira”, ou ainda a expressão “está chovendo” para se referir a um elemento estranho aos trabalhos maçônicos. No Craft, o Cobridor Externo é o Tyler que significa, numa tradução livre, o Telhador.

Mencionam alguns historiadores que nos tempos operativos, quando um elemento estranho à Arte era descoberto entre os maçons profissionais, o intruso era imediatamente imobilizado e penalizado, sendo amarrado sob as calhas por onde escorriam dos telhados as geladas águas pluviais do norte europeu. Ao que parece é daí nome “goteira” que se dá a um intruso presente nos trabalhos maçônicos.

Na Maçonaria anglo-saxônica também é ainda comum o uso do vocábulo cowan para se referir a um elemento irregular na Loja. Segundo Harry Carr, a palavra Cowan possui origem em um dialeto escocês. Genericamente significa “aquele que ergue muro de pedra sem argamassa”. Na verdade, o sentido dessa expressão é para se referir a um profissional deficitário e sem qualidade, ou seja, algo construído de modo impróprio; reprovável.

Por uma questão de tradução errada, aqui no Brasil por muito tempo utilizou-se a palavra “trolhamento” em vez de “telhamento”, o que foi (e para alguns ainda é) de fato um verdadeiro contrassenso, pois um templo é coberto com telhas e não com trolhas.

O termo trolhamento, derivado da trolha, em Maçonaria significa alisar; figuradamente menciona aparar arestas ou rugas que possam eventualmente ocorrer entre Irmãos. Enfim, trolhamento nada tem a ver com verificar a qualidade maçônica de alguém.

Historicamente, nas corporações de ofício da Idade Média, nossos ancestrais da Maçonaria Operativa, ou de Ofício, severamente protegiam os planos da construção e dos contratos da obra. Construir igrejas e catedrais para o clero era um alto negócio econômico.  Assim, somente tinham acesso a essas informações os profissionais qualificados e certificados com a “carta”. Nesse sentido eles adotavam entre si sinais, toques e palavras para se identificarem, sobretudo no trato com elementos profissionais e contratuais da guilda ou da loja (alojamento).

Do mesmo modo, esses elementos profissionais da construção (freemasons), que na época eram protegidos pela igreja estado, tinham liberdade de deslocamento pelos
diversos rincões medievais do Norte da Europa. Para se identificar profissionalmente eles também se utilizavam de sinais, toques e palavras. Afinal esse método era muito mais prático do que um freemason ficar horas desbastando uma pedra para mostrar a sua habilidade.

A partir do século XVII e XVIII, com o declínio da Maçonaria Operativa e a ascensão da Maçonaria dos Aceitos, os maçons especulativos continuaram a usar esse mesmo meio de reconhecimento nas suas Lojas, obviamente adaptando-as para à conjuntura dos ritos na Moderna Maçonaria. A conservação desse costume foi tão importante que inegavelmente hoje eles são os verdadeiros segredos da Ordem.

Assim, atualmente “telhamento” significa a cobertura dos trabalhos e, por extensão, é o exame aplicado a alguém para verificar a sua qualidade maçônica. Dependendo do rito, há oficiais experts em aplicar o telhamento. No caso do REAA, o 2º Experto é um deles. Já os Cobridores têm como ofício guardar; proteger - um deles o Templo externamente e o outro especificamente a sua porta pelo lado interno.

Ao concluir, vale ainda mencionar que quem cobre o templo é o Cobridor, ou os Cobridores. Desse modo, aquele que por ventura não possa ingressar, ou mesmo aquele que tenha que se retirar devido a transformação da Loja (mudança de grau), é que tem para si o templo coberto. Quem se retira nessa circunstância não cobre o templo. Afinal, quem cobre é o Cobridor.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK – SGOR/GOB

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

FEV/2023

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