quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

REAA - INSTRUTOR DOS APRENDIZES E COMPANHEIROS

Em 11/12/2024 o Respeitável Irmão Robinson M. de Almeida Barreto, Secretário Geral Adjunto para o REAA, GODF, GOB, Oriente de Brasília, Distrito Federal, me encaminha a seguinte questão:

 

INSTRUTOR DOS APRENDIZES E COMPANHEIROS

 

Durante uma palestra na Loja Abrigo da Virtude me foi perguntado: "Porque o 1° Vig é quem dá as instruções para os CComp.: e o 2° Vig para os AApr?" e completou: "pois se na iniciação é o 1° Vig.: quem ensina trabalhar na Pedra Bruta é vice versa".


CONSIDERAÇÕES.

 

Vale ressaltar que no REAA o que define quem é o instrutor dos AApr e CComp não é o lugar em que se encontra o Vigilante na Loja.

No GOB, desde o ritual anterior, o de 2009, e agora o de 2024, quem instrui os AApr é o 2º Vig e o os CComp, o 1º Vig.

            Tanto sob o ponto de vista histórico e iniciático, assim como o hierárquico, este procedimento está rigorosamente correto. Em síntese, não é necessário que os AApr e os CComp ocupem a mesma coluna do seu instrutor.

Na verdade, o fato de o 2º Vig ser o instrutor dos AApr, e o 1º Vig dos Companheiros, é só uma questão de hierarquia, tal como acontecia nos tempos da Maçonaria primitiva, ou de Ofício.

Nas guildas de construtores da Idade Média, ancestrais da Franco-maçonaria, quando havia admissão de um novo membro, era o 2º Vigilante (2º Warden) quem primeiro recebia postulante.

Nas corporações de ofício de pedreiros dos séculos XI e XII, não existiam ritos, rituais e nem templos maçônicos. Também não existia todo este aparato simbólico que hoje conhecemos na Moderna Maçonaria.

Nos tempos do Ofício, as Lojas eram formadas exclusivamente por profissionais da cantaria, os quais se dedicavam literalmente, à serviço do clero, à construção de igrejas, mosteiros, abadias e catedrais.

Naquela época, para se fazer um novo maçom (primitivamente os maçons eram feitos, e não iniciados), o postulante geralmente era recebido pelo seu guia, o 2º Vig, em um espaço rude e discreto, dentro do próprio alojamento do canteiro de obras.

A este alojamento dava-se o nome de Loja. Como um espaço contíguo à construção, ele servia para abrigar os operários e era também o almoxarifado onde se guardavam os utensílios, ferramentas e materiais.

Em um lugar discreto, o 2º Vig instruía o candidato colocando-o ao par dos primeiros fundamentos da profissão, seus direitos e as suas obrigações. Também o instruía sobre o juramento (obrigação) que ele teria que prestar diante do Mestre da Loja para ser admitido como Aprendiz.

Geralmente as admissões de novos membros ocorriam em dias próximos aos solstícios. As obrigações (juramentos) eram tomadas sobre o Evangelho de São João.

Depois de ter ouvido a preleção inicial ministrada pelo 2º Vig, o candidato era levado ao lado Norte da sala para receber do 1º Vig uma oração em seu favor. Logo a seguir era levado até o Mestre da Loja, no Leste da sala, onde deveria prestar o seu juramento e ser constituído Apr Maçom.

O Mestre da Loja então vestia o avental de ofício no novo Apr, entregava-lhe um par de luvas e finalizava dando-lhe boas-vindas.

Ato seguido, o 2º Vig, entregava ao Apr as ferramentas trabalho e o conduzia até o canteiro de obras, onde ele aprendia a praticar o seu primeiro trabalho.

Como instrutor do Apr, o 2º Vig o acompanharia pelas jornadas de trabalho na guilda, instruindo-o nos próximos três anos.

Esta é uma síntese de como era feito (iniciado) um Apr do Ofício nos tempos da Maçonaria Operativa, em especial, revelando quem era, de fato, o seu instrutor no canteiro de obras.

A guisa de esclarecimento, vale lembrar que nos tempos primitivos a Maçonaria era exclusivamente operativa. As Lojas eram oficinas de trabalho onde artesãos profissionais desenvolviam o seu ofício, no caso, o de cantaria.

