sábado, 24 de junho de 2017

SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA

SÃO JOÃO E OS SOLSTÍCIOS NA MAÇONARIA.

Embora o assunto já tenha sido exaustivamente debatido e esclarecido por autores autênticos da Maçonaria, ainda muitas dúvidas campeiam o solo maçônico no que diz respeito às figuras patronais de João, o Baptista e de João, o Evangelista.
Nesse sentido, tenho recebido muitos pedidos de esclarecimento sobre o assunto através do Consultório Maçônico José Castellani da revista A Trolha de Londrina, PR, assim como pelo diário eletrônico JB NEWS in Perguntas e Respostas – Florianópolis, S.C.
Dado ao exposto seguem as seguintes considerações sobre o tema:

Para o esclarecimento necessário dessa questão e para que não se caia no campo das suposições “inventando” padroeiros para a Maçonaria só porque esse ou aquele Rito pretende identificar um “santo” em particular, é antes imprescindível que o estudante conclua que a questão não é só a de identificar um padroeiro para um Rito específico, senão antes identifica-lo como um patrono de toda a Maçonaria, independente dos Ritos e Trabalhos nela praticados (as Lojas de São João).
Nesse pormenor seria lógico antes se compreender a razão dessa escolha ou costume como parte integrante da história da Sublime Instituição. É, portanto imperativo que antes se entenda o porquê dessa relação que envolve as datas comemorativas dos “santos padroeiros – Baptista e Evangelista” como uma espécie de patronos da Maçonaria.
Desde quando? Qual a razão de João, o Baptista e João, o Evangelista aparecerem nesse misto de respeito religioso e alegoria simbólica intrínseca à Maçonaria? Por que a Moderna Maçonaria ainda mantém essa tradição?
Sem ter a pretensão de aqui querer ensinar astronomia e geografia, o tema, entretanto merece ser identificado tanto pela feição científica, bem como pela cultural que envolve as crenças pertinentes aos cultos solares da antiguidade – base de grande parcela das religiões conhecidas.
Essa explicação, embora condensada, está no fato de que o planeta Terra além de girar em torno do seu próprio eixo em um ciclo diário e noturno totalizando vinte e quatro horas (rotação), também o Planeta se desloca no espaço em uma trajetória elíptica (elipse) ao redor do Sol (translação), cuja viagem completa resulta no período conhecido por “ano” (arredondados trezentos e sessenta e cinco dias).
Em seu deslocamento elíptico ao redor do Sol, a Terra estará no seu trajeto mais, ou menos afastado do Sol o que implica no Planeta estar em periélio - o ponto de órbita com menor afastamento distando 147 milhões de quilômetros e em afélio – ponto de órbita com maior afastamento com 152 milhões de quilômetros de distância. Assim o afélio se opõe ao periélio, e vice-versa.
Como a Terra no seu trajeto elíptico em torno do Sol mantém uma inclinação constante em relação ao seu plano de órbita (norte-sul) de 23 graus e 27 minutos, o movimento faz com que as duas regiões terrenas divididas pela linha imaginária do equador e conhecidas como hemisférios (meias-esferas), recebam a incidência de mais, ou menos raios solares, ou ainda estes por igual conforme a localização na sua trajetória ao redor do Sol.
Pela não coincidência do plano de órbita com o plano do equador, do ponto de vista daquele que estiver situado na Terra, esse movimento simula a ilusão de como fosse o Sol a se movimentar em torno da Terra. O trajeto dessa revolução imaginária é conhecido como eclíptica, ou a passagem do astro pelo círculo máximo da esfera celeste – é a interseção da esfera com o plano de órbita. Assim os limites, ou pontos máximos dessas inclinações nesse movimento aparente, tanto no Norte, como no Sul, quando o Sol atinge a sua maior distância angular do equador cessando o seu afastamento, ocorrem os dois solstícios[1] que marcam o início do verão e do inverno conforme o hemisfério terreno – inverno no Norte, verão no Sul, ou vice-versa.
Por ocasião do solstício no ciclo, ou estação do verão, devido a maior incidência de raios solares, prevalecem assim dias mais longos e noites curtas na sua duração. Já no ciclo do inverno, devido a menor incidência de raios solares, prevalecem as noites mais longas e dias curtos na sua duração. Os solstícios destacam-se no clima terrestre principalmente pela ocorrência do frio no inverno e do calor no verão.
