quarta-feira, 13 de julho de 2022

REAA - OFÍCIO DOS DIÁCONOS

Em 14.12.2021 o Respeitável Irmão Bruno Leonardo, Loja Barão de Mauá, 4.399, REAA, GOB-DF, Oriente de Brasília, Distrito Federal, apresenta a seguinte questão:

 

OFÍCIO DOS DIÁCONOS

 

Surgiu uma dúvida quanto a prática da ritualística durante a última sessão do ano. Eu ocupava o cargo de Primeiro Diácono e recebi a ordem do Venerável Mestre de buscar o livro de presenças junto ao Chanceler (cumprindo assim a minha atribuição prevista no ritual). O Mestre de cerimônias me advertiu que nenhum irmão deve transitar em loja senão acompanhado pelo Mestre de Cerimônias (o que também está correto). Após a sessão conversamos com um MI do quadro bastante experiente, ele disse que ambos estão corretos e que esse seria um erro no ritual. Gostaria de saber a opinião do irmão quanto a essa questão. E se realmente for um erro do ritual, se há previsão de correção para a nova edição.

 

CONSIDERAÇÕES

 

Antes um comentário pertinente sobre os Diáconos, cargos originais da Maçonaria anglo-saxônica que foram introduzidos no REAA.

Os Diáconos foram admitidos no REAA (rito de origem francesa) apenas e tão somente para trabalhar como mensageiros na liturgia da transmissão da palavra.

A transmissão da palavra que ocorre na abertura e encerramento não tem o caráter de telhamento e nem de ofício administrativo, porém é representação simbólica de uma prática haurida dos velhos costumes operativos nas oportunidades em que eram nivelados e aprumados os cantos da construção (no início e no final da jornada de trabalho).

Nos tempos do ofício (Maçonaria Operativa) os Diáconos, então os antigos oficiais de chão, eram os mensageiros que atuavam na imensidão dos canteiros de obra como interlocutores entre o Mestre da Loja (mais tarde o Venerável Mestre) e os Wardens (zeladores, diretores) que mais tarde seriam os Vigilantes.

Como o REAA na produção do seu primeiro ritual simbólico em 1804 recebeu
forte influência da vertente da Grande Loja dos Antigos de 1751, não é de se estranhar que ele tenha recebido na sua liturgia muitas reminiscências dos costumes hauridos dos canteiros medievais, nossos antecessores.

Nesse sentido, o REAA, vislumbrando rememorar as aprumadas e nivelamentos das velhas construções medievais, recebeu no seu contexto ritualístico a alegoria da transmissão de uma palavra que, se transmitida nos conformes, significava estar justa e perfeita, ou seja, especulativamente simboliza um trabalho eficientemente, isto é, nivelado e aprumado. Na Moderna Maçonaria, em especial o REAA, essa transmissão da palavra tem o desiderato de simbolizar a aplicação do nível e do prumo nos cantos da obra (vide as joias dos Vigilantes). Vale lembrar que na Maçonaria Especulativa o elemento primário “pedra” fora substituído simbolicamente pelo material humano (o homem).

Assim, os Diáconos, lembrando os mensageiros operativos dos velhos canteiros medievais acabariam admitidos na liturgia do REAA com a finalidade única de atuar na transmissão da palavra.

Graças a isso é que a dialética de abertura no REAA menciona a presença dos Diáconos como transmissores de ordem, mas isso apenas como lembrança de uma ação comum que ocorria nos tempos primitivos da Maçonaria e nunca literalmente como auxiliares imediatos do Venerável Mestre e dos Vigilantes. Para desempenhar essa função administrativa (não iniciática), o REAA tem no seu quadro o cargo de Mestre de Cerimônias.

Por esses comentários, reitero que no REAA os Diáconos estão presentes apenas para atuar na alegoria da transmissão da palavra. A função de levar recados, bilhetes, documentos e outros do gênero dentro de Loja é ofício do Mestre de Cerimônias. As indagações e respostas que envolvem os Diáconos na ritualística da abertura dos trabalhos apenas justificam o ato da alegoria e o seu caráter histórico e iniciático, não cabendo, portanto, para eles o ofício do Mestre de Cerimônias.

No que diz respeito especificamente à sua questão, nela existem várias contradições. Por exemplo, o ritual não manda o Diácono buscar documentos para ninguém em Loja. Como foi explicado, a dialética de abertura nada tem a ver com procedimentos administrativos que ocorrem na liturgia dos trabalhos. Nesse caso, quem deveria buscar o livro de presenças era o Mestre de Cerimônias, não o Diácono. Nas suas funções os Diáconos servem apenas como mensageiros da palavra sagrada entre as Luzes da Loja. Nessa oportunidade eles se deslocam pela Loja sem a necessidade de serem conduzidos pelo Mestre de Cerimônias ou outro guia. De fato, quem conduz alguém em Loja, indo sempre à frente do conduzido, é o Mestre de Cerimônias que, nessa ocasião deve estar munido do seu bastão. Os Diáconos, no exercício da sua função (única e exclusiva para transmitir a palavra) não carecem de um condutor. Não custa lembrar que um Experto também atua em determinadas ocasiões como um condutor, ou guia na Loja.

Concluindo, vale mencionar que na plataforma do GOB RITUALÍSTICA encontra-se o SOR – Sistema de Orientação Ritualística. Esse sistema traz inúmeras explicações, correções e orientações para os rituais em vigência. O SOR está amparado pelo Decreto 1784/2019 do Grão-Mestre Geral e encontra-se publicado no Boletim Oficial do GOB sob o nº 31, mês de outubro de 2019.

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

Secretário Geral de Orientação Ritualística - GOB

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

JULHO/2022

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