Na Maçonaria daquela época, somente existiam duas classes de trabalhadores, a dos AApr Admitidos e a dos CComp do Ofício. O dirigente dos trabalhos era um CComp escolhido dentre os mais experientes. O cargo de Mestre da Loja, ou da Obra, ancestral do atual Ven Mestre, não era um grau especulativo como o que hoje conhecemos.

Na Moderna Maçonaria, a título de ilustração, o Grau de Mestre Maçom especulativo somente apareceu oficialmente em 1738, na segunda Constituição inglesa.

Em relação ao Comp e o seu instrutor, é mencionado que o Apr, depois ter cumprido seus três anos de trabalho e aprendizado, podia pedir aumento de salário ao 2º Vig.

Se julgado capaz pelo seu instrutor, o Apr era recomendado ao 1º Vig que o recebia e o admitia como Comp Maçom. Doravante, como instrutor do Comp, o 1º Vig então passaria os próximos dois anos o instruindo.

Assim, três anos de aprendizado como Apr, mais dois anos de aperfeiçoamento como Comp totalizavam cinco anos de aprimoramento profissional.

Para pagar ao Mestre da Loja as despesas advindas de subsistência durante a sua formação profissional, o Comp, além dos cinco anos, ainda tinha que trabalhar na Loja por mais dois anos, e às vezes, até mais.

Só depois de saldados todos os débitos é que o Comp Maçom poderia requerer a carta (alvará) que lhe proporcionaria o direito de constituir a sua própria Loja e fechar novos contratos.

Por este relato é possível se observar que era o 1º Vig quem instruía os Comp, enquanto ele pertencesse àquela corporação de ofício.

 

COMENTÁRIOS FINAIS:

 

Com o advento da Maçonaria Especulativa, ou dos Aceitos (século XV), e finalmente da Moderna Maçonaria (século XVIII), muitos destes costumes profissionais acabariam dando suporte à construção doutrinária dos ritos maçônicos, cada qual com as suas particularidades regionais.

Neste contexto, o REAA, rememorando costumes primitivos herdados dos Antigos nos seus rituais, preservou a mesma hierarquia de direção dos trabalhos que ocorria nas velhas lojas medievais.

Esta é razão e o porquê de ser o 2º Vig o instrutor dos AApr e o 1º Vig∴, o dos CComp

No REAA, por razões iniciáticas associadas à Pedra Bruta como elemento tosco e primário, é que os AApr ocupam o topo da Coluna do Norte, e os CComp, associados à Pedra Cúbica, como elemento desbastado, polido e sem arestas, ocupam o topo da Coluna do Sul.

Esta concepção iniciática não quer dizer que cada um dos Vigilantes, como instrutores, necessariamente precisem ocupar a mesma coluna em que se sentam os seus instruídos.

Como já foi aqui explicado, a questão dos instrutores é de caráter hierárquico, enquanto que a questão das joias fixas (Pedra Bruta e Cúbica) é de caráter iniciático – AApr, que ocupam o Norte por ser menos iluminado, recebem instrução do 2º Vig (aquele que é o terceiro malhete na hierarquia dos dirigentes da Loja); CComp, que ocupam o Sul, mais iluminado, recebem instrução do 1º Vigilante (aquele que é o segundo malhete na hierarquia dos dirigentes da Loja).

À vista disso é que no GOB, o Ritual de Aprendiz do REAA, edição 2024, páginas 18 e 19, menciona ser de responsabilidade do 2º Vig, do Sul, instruir os AApr ao Norte, e do 1º Vig, do Norte, instruir os CComp ao Sul.

Quanto ao primeiro trabalho na Pedra Bruta, no mesmo ritual, dele à página 166, vale a pena observar que o 1º Vig apenas observa o trabalho, mas não ensina.

Quem, por ordem do Ven Mestre, de fato ensina ao novo Apr o seu primeiro trabalho na Pedra Bruta é o M de CCer, guia do iniciado e também ocupante da Col do Sul, a mesma do 2º Vig.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK – SGOR/GOB

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

DEZ/2024

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