Por outro lado, no que concerne a esse mesmo movimento aparente do Sol na sua eclíptica em direção ao solstício, quando passa de um para o outro hemisfério cruzando o Equador, marca a ocorrência do início da primavera e do outono conforme o sentido da marcha aparente. Do Sul para o Norte – primavera no hemisfério Norte e outono no Sul. Do Norte para o Sul – primavera no hemisfério Sul e outono no hemisfério Norte. O momento em ocorrem essas passagens ilusórias do Sol de um para o outro hemisfério sobre o Equador é que acontecem os equinócios[2].
Nessa situação de projeção zenital (equinócio - que dista igualmente), tanto no outono quanto no inverno, a incidência é igual de raios solares sobre a Terra. Esse atributo faz então com que os dias e noites sejam iguais na sua duração.
Devido à inclinação do planeta Terra no seu eixo Norte-Sul, bem como o seu movimento em torno do Sol (revolução anual e ilusória do Sol) é que ocorrem os ciclos naturais, conhecidos como as estações do ano - a primavera, o verão, o outono e o inverno - opostos conforme o hemisfério (verão – inverno, outono – primavera).
Não obstante essa relação astronômica, tal condição climática também faria com que as civilizações primitivas já distinguissem as épocas frias e quentes levando-os a organizar o seu modo de subsistência no trabalho agrícola.
Sob a óptica do Sol como fonte de luz e calor ele seria proclamado como divindade soberana e daria o suporte principal para os cultos solares da antiguidade. Com indelével influência sobre quase todas as religiões e crenças da humanidade, o homem imaginou os solstícios como portas por onde o Sol entrava e saia ao terminar o seu trajeto aparente (trópicos de Câncer e Capricórnio).
Sob o ponto de vista da Terra, as épocas solsticiais desde então seriam marcas astronômicas idealizadas pelos alinhamentos com as constelações de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul, o que sugeria, sob a óptica do misticismo, inclusive, uma relação com deuses pagãos que, mais tarde e sob a influência da Igreja, seriam elementos substituídos por santos do cristianismo. É o caso, por exemplo, do deus Janus (palavra latina que significa porta), agregado ao panteão romano, cuja representação era de uma divindade bicéfala, com duas faces simétricas olhando uma para o passado e a outra para o futuro. De acordo com a posição do Sol na eclíptica, a alegoria insinuava filosoficamente que o futuro seria construído sobre a luz do passado; sugeria também que o passado um dia fora presente e futuro, assim como o futuro seria também um dia, presente e passado.
Com o advento da adoção do cristianismo para o Império Romano, por obra do imperador Constantino, essa relação solsticial com a divindade bicéfala pagã seria alterada, quando então foi substituído o deus Janus pelos santos cristãos João, o Baptista e João, o Evangelista, o que inclusive adequaria e acomodaria essa relação religiosa para o cristianismo. Nesse pormenor a identidade do solstício em Câncer (verão no hemisfério Norte e inverno no hemisfério Sul) por influência de Igreja Católica, ficaria relativo a São João Baptista (Esperança – daquele que previu a Luz), enquanto que o solstício em Capricórnio (inverno no hemisfério Norte e verão no hemisfério Sul) seria alusivo a São João Evangelista (Reconhecimento – daquele que pregou a Luz).
Cabe aqui uma recomendação importante: Ao se tratar desse apólogo religioso inerente aos solstícios e os santos mencionados, o mesmo estará sempre relacionado ao hemisfério Norte, por extensão isso também ocorre com esse simbolismo no que concerne à Maçonaria. Como o caráter é simbólico todas as referências inerentes aos ciclos da primavera, do verão, do outono e do inverno sempre aludem ao Norte do planeta Terra.
Ainda no que concerne a relação entre o simbolismo solsticial, o cristão e a própria Maçonaria que também adota os mesmos padroeiros, muito embora a Maçonaria não seja uma religião, essa alegoria relativa aos dois solstícios, em última análise, salienta a evidente relação com o deus bicéfalo romano Janus (que tem duas cabeças) às duas transições solsticiais do verão e do inverno na banda setentrional da Terra.
