sábado, 8 de abril de 2023

OS ANTIGOS E OS MODERNOS E AS DUAS GRANDES LOJAS RIVAIS

Em 23.11.2022 o Respeitável Irmão Georges Bucher Keramidas, Loja Lealdade e Civismo, 888, Rito Moderno, GLESP, Oriente de Santos, Estado de São Paulo, apresenta o que segue:

 

ANTIGOS E MODERNOS

 

Em seu trabalho A ORIGEM DA MAÇONARIA o Ir.'. recomenda "Conhecer a história relacionada aos 'Antigos' de 1751 e os 'Modernos' de 1717 é imprescindível para se avaliar o conhecimento sobre a Sublime Instituição.

Tenho dificuldade em entender esses nomes Antigos/Modernos e as datas aparentemente invertidas.

 

CONSIDERAÇÕES

 

A denominação “Antigos e Modernos” faz parte da história da Maçonaria anglo-saxônica e tem a ver com a fundação, a 24 de junho de 1717, por quatro Lojas de Londres e Westminster, da Primeira Grande Loja.

                   Dentre outros, essa Primeira Grande Loja inauguraria então a Moderna Maçonaria, cuja característica principal fora a de inaugurar o primeiro sistema obediencial no mundo. Por conta da Primeira Grande Loja é que viria aparecer a figura de um Grão-Mestre como dirigente de todas as Lojas. Foi o primeiro Grão-Mestre o Irmão Anthony Sayer, um Companheiro Maçom. Não havia ainda o grau especulativo de Mestre Maçom. Este somente apareceria em 1725, sendo oficializado pela Primeira Grande Loja em 1738.

No entanto, com o nascimento da Primeira Grande Loja, nem todas as Lojas londrinas viam com bons olhos essa novidade. Sobretudo pelo conjugado aparecimento da figura de um Grão-Mestre como dirigente de todas as Lojas.

Entenda-se que esse novo sistema obediencial acabaria atingindo em cheio os costumes tradicionais dos maçons livres nas Lojas livres.

Assim, paulatinamente as rivalidades iam aumentado, fazendo com que os opositores da Primeira Grande Loja, nascida em 1717, acabassem fundando mais tarde outra Grande Loja para fazer oposição à primeira.

Composta principalmente por maçons irlandeses, em 1751 apareceria então outra Grande Loja que se autodenominaria como “dos Antigos”, alegando para tal, ser ela
uma conservadora dos “antigos costumes”.

                      Vale mencionar que entre 1717 e 1751 apareceriam também na Grã-Bretanha outras duas Grandes Lojas, a da Irlanda e da Escócia. Do mesmo modo, ambas também não eram muito simpáticas aos ditos “modernismos” da Primeira Grande Loja.

Na realidade, a Primeira Grande Loja surgiu em meio a uma enxurrada de revelações (exposures) que eram textos reveladores dos costumes maçônicos e eram constantemente publicados nos jornais londrinos da época.

Essas exposures, que tinham o desiderato de revelar ao público profano em geral como os maçons da época trabalhavam nas suas Lojas, logo acabariam sendo economicamente muito rentáveis para os detratores que, com isso, se esforçavam cada vez mais em suprir a curiosidade de um público ávido em descobrir os tão propalados “segredos” da Maçonaria.

No século XVIII, mais precisamente em 1730 na Inglaterra, a mais importante dessas exposures foi a de autoria de Samuel Prichard intitulada Masonry Dissected (Maçonaria Dissecada). Essa “revelação” acabou se transformando em um conjunto de textos encadernados para venda, e foi tal o seu sucesso que teve várias edições publicadas em um curto espaço de tempo.

É bom que se diga que no curso da história, as duas Grandes Lojas rivais acabariam também recebendo revelações publicadas. Associada à Grande Loja dos Modernos, encontramos a exposure denominada Jachin and Boaz e à Grande Loja dos Antigos, a denominada The Three Distinct Knocks. A bem da verdade essas duas revelações tiveram importante papel na construção de muitos rituais a partir do século XVIII e XIX, inclusive na França onde os modernos atuaram na vertente moderna da Maçonaria Francesa (Rito Moderno), e os antigos, mais especificamente à vertente escocesista, ancestral do REAA e os seus primitivos rituais do simbolismo.

Graças às revelações ao público, a Premier Grand Lodge acabaria alterando substancialmente a forma litúrgica dos trabalhos maçônicos, suprimindo com isso passagens ritualísticas, invertendo colunas e palavras, omitindo orações, etc. - tudo isso com o escopo de se despistar a curiosidade de um público sedento por desvendar “mistérios”.

De fato, essas alterações produzidas pela Primeira Grande Loja desagradaram profundamente o conservadorismo de uma enorme parcela de Maçons ingleses e irlandeses. Esse fato acabou resultando em uma grande animosidade contra os membros da Grande Loja de 1717, acusados então de alterarem a velha forma de trabalho.

Assim, capitaneados pelo Irmão irlandês Lawrence Dermott, cinco Lojas se reuniam para fundar no Soho, ao sul de Londres, no mês de julho de 1751, uma outra Grande Loja rival que então se autointitulava como “dos Antigos”, justificando para tal ser ela guardiã dos costumes antigos e a herdeira tradicional de uma lendária reunião que teria ocorrido em 926 na cidade medieval de York na Inglaterra.

Esta reunião, então convocada por Edwin, sobrinho do Rei Athelstan, teria ocorrido para aperfeiçoar os estatutos da confraria de pedreiros, consolidando assim a forma tradicional de trabalho das corporações de ofício da Inglaterra de então.

Sobre essa reunião, conforme revelam alguns autores como Gould, Harry Carr e Bernard Jones, fora convocada não para organizar regras de trabalho, mas para avaliar e se proteger dos prejuízos sofridos pelas corporações de ofício devido às constantes invasões dos povos bárbaros oriundos do norte da Europa.

Foi desse modo que os maçons autodenominados “antigos” deram a alcunha de "modernos" aos componentes da Primeira Grande Loja. Esse apelido sarcástico se consolidou sobre dois pontos principais: 1º) pela substancial alteração na forma de trabalho ocorrida para se preservar das exposures; 2º) pela aristocratização da Maçonaria ocorrida pela aproximação da Grande Loja com a nobreza da Coroa Britânica, o que de fato ocorreria já em 1721 quando o Duque de Montagu fora então eleito Grão-Mestre.

Assim se explica o porquê dessa inversão onde nesse contexto os Modernos aparecerem antes dos Antigos no contexto histórico. A verdade é que as alcunhas das duas Grandes Lojas rivais não se relacionam propriamente com a cronologia do tempo, mas como títulos de identificação.

Por essa conjuntura, a Grande Loja dos “Antigos” seguiria por um longo tempo fazendo ferrenha oposição à Grande Loja dos “Modernos”. De fato, essas escaramuças durariam até novembro de 1813 quando através do Ato de União elas se fundiram criando a até hoje conhecida Grande Loja Unida da Inglaterra.

Eis uma pequena síntese da história da Maçonaria dos Modernos e dos Antigos na Inglaterra. Tão importante ela foi que até hoje continua influenciando as duas principais vertentes da Maçonaria que existem na Terra, a anglo-saxônica e a latina.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

ABR/2023

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