quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

SIGNIFICADO DA ACLAMAÇÃO H. H. H. NO REAA

Em 13.06.2022 o Respeitável Irmão Acácio Siqueira, Loja Rio Pardo, 242, REAA, Grande Oriente Paulista (COMAB), Oriente de Santa Rosa de Viterbo, Estado de São Paulo, faz a seguinte pergunta:


ACLAMAÇÃO H. H. H.

 

Dentre as tantas diferenças, enxertos e idiossincrasias que acometem o REAA o Brasil, para algumas encontra-se justificativa, para outras não... E ainda bem que temos valorosos Irmãos que se preocupam em apontar e corrigir, ou, pelo menos, entender estes “erros”.

Desde de pouco tempo após minha Iniciação, me causou curiosidade o procedimento ritualístico adotado no REAA, na potência a que sou filiado, de estender o braço direito durante a aclamação do Rito. Como este procedimento não é visto nos rituais de outras vertentes maçônicas brasileiras, procurei entende-lo. 

Confesso que nada encontrei que acalmasse minha curiosidade, apenas textos medíocres, recheados de achismos e crendices. Assim recorro ao Irmão, mais uma vez, para me ajudar (dei uma vasculhada nos textos em seu blog e não encontrei nada neste sentido; se minha busca foi falha, me indique o texto a ser lido).

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Acredito que se as potestades maçônicas, autoras dessas barbaridades falaciosas, tal como a mencionada na sua questão, procurassem estudar e se despir de crendices e achismos, certamente a agressão à ritualística original do REAA seria bem menor, digamos, até aceitável.

Essa de se estender o braço direito à frente durante a aclamação no REAA, além de ser improcedente é, como diria Eça de Queirós, mesmo d’escrachar!

                    Na verdade, essa é uma aclamação feita ao Sol haurida dos Cultos Solares da Antiguidade e foi inserido no REAA por conta da Loja Geral Escocesa (Loja Mãe), esta então criada para na oportunidade gerenciar e planejar o primeiro ritual para o simbolismo do rito que, por circunstâncias históricas, ainda não possuía rituais próprios para os seus trê primeiros graus, ou o franco-maçônico básico universal. Desse modo, no início da caminhada do escocesismo eram utilizados, ainda nos EE. UU. da América do Norte, rituais das Lojas Azuis Norte-americanas, conhecidos também hoje em dia como York americano.

Ocorre que quando o rito retornou à Europa, mais precisamente para a França no ano de 1804, foi necessária então a criação de rituais para o simbolismo do REAA, já que o objetivo era o de expandir o rito pela Europa.

O 1º Ritual (1804) - As três fontes principais para elaboração desse primeiro ritual foram a exposure (revelação) relativa aos “Antigos” irlandeses de 1751 denominada The Three Distinct Knocks (As Três Pancadas Distintas), o Régulateur du Maçon (Regulador do Maçom) do Grande Oriente da França datado de 1801, e as contribuições oriundas da Loja Geral Escocesa de Paris datadas de 1804.

No tocante às contribuições da Loja Geral Escocesa podemos citar as Colunas Vestibulares B e J dispostas de acordo com os Antigos (B à esquerda e J à direita de quem entra); a abóbada decorada, nela se destacando na sua base os símbolos das 12 constelações do Zodíaco (daria origem mais tarde às Colunas Zodiacais); a cor encarnada (vermelha) em alusão ao stuartismo (catolicismo) e, por fim, a aclamação ternária H, H, H, sendo essa última contribuição o mote desse pequeno arrazoado.

Dados os comentários iniciais, vamos então ao objeto principal desses comentários – o significado da aclamação H na liturgia do REAA.

Conforme mencionam bons tratadistas, a exemplo de Theobaldo Varolli Filho, José Castellani, Francisco de Assis Carvalho (Xico Trolha), Alec Mellor, dentre outros, o vocábulo H é uma corruptela da palavra Uêzza que era utilizada pelos árabes, mais particularmente pelos drusos, quando, no solstício de inverno do Hemisfério Norte, saudavam a volta do Sol.