O solstício de verão (junho) ficaria então relacionado a João, o Baptista como aquele que anunciou a vinda da Luz (Jesus, considerado como a Luz do Mundo), enquanto que o solstício de inverno (dezembro) concernente a João, o Evangelista, ficaria relacionado àquele que difundiu a palavra de Jesus (a Luz do Mundo).
Na concepção cristã João Baptista anunciou no verão a Esperança por intermédio da vinda de Jesus que nasceria em pleno inverno como que fazendo renascer, ou voltar novamente a Luz (Natalis Invicti Solis), enquanto que João, o Evangelista pelo Reconhecimento à Luz, passou a difundir a “boa nova” (evangelho – do grego euangélion, pelo latim evangeliu). Nota-se aqui mais uma vez a evidente relação com os cultos solares da antiguidade no hemisfério boreal.
Essa importante representação alegórica igualmente ganharia corpo pela própria semelhança entre os nomes do deus pagão Janus e Joannes (João). A palavra João, em hebraico Iheho-hannam, significa a “graça de Deus” e essa semelhança viria inclusive acomodar a situação pela exclusão e substituição do deus pagão que se chocava com as tradições do cristianismo. Desse modo João Batista e o Evangelista passariam a se associar com as datas solsticiais (junho e dezembro).
Não menos importante também é a relação simbólica configurada na constelação de Câncer lembrada pelo saudoso Irmão José Castellani in “Porque São João, Nosso Padroeiro”: “Suas duas estrelas principais (da constelação de Câncer) tomam o nome de Aselos (do latim Asellus, i = diminutivo de Asinus, ou seja: jumento, burrico). Na tradição hebraica, as duas estrelas são chamadas de Haiot Nakodish, ou seja, animais de santidade, designados pelas duas primeiras letras do alfabeto hebraico, Aleph e Beth, correspondentes ao asno e ao boi. Diante delas há um pequeno conglomerado de estrelas, denominado, em latim, Praesepe, que significa presépio, estrebaria, curral, manjedoura, e que, em francês, é “creche”, também com o significado de presépio, manjedoura, berço. Essa palavra, creche já foi, inclusive, incorporada a idiomas latinos, com o significado de local onde crianças novas são acolhidas, temporariamente”.
Note-se então que a previsão alegórica do nascimento de Jesus em uma manjedoura e outras particularidades inerentes teve origem interpretativa nessa observação mística relativa à constelação de Câncer (junho, solstício de verão no hemisfério Norte) e consignada no outro alinhamento com a constelação de Capricórnio (dezembro, solstício de inverno no hemisfério Norte).
Não obstante ao sentido dessa exegese, vale também a pena mencionar a relação dela com os cultos solares da antiguidade que mais uma vez se evidenciaria e passaria, dentre outros, a influenciar na fixação pela Igreja da data do nascimento de Jesus para a noite de 24 para 25 de dezembro, a mais longa do ano no Norte, e que alude ao solstício relativo à volta do Sol no mitraísmo persa (INRI - Igne Natura Renovatur Integra – o Fogo Renova a Natureza Inteira) e propagada pelo mitraísmo romano na concepção do Nascimento do Sol Triunfante, ou Invicto (Natalis Invicti Solis). Por ocasião dessa longa e fria noite de inverno (no Norte) os homens acendiam fogueiras e faziam oferendas e preces evocando a volta da Luz. Assim o Cristianismo, valendo-se dessa alegoria solsticial fixaria o Natal (nascimento de Jesus) identificando à volta do Sol a partir de Capricórnio para o Norte como a Luz do Mundo, cujo nascimento fora previsto (anunciado em Câncer – verão). Essa associação daria então a João, o Baptista o rótulo daquele que anunciou a vinda da Luz, cuja data comemorativa se fixaria em 24 de junho, bem próxima do solstício de verão no hemisfério Norte que ocorre em 21 de junho - o Sol alinhado com Câncer. Assim também se daria cooptação com João, o Evangelista em 27 de dezembro, cuja data praticamente está conexa ao Natal e ao solstício de inverno no hemisfério Norte que se dá em 21 de dezembro – o Sol alinhado com Capricórnio. Ao Evangelista seria titulado o desígnio daquele que pregou a Luz (a doutrina de Cristo).

