Em 19.03.2023 o Respeitável Irmão Tiago Schenkel, sem mencionar o nome da Loja, Rito, Obediência, Oriente e Estado da Federação, apresenta a dúvida seguinte:
DECORAÇÃO DO TEMPLO.
Estava lendo uma peça vossa sobre a decoração do Templo e surgiu uma dúvida, a qual nunca houvera escutado sobre ou visto.
Na verdade, duas dúvidas:
a primeira é sobre "pedra, cedro do Líbano e ouro". Onde ficam e como apresentá-las de forma correta? (um pedaço, qual o formato da pedra, qual o objeto em ouro para expor).
A segunda se refere ao Altar dos Juramentos - "Convém..., na qual figurem o Círculo entre Paralelas Tangenciais e Verticais". teria alguma representação para que possamos adequar em nossa Loja?
Desde já, agradeço pelo retorno.
CONSIDERAÇÕES:
No caso do REAA, a Pedra, o Cedro do Líbano e o Ouro, são elementos simbólicos representativos da estabilidade (a pedra), da vitalidade (a madeira – cedro do Líbano) e a espiritualidade (o ouro).
Não existe nenhum um artifício emblemático específico para representa-los na Loja. Genericamente eles são elementos constitutivos que se encontram distribuídos na decoração dos Templos.
Tal como adereços, a Pedra encontra-se representada pelas Joias Fixas da Loja (a Pedra Bruta e a Cúbica); o Cedro do Líbano é representado pelo mobiliário em madeira distribuído pela Loja; o Ouro é representado pelos matizes dourados dos galões e debruns que adornam o dossel, as cortinas, os estofos e toalhas, além da cor dourada das joias distintivas dos cargos apensas dos colares. É assim que estes elementos podem ser encontrados nos Templos do REAA.Em relação ao Círculo entre as Paralelas Tangenciais, é possível dizer que este é um dos elementos mais antigos e importantes que constituem o relicário simbólico da Maçonaria em geral.
Quanto à sua exegese, o Círculo (totalidade cósmica) representa o Sol, enquanto que e as Paralelas Verticais Tangenciais representam os trópicos de Câncer e de Capricórnio. Veladamente este conjunto revela os períodos solsticiais e os ciclos da naturais do verão e do inverno.
Temperados pela Igreja, os solstícios de verão e inverno ao Norte acabariam associados aos personagens religiosos de João, o Batista (Trópico de Câncer) e João, o Evangelista (Trópico de Capricórnio).
Vale lembrar que historicamente os ciclos da Natureza muito interessaram às Corporações de Ofício da Idade Média, ancestrais da Moderna Maçonaria. Nas guildas de construtores, as estações do ano eram fatores determinantes para o progresso e o bom andamento do trabalho. As vicissitudes do inverno não eram bem-vindas porque tornavam insalubres as atividades laborais nos canteiros. Ao contrário do inverno, com seus dias curtos e noites longas e frias, o verão, mais iluminado, com dias longos e aquecidos, propiciava condições próprias para o progresso do trabalho.
Com a paulatina transformação da Maçonaria Operativa (de ofício) para a Especulativa, o símbolo formado pelo Círculo e as Paralelas Tangenciais, também adquiriu uma nova roupagem interpretativa. Sob um conceito filosófico esta alegoria lembra ao maçom que na mecânica da Natureza, o Sol nunca ultrapassa os trópicos. Em última análise, isto quer dizer que a sabedoria e o discernimento humano são limitados perante a plenitude das Leis da Criação.
Geograficamente, as paralelas tangencias correspondem à passagem, pelo Templo, dos trópicos de Câncer e Capricórnio. Essa referência, visível e palpável, é representada pelas Colunas Solsticiais B∴ e J∴.
No misticismo religioso e a Maçonaria, o Círculo entre as Paralelas Tangenciais também possui elo com a denominação de “Lojas de São João” comumente dada às Lojas maçônicas. No caso, João, o Batista, porque previu a Luz (verão), e o Evangelista, porque disseminou a volta da Luz (inverno).
Nesta conjuntura, vale lembrar que as Guildas de Construtores dos séculos XI e XII - precursoras da Franco-maçonaria - eram protegidas da Igreja. Assim, nada a estranhar as fortes influências religiosas daquela época no ofício.
Embora muito importante, infelizmente o símbolo do Círculo entre as Paralelas Tangenciais anda um pouco esquecido pela Maçonaria latina. Mesmo assim, nos rituais que o adotam, ele geralmente aparece gravado em um quadro fixado na base do Altar dos Juramentos, à vista de todos os que estão no Ocidente. Em alguns casos este símbolo também aparece em alguns painéis simbólicos de Loja.
Eram essas as considerações sobre pertinentes à sua questão.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
NOV/2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário