domingo, 12 de janeiro de 2025

RAMO MAIOR E MENOR DO ESQUADRO

Em 11/01/2024 o Respeitável Irmão Igor Batista, Loja Mestre Antônio Calado, 20, REAA, GOBA (COMAB), Oriente de Salvador, Estado da Bahia, apresenta a seguinte questão:

 

ESQUADRO

 

Por vezes, tenho ocupado o cargo ad hoc de M de CCer na minha Loja e até em outras que visito com mais frequência e tem me ocorrido uma dúvida, com relação ao lado em que a parte maior do Esquadro deve ser colocado sobre o Compasso. Em algumas destas Lojas tem-se o hábito do V M solicitar do M CCer o fechamento do L D L para o período de instrução. Quando o esquadro da Loja tem lados de tamanhos iguais não há polêmica. Porém, quando são diferentes, eis a questão... Neste caso, já ouvi de um irmão dos graus superiores do REAA que o lado para o qual a ponta maior do esquadro deve ficar voltado é para a esquerda, ou seja voltado para a Col do Norte, porém, completou o irmão, que a explicação disso é oculta para os graus simbólicos e só é revelado no Grau 19 do REAA. Portanto gostaria de saber se há uma explicação esotérica para esta questão apenas nos graus superiores?

 

CONSIDERAÇÕES

 

Em primeiro lugar é bom que se diga que o ritual aprovado e vigente na Obediência, mesmo que contraditório, deve ser inquestionavelmente seguido.

Sob essa óptica, meus comentários que se seguem direcionam-se apenas àquilo que é mais racional e provável sobre o assunto no Rito em questão.

                Sobre serem os seus ramos, iguais ou desiguais, o Esq, que só se apresenta unido ao Comp sobre o Livro da Lei em Loja, é um objeto emblemático. À vista disso, ele não é uma ferramenta operativa utilizada no ofício. Como um utensílio emblemático, possui ramos exatamente iguais, justamente pela inexistência de um cabo para ser manuseado (ramo menor). Também é dispensável qualquer graduação sobre ele.

Como um objeto componente das Três Grandes Luzes Emblemáticas, este Esq simboliza a retidão. Esotericamente representa o estado material do ser humano. Nesse sentido, é o ângulo de 90º, que o caracteriza, que tem um grande significado simbólico na Maçonaria. Ser o seu ramo, maior ou menor, não importa nesta conjuntura.

Já o Esq utilizado como joia pelo Venerável Mestre, deferente do Emblemático, é um utensílio de trabalho, portanto é operativo. É uma ferramenta haurida dos tempos da Maçonaria de Ofício e, dentre outros, lembra os profissionais da cantaria, nossos antepassados, que o utilizavam para conferir o esquadrejamento das pedras e os cantos das construções.

Deste modo, este Esqoperativo, diferente do emblemático, possui ramos desiguais, isto é, um ramo menor como cabo da ferramenta, e um maior, com graduação, próprio para atender ao trabalho.

Este Esq profissional, com ramos desiguais, também representa a 47ª Proposição de Euclides (Teorema de Pitágoras), no qual as propriedades de um Triângulo Retângulo eram - e ainda são - amplamente utilizadas na verificação dos cantos das obras e no esquadrejamento de suas paredes.

Vale lembrar que nos tempos operativos da Maçonaria, a pedra angular era colocada no canto nordeste e servia de base (vértice) para os demais cantos levantados na obra. Graças a isto é que no CRAFT o Past-Master tem como sua joia distintiva um pingente, apenso do colar, que simboliza a 47ª proposição de Euclides.

O Venerável Mestre especulativo, remanescente do Mestre de Obras operativo, usa pendente do seu colar um Esq com ramos desiguais que é a joia do seu cargo, o que de certa forma rememora a aplicação deste importante utensílio de ofício. No REAA o Ven Mestre usa um Esq operativo de cor dourada.

Feitos estes comentários, reafirma-se que o Esq Emblemático (sobre o Livro da Lei) deve possuir rigorosamente ramos iguais, e o Esq Operativo (joia do Venerável) deve possuir ramos desiguais. Mediante a isso, seria redundante qualquer comentário no sentido de se saber para qual lado este ou aquele ramo deve apontar. Afinal, ambos são iguais.

Não resta dúvida que é possível se encontrar centenas de ilustrações onde o Esq aparece com ramos iguais, e outras com os ramos desiguais. Deste modo, isso não se caracteriza como uma fonte de credibilidade para esta ou aquela opinião. Também, muitos rituais antigos e anacrônicos não servem para estabelecer verdades. Assim, antes é preciso compreender, sem o subterfúgio de fantasias, a verdadeira mensagem que símbolo propõe, tanto no seu conteúdo literal, assim como no sentido figurado.

Vale lembrar que nesse contexto os  periféricos dos relatados pela história verdadeira devem ser levados em consideração.

Apenas como ilustração, vale mencionar que o GOB revisou recentemente os seus rituais do REAA e neles contemplou a diferença entre os EEsq; o de ramos desiguais (com cabo), como a joia do Ven Mestre, o de ramos iguais (sem cabo), como o Emblemático ou o que se junta ao Comp sobre o Livro da Lei.

No que diz respeito às explicações de que o simbolismo depende de graus superiores, eu prefiro não me manifestar, até porque, no meu entendimento, existem inverdades. Para tal, basta se observar que os graus simbólicos (das Lojas de São João), oriundos de paulatina transição operativo/especulativo, historicamente são anteriores aos graus ditos superiores.

Do século XVII até o segundo quartel do século XVIII, o simbolismo possuía apenas e tão somente dois graus, o de Aprendiz Admitido e o de Companheiro do Ofício. O Venerável Mestre era um Companheiro Maçom experimentado, então instalado na “Cadeira da Loja”, não obstante o grau especulativo de Mestre Maçom ter sido somente oficializado pela segunda Constituição Inglesa, em 1738. A Maçonaria Simbólica, independente de Corpos Filosóficos e constituída pelos três primeiros graus, simbólicos e universais, dos quais o 3º deles é a plenitude maçônica, nada deve a qualquer grau superior, muito menos se dizer que “explicações para o simbolismo” sobre os ramos de Esq, se encontram nos Graus Filosóficos.

Ainda, antes de finalizar, eu gostaria de lembrar que no simbolismo consagrado do REAA, durante o período do Tempo de Estudos não existe a prática de se fechar o Livro da Lei. Ora, se o período está previsto no Ritual, é porque ele é parte integrante da sua liturgia. Assim, se o Livro da Lei foi aberto no início dos trabalhos, ele apenas será fechado no encerramento dos mesmos. Reitera-se: no REAA não existe suspensão temporária dos trabalhos para se ministrar instruções, assim como também não existem recreações e outros afins desse gênero previstos.

Por fim, ao concluir vale destacar que rituais de muitas Obediências adotam, às vezes, práticas inexistentes em um determinado rito. Operam com a prática do que vulgarmente chamamos de enxerto, o que de fato é lamentável, pois isto descaracteriza a estrutura autêntica de um rito. Mas, mesmo assim, antes de mais nada, é preciso respeitar o ritual vigente, o que não impede, entretanto, que dentro da lei, hajam debates que objetivem as devidas correções.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

JAN/2024

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