São João e a Maçonaria – Antes das considerações propriamente ditas, fica aqui o alerta sobre alguns pontos no tema que não podem ser confundidos:
a) Na matéria há que se vislumbrar que o patrono, ou patronos (São João) se referem à Maçonaria em geral, e não dela apenas a um rito ou costume em particular.
b) Como ritos maçônicos, alguns deles possuem o seu próprio patrono, todavia estes nunca se confundem com os padroeiros gerais da Maçonaria.
c) Ainda existem os protetores regionais da Maçonaria. É o caso, por exemplo, da inglesa e São Jorge (padroeiro da Inglaterra – 23 de abril). Entretanto este não pode ser confundido com as comemorações maçônicas solsticiais relativas a João, o Baptista e João Evangelista.
e) A Maçonaria é oriunda dos canteiros medievais e traz consigo uma forte influência da Igreja. Como atividade profissional à época ela comemora até os dias atuais, ainda que de modo especulativo, as festas solsticiais.

Primitivamente (com aproximadamente 800 anos de história) a Maçonaria era operativa (profissional) e não possuía ritos nem graus. Constituída de maçons livres (nas Lojas livres), muitos desses grupos profissionais, além dos santos relativos às datas solsticiais, também não raras vezes rendiam particularmente preito a outro santo protetor, inclusive a uma santa.
Conforme costume haurido dessas organizações profissionais do passado - Associações Monásticas, Confrarias Leigas e da antiga Francomaçonaria (base da Maçonaria) – e com inegável tempero da Igreja, a prática comemorativa solsticial alcançaria posteriormente a Maçonaria Especulativa e por extensão inclusive a Moderna Maçonaria (primeiro sistema obediencial fundado 1.717).
Isso se explica porque mesmo não sendo a Maçonaria considerada como uma religião, ela foi historicamente criada à sombra de Igreja Católica medieval e dela arregimentou assim uma forte influência que dava ao trabalho, bem como aos seus membros e respectiva profissão, um amoedo religioso.
Em resumo e para aplicação de uma salutar geometria a Maçonaria precisa de uma vez por todas ser despida de ilações fantasistas e equivocada que ainda forçam subsistência como aquelas que a tratam como fosse ela uma Instituição milenar. Ora, essas concepções anacrônicas não cabem mais em pleno século XXI.
Autenticamente a Maçonaria veio a nascer à sombra da Igreja nos Canteiros[3] da Idade Média, portanto não seria novidade nenhuma que sob essa influência a Maçonaria, construtora de igrejas e catedrais, viesse também possuir um patrono religioso.
Assim, essas associações profissionais geralmente se agrupavam em reunião nos solstícios de verão e de inverno, cujas reuniões, além de comemorativas ao padroeiro solsticial, também alcançavam a finalidade de rever os planos das obras, discutir novos contratos, avaliar as atividades econômicas e profissionais e promover ingresso de novos artífices na “Arte de Construir” (iniciar).
Essa relação do Ofício com o verão e com o inverno implicava antes de tudo num aspecto prático e literal da construção, já que no rigor do inverno setentrional pouco se produzia na arte de cortar a pedra calcária, bem como a de com ela se edificar. Efetivamente os trabalhos praticamente permaneciam paralisados na estação hibernal.
Com o final do inverno e o início da primavera – o rigor do clima mais ameno - os trabalhos no canteiro (hoje as Lojas especulativas) retomavam as suas atividades com força e vigor. Assim os labores do ofício iriam atingir o seu auge no verão (dias longos e noites curtas), voltariam a declinar no outono e seriam novamente paralisados no inverno (dias curtos e noites longas).
Vale então a pena mais uma vez salientar que todas as referências feitas às estações do ano (ciclos naturais) nesse arrazoado, se relacionam indistintamente àquelas que ocorrem no hemisfério Norte do nosso Planeta (berço da Maçonaria).
Como as datas solsticiais sucedem nos dias 21 de junho e 21 de dezembro, isto é, muito próximas das datas religiosas comemorativas a João, o Baptista em 24 de junho e João, o Evangelista em 27 de dezembro, as mesmas acabariam por se confundir. Isso pode ser perfeitamente observado tomando-se por base a fundação em 1.717 da Primeira Grande Loja em Londres em 24 de junho, dia de São João Baptista (princípio da Moderna Maçonaria[4] – primeiro sistema obediencial). Do mesmo modo também se pode observar nos dias atuais onde a maioria das Obediências tem ainda o costume de dar posse aos Grão-Mestres e Veneráveis das Lojas no dia comemorativo a São João no mês de junho.
Nesse sentido a Moderna Maçonaria como fiel guardiã da tradição usos e costumes da Ordem mantém a alegoria dos solstícios nos seus arcabouços doutrinários, costume esse adquirido desde os primeiros grupos profissionais, cujas representações simbólicas, independente dos contemporâneos Ritos e Trabalhos praticados, se apresentam nos Templos maçônicos.
É o caso do conjunto simbólico composto pelo o Círculo e as Paralelas Tangenciais Verticais, cuja alegoria sugere que o Sol (círculo) não transpõe os trópicos (Câncer e Capricórnio - as paralelas representam João Baptista e Evangelista).
Ainda outros símbolos inerentes: o das Colunas Solsticiais B e J que simbolizam, por exemplo, no Rito Escocês, a passagem dos referidos Trópicos e entre as quais o Equador do Templo; também no Rito Escocês as constelações do Zodíaco que marcam simbolicamente a eclíptica do Sol e as estações do ano, por conseguinte os solstícios e os equinócios; ainda no arcabouço doutrinário maçônico de vertente francesa a Marcha do Mestre exprime a curso aparente do Sol de um para outro hemisfério, etc.
Vale a pena também mencionar que no puro e verdadeiro Rito Escocês o Grau de Aprendiz é aberto com a leitura do Livro da Lei em São João, cap. 1, vs. 1-5 – implica na prevalência da Luz sobre as trevas como mote doutrinário do Grau.
No tocante às tradições, usos e costumes da Maçonaria, as Iniciações operativas (embora muito diferente das que hoje conhecemos) ocorriam nas reuniões semestrais (solsticiais). Naquela oportunidade em muitas associações profissionais o “Aprendiz Admitido” pousava a mão direita sobre o Evangelho de São João para prestar a sua obrigação. Esse costume era assim praticado porque as datas iniciáticas coincidiam com aquelas relativas aos santos protetores – a Igreja ditava as regras.
Como à época não existia ainda a imprensa[5] e a Bíblia era propriedade apenas da Igreja, cujo texto era compilado à mão em papel grosseiro (de gramatura alta) e resultava em um volume da Bíblia imenso, pesado e incomodo para o transporte e manuseio. Devido a esse particular o Iniciando prestava simbolicamente a sua obrigação pousando a mão direita apenas sobre o Evangelho de São João, que era geralmente reduzido e adequado para a ocasião à sua primeira página.