Assim, na noite de 21 de dezembro, quando o solstício hibernal produz a noite mais longa do ano no setentrião, eram naquela oportunidade acesas fogueiras, enquanto que munidos de ramos floridos de acácia os drusos saudavam o retorno do astro rei novamente para a meia-esfera Norte do Planeta.

Uma particularidade esse misticismo é a de que a acácia, por possuir pequenas flores amarelas feito pequenos sóis, era então utilizada nessa saudação – os drusos saudavam o Sol ao amanhecer do solstício chacoalhando os ramos floridos.

Graças a isso, autores desatentos acabariam inventando que a palavra H significa acácia, contudo, essa é uma afirmativa temerária, até porque H, como corruptela de Uêzza, é uma aclamação árabe feita ao Sol e não a simples tradução da palavra acácia.

Nesse mesmo raciocínio, podemos citar como outro exemplo dessa corruptela a aclamação “hip hurra!”, bastante utilizada pelos ingleses e muito provavelmente derivada da expressão árabe uêzza. Vale lembrar que os ingleses por muito tempo se estabeleceram nas regiões da Arábia.

Só para ilustrar, mais tarde, com o advento do Islamismo, Maomé proibiu essa saudação solar.

Dito isso, em Maçonaria a aclamação H, H, H ocorre por três vezes porque o número 3 corresponde a unidade ternária (o primeiro plano), conceito que tem alto significado simbólico para o Iniciado.

Exegese da aclamação H no REAA - Por ser um rito solar essa aclamação solsticial também menciona uma saudação diária ao Sol (sabedoria, conhecimento).

No contexto ritualístico do Aprendiz e do Companheiro essa aclamação trinária ocorre por primeiro ao meio-dia, isto é, quando o Sol está pino, ou na plenitude diária da sua Luz. Esse misticismo indica que o momento é propício para o início dos trabalhos porque exalta-se a igualdade onde ninguém faz sombra a ninguém. A segunda vez a aclamação se dá no encerramento dos trabalhos, simbolicamente à meia-noite. Por mais paradoxal que possa aparentar, nesse momento a aclamação trinária evoca a volta da Luz, pois quanto mais escura é a madrugada, mais perto está o raiar de um novo dia. Enquanto que ao meio-dia consagra-se a Igualdade, à meia-noite consagra-se a Esperança.

É esse pois o sentido da aclamação H na liturgia do REAA, destacando que o meio-dia simboliza também a juventude e o vigor, enquanto que a meia-noite representa a senilidade e a experiência.

Nessa conjuntura, essa alegoria alerta para que o maçom trabalhe da sua juventude até a sua maturidade. Graças a isso é que a aclamação H ocorre na abertura, ao meio-dia e no encerramento, à meia-noite nos graus de Aprendiz e Companheiro, não ocorrendo no grau de Mestre porque o Mestre Maçom quando passou pelo cerimonial de Exaltação, simbolicamente ingressou no lugar da Luz, portanto ele é agora um luzeiro, um farol, um ser que emite luz. Nesse caso, a conotação iniciática do 3º Grau se reporta ao último dos ciclos da Natureza e tem uma afinidade solsticial, e não mais diária do Sol. Esse entendimento está na passagem do plano inferior do Ocidente para o plano superior do Oriente (além da balaustrada). Por essa razão é que não existe a aclamação H no 3º Grau, restringindo-se a mesma aos dois primeiros graus. É tudo uma questão iniciática.

Eis aí um resumo da exegese da aclamação trinaria H no REAA.

Desafortunadamente, ainda encontramos carcaças de dinossauro (algo difícil de engolir e consumir) em meio aos nossos ensinamentos. Bem mais salutar é antes investigar a verdade, ao tempo de se ficar arquitetando invencionices e sofismas que agridem a razão dos fatos.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

DEZ/2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário