sexta-feira, 11 de junho de 2021

GRANDE LOJA E GRANDE ORIENTE - DIFERENÇAS

 

Em 28.09.2020 o Respeitável Irmão Wellington Sampaio, Loja Paz e Progreso III, nº 1,

Oriente de Maceió, Estado de Alagoas, solicita esclarecimentos para o que segue:

 

RITOS MAÇÔNICOS E A GRANDE LOJA

 

Se possível gostaria da ajuda do Irmão no sentido de esclarecer uma dúvida, qual seja: recentemente surgiu uma discussão no âmbito da Grande Loja do Estado de Alagoas (GLOMEAL) sobre a possibilidade de serem admitidos outros ritos, além do REAA, entre as lojas jurisdicionadas e, diante disso, veio o questionamento se isso contraria alguma norma, tácita ou não, pois há o entendimento, por parte de alguns irmãos (dos quais me incluo), que Grande Loja admite apenas lojas de um mesmo rito; e que lojas de ritos diferentes configuraria um Grande Oriente. Procede esse posicionamento? Se sim, há algum dispositivo legal que corrobore esse pensamento?

Busquei dirimir tal dúvida em várias fontes, no entanto, sem sucesso. Teria como o Irmão ajudar a pacificar essa celeuma?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Em que pese alguns autores como Jules Boucher afirmarem que o sistema Grande Loja se caracteriza por só admitir um rito, isso atualmente não faz nenhum sentido.

O título distintivo de Grande Loja dado a uma obediência maçônica surgiu com o marco inicial da Moderna Maçonaria em 1717, ano em que seria fundada a primeira Grande Loja em Londres e Westminster a 24 de junho.


Com a fundação dessa Grande Loja no primeiro quartel do século XVIII, era também inaugurado o primeiro sistema obediencial do mundo, ou seja, o de ter um Grão-
Mestre como seu dirigente maior. Para tal, a Grande Loja londrina de 1717 elegeu o gentleman Mister Anthony Sayer para ser o seu primeiro Grão-Mestre.

Quanto ao título distintivo de Grande Oriente para uma obediência maçônica, o mesmo foi aplicado pela primeira vez na França.

Em que pese alguns historiadores afirmarem que desde 1728 na França também existisse um sistema obediencial à moda inglesa, inclusive bastante influenciado pela primeira Grande Loja bretã, é somente em 1738 que iria ser legitimamente formada uma primeira Grande Loja em território francês - a Grande Loja da França (essa não é a atual GLF).

Assim, em 1771, tendo à frente o Grão-Mestre Louis Philippe Joseph d’Orléans, o Duque de Chartres, era realizada a grande reforma administrativa na combalida e desorganizada maçonaria francesa daquele período. Dentre outros, a reforma focava principalmente em combater a hegemonia das Lojas de Paris e seus veneralatos vitalícios (vide essa história) e estabelecia a eleição para veneráveis. Era então substituído o nome de Grande Loja da França por Grande Oriente da França.

Contextualmente pode-se dizer então que o nome Grande Loja como um sistema obediencial nasceu na Inglaterra em 1717 e que com essa mesma finalidade o nome de Grande Oriente foi aplicado na França em 1771.

Como federações ou confederações formadas pelo mínimo de três Lojas maçônicas, uma Grande Loja ou um Grande Oriente constitui-se numa Obediência ou Potência maçônica. Diferenças que porventura possam existir entre elas são de caráter administrativo.

Ser uma Grande Loja por adotar apenas um rito e um Grande Oriente por aceitar mais do que um rito, não me parece ser uma qualificadora titular apropriada.

Sobre essas colocações, um aspecto para ser considerado é o de que a profusão de ritos maçônicos ganhou força nos séculos XVIII e XIX. Na Inglaterra, por exemplo, após o final das escaramuças entre os Antigos e os Modernos era definida a forma de trabalho após o ato de união de novembro de 1813. No sistema da Grande Loja, agora Unida da Inglaterra, o craft (ofício) não adota ritos, contudo, workings, ou seja, formas de trabalhos rituais que seguem uma estrutura periodicamente demonstrada pela Grande Loja. É bom que se diga que uma das características da maçonaria inglesa é respeitar o regionalismo cultural das diversas regiões inglesas.