Assim se explica o hábito, segundo a maioria dos Ritos, do notório uso do título distintivo - as Lojas de São João, cujos trabalhos são abertos “À Gloria do G\A\D\U\ e em Honra a São João nosso Padroeiro”, ou ainda: “Uma Loja de São João, Justa, Perfeita e Regular”.
Obviamente como a questão envolve os dois solstícios, englobam-se como patronos também os dois São João, o Batista e o Evangelista. Até porque como a Maçonaria é uma Obra de Luz, nada mais oportuno do que celebrá-la simbolicamente (sem conotação religiosa) através daquele que previu a Luz e também daquele que propagou a Luz.
Nesse sentido, em se tratando dos padroeiros maçônicos cujo nome é João, muitos equivocadamente ainda teimam em propagar o nome de outros S. João, a exemplo do Esmoler (também conhecido como Hospitalário ou de Jerusalém) que não tem qualquer relação com a Maçonaria Operativa. Pior ainda foi a invenção do tal “da S. João da Escócia” que nem mesmo existe no hagiológio da Igreja.
Alguns equivocadamente ainda associam um santo padroeiro inerente a um Rito em particular e querem generalizá-lo como patrono de toda a Maçonaria. Daí a razão dessa propagação desmedida que tem causado muitas dúvidas para o entendimento de muitos outros.
Aliás, é oportuno salientar que a tal “generalização” tem sido uma verdadeira erva daninha na prática e interpretação maçônica, geralmente adubada pelos incautos que ao se referirem a um Rito específico o imaginam como se fosse ele o único representante de toda a Maçonaria. Inquestionavelmente esse despautério não condiz com a Verdade, já que os Ritos e os Trabalhos do Craft são partes integrantes da Maçonaria. Embora a sua espinha dorsal seja única, cada Rito ou Trabalho (costume) possui a sua particularidade geralmente oriunda da sua doutrina, da sua cultura e da sua vertente maçônica (inglesa ou francesa). A Maçonaria Simbólica Universal é única, porém composta por vários Ritos e Trabalhos do Craft.
A chave da compreensão está no conhecimento e pratica da história autêntica da Sublime Instituição - acadêmica por excelência. Antes de se mencionar opiniões de achistas e crédulos em escritos comprometidos (água contaminada), quando não repletos de opiniões ocultistas hauridas de crenças pessoais, melhor seria primeiro atender a virtude da prudência na observação dos fatos.
Retomando o assunto inerente ao mote desse arrazoado e por tudo o que até aqui fora sobre ele foi mencionado é que a Maçonaria desde o seu período operativo vem se servindo da relação Homem-Natureza, cujo palco alegórico de outrora era o canteiro da obra. Atualmente essa analogia está na topografia e na decoração dos templos maçônicos, bem como nas doutrinas específicas dos Ritos e Trabalhos da Moderna Maçonaria Simbólica, sejam eles de conceito deísta ou teísta.
Concluindo: por razões óbvias, despido de qualquer relação com uma religião ou dogma específico, o padroado da Maçonaria Universal (não de um rito específico), considerada a característica especulativa da Instituição como “Obra de Luz” sugerem como patronos os dois personagens ligados simbolicamente à Luz - João, o Baptista e João, o Evangelista.