A Grande Loja inglesa, por si só já quebra a colocação de Jules Boucher quando ele menciona a prática exclusiva de um rito para caracterizar uma Grande Loja. Por exemplo, a Grande Loja Unida da Inglaterra, como “Grande Loja”, adota vários trabalhos (workings) como o de Emulação que é uma Loja de aperfeiçoamento e demonstração; o dos trabalhos de Bristol, do Claret, do West-End, do Taylor’s, do Humber, do Sussex, etc. Isso quer dizer que por mais próximos que esses trabalhos estejam uns dos outros dentro do Craft, é inquestionável que existem entre eles diferenças, em alguns aspectos, na forma de trabalho ritualístico. Na verdade, é a razão dos diferentes nomes dados aos trabalhos maçônicos regionais em solo inglês.

Vale a pena mencionar que a Grande Loja Unida da Inglaterra não nomina suas formas de trabalho como “rito”, o máximo que ela pode aceitar é o termo “ritual”, embora na Inglaterra eles oficialmente não sejam editados. No Craft, cada costume regional de liturgia maçônica é conhecido por “trabalho”. Os ingleses conservam uma única espinha dorsal para ele, contudo, conforme a região de origem eles possuem características próprias.

No Brasil, as Grandes Lojas Estaduais (CMSB) surgidas da cisão no GOB em 1927, em princípio praticavam apenas o REAA, entretanto, atualmente essa não tem mais sido regra. Assim também existem outras Grandes Lojas espalhadas pelo mundo, sendo que cada uma delas têm as suas particularidades e podem adotar mais de um rito se lhes for conveniente.

Nesse sentido, não dá para se afirmar peremptoriamente que uma Grande Loja se caracteriza por apenas praticar um único rito. Pelo menos não dá para generalizar esse conceito.

No tocante ao título “Grande Oriente”, sistema administrativo obediencial criado na França e difundido principalmente nos países latinos, se caracteriza naturalmente pela adoção plural de ritos.

Quando o Grande Oriente nasceu na França, ele logo se deparou com vários ritos oriundos dos dois troncos maçônicos praticados em solo francês. No caso, os ritos Moderno ou Frances, REAA, Rito Adonhiramita, etc. Todos eles na época acabariam trabalhando sob a égide do Grande Oriente da França. É certo, portanto, que no Grande Oriente, pelas circunstâncias da sua história, existe pluralidade de ritos.

Espalhados por outros países do mundo, tanto os Grandes Orientes, assim como as Grandes Lojas, acabariam se caracterizando como sistemas obedienciais que governam tantos quantos forem os ritos adotados, podendo, eventualmente, uma Grande Loja possuir apenas um rito, contudo isso não é regra para torna-la uma Grande Loja.

Há ainda um aspecto para ser considerado. Em muitos países, principalmente os latinos como a França, Brasil, Portugal, Espanha, Itália, etc., existem Grandes Lojas e Grandes Orientes, contudo, vale observar que essa não é uma característica comum nos países anglo-saxônicos. Nestes é corriqueira a presença apenas da Grande Loja.

Para concluir, é de se compreender que o número de ritos adotados não é condição para ser chamar “Grande Loja” ou “Grande Oriente”. Mais comum é admitir que a denominação “Grande Loja” é filha da Inglaterra e Grande Oriente filho da França. Diferença entre ambas é mesmo de caráter administrativo, nunca de adoção de ritos.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

JUN/2021

 

4 comentários:

  1. Obrigado pelos esclarecimentos. A titulo de ilustração, a Grande Loja de Minas Gerais reconhece "como regulares e legítimos os Ritos de York e o de Schroeder", além, logicamente, do R..'.E.'.A.'.A.'.

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    1. Grato pela visita e comentários que reforçam a minha resposta. Fraterno Abraço.

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  2. O Ir Pedro Juk sempre muito previso e claro em seus ensinamentos.

    JOSÉ LUIS GONÇALVES

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