                                                                               PEDRO JUK
                                                                         jukirm@hotmail.com


                         Morretes, Paraná, AGOSTO/2.014.




BIBLIOGRAFIA AUXILIAR.

SPOLADORE, Hercule – Santos Padroeiros da Maçonaria, Diário JB NEWS nº 1.412, Florianópolis, SC, 2.014.
CASTELLANI, José – Artigo intitulado Porque São João, “Nosso Padroeiro”, www.lojasmaconicas.com.br, São Paulo, Capital, 2.001.
CASTELLANI, José – Maçonaria e Astrologia – Editora Landmark – São Paulo, 2.000.
CASTELLANI, José – As Origens Históricas da Mística Maçônica – Editora Landmark – São Paulo, 2004.
CARVALHO, Assis – Símbolos Maçônicos e Suas Origens – A Trolha – Londrina, 1.990.
CARR, Harry – Freemasons at Work – Lewis Masonic, 1.992.
HINBERG, Richard – Celebrando os Solstícios – Madras Editora Ltda. – São Paulo, 2.002.
CHARLIER, René Joseph – Pequeno Ensaio de Simbólica Maçônica – Edições Futuro – São Paulo, 1.964.
JUK, Pedro – Abóbada do Templo Maçônico - REAA - Coletânea 6, pg. 97 – Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.003.
JUK, Pedro – E o Topo da Coluna do Norte, Conclusões? – INBRAPEM, Volume 4, - Editora Maçônica A Trolha, Londrina, 2.007.
JUK, Pedro – Alegoria das Colunas Zodiacais – REAA, Anais do VII Simpósio, Academia Campinense Maçônica de Letras, Campinas, SP, 2.013.




[1] Solstício (Do latim Solstitiu). Substantivo masculino. Época em que o Sol passa pela sua maior declinação boreal ou austral, e durante a qual cessa de afastar-se do equador. Os solstícios situam-se, respectivamente, nos dias 22 ou 23 (na intenção de uniformização- dia 21) de junho para a maior declinação boreal, e nos dias 22 ou 23 (por critério de uniformização – dia 21) de dezembro para a maior declinação austral do Sol. No hemisfério norte, a primeira data se denomina solstício de verão e a segunda, solstício de inverno; e, como as estações são opostas nos dois hemisférios, essas denominações invertem-se no hemisfério sul.
[2] Equinócio (Do latim Aequinoctiu). Substantivo masculino. 1. Ponto da órbita da Terra em que se registra igual duração do dia e da noite, o que sucede nos dias 21 de março e 23 de setembro (convencionado para o dia 21). 2. Qualquer das duas interseções do círculo da eclíptica com o círculo do equador celeste: equinócio da primavera, ou ponto vernal, e equinócio do outono, ou ponto de Libra. 3. Instante em que o Sol, no seu movimento anual aparente, corta o equador celeste.

[3] Canteiros - antigos construtores medievais de igrejas e catedrais, corporações formadas sob a influência da Igreja na Idade Média.
[4] Moderna Maçonaria – composta pela Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos, cuja marca inicial se deu com o advento da fundação Primeira Grande Loja em Londres pelas Lojas da Taberna do Ganso e a Grelha, do Copázio e as Uvas, da Coroa e da Macieira. Naquela oportunidade era então criado o primeiro sistema obediencial do mundo maçônico. Não se deve confundir o fato como princípio da Maçonaria Especulativa, já que esta se deu documentalmente em 1.600 na Escócia com a admissão do latifundiário John Boswel na Loja Capela de Maria (Chapel’s Mary Lodge).
[5] Imprensa - Johannes Guttenberg em 1.440 desenvolve a tecnologia da prensa móvel, utilizando os tipos móveis - caracteres avulsos gravados em blocos de madeira ou chumbo, que eram arrumados numa tábua para formar palavras e frases do texto para impressão.

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