Em
26/09/2018 o Respeitável Irmão Marcelo Rodrigues, Loja Justiça e Perfeição,
1178, GOB-RS, REAA, Oriente de Porto Alegre, Estado do Rio Grande do Sul,
apresenta a seguinte questão:
BOOZ ou BOAZ?
Teria como dar uma luz?
CONSIDERAÇÕES
SÃO JERÔNIMO |
A despeito de ser essa
palavra de origem hebraica, muito já se escreveu sobre a de grafia de B\.
Alguns escritos são dignos de apreciação, enquanto que outros nem tanto. Muitos
deles mais apregoam opiniões pessoais do que se preocupam em trazer qualquer
contribuição para o tema.
Sob a óptica dos
escritos confiáveis, muitos autores têm mencionado que a diferença da grafia
está nos conformes com as duas principais versões da Bíblia – a Septuaginta, ou
“Dos Setenta” e a Vulgata. Assim, explica-se:
A Septuaginta. Versão dos "Setenta" ou
"Alexandrina" é provavelmente a
principal variante grega por conta da a sua antiguidade e autoridade. Sua
redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a . C., sendo usada pelos
judeus de língua grega que a preferiam no lugar do texto escrito em hebraico.
Quanto ao título conhecido como a “Dos Setenta", o mesmo se deve ao fato
de que a tradição judaica atribui sua tradução a “setenta” sábios judeus
helenistas.
Já
o também título de "Alexandrina" é porque ela foi redigida em
Alexandria.
No que menciona a versão Septuaginta, a palavra que é o objeto
dessa discussão é grafada como BOAZ
(sem vogal dobrada).
A Vulgata. No sentido em curso, Vulgata é a tradução da Bíblia do
grego para o latim que ocorrera entre os fins do século IV e início do V por
São Jerônimo atendendo determinação do Papa Dâmaso I. É essa a versão que seria
usada oficialmente pela Igreja Cristã.
Cabe destacar,
entretanto, que essa mesma Igreja, onde nos primeiros séculos da sua existência
servia-se da língua grega, com o aparecimento da tradução latina da
Vulgata, sobretudo a partir da edição de 1.532, consolidaria a utilização dessa
versão latina.
No que menciona a Vulgata, a palavra que é o objeto dessa
discussão tem a sua escrita grafada como BOOZ
(com as vogais dobradas).
Ainda sobre
esse tema, outras ponderações merecem considerações: A primeira delas se refere
à quebra do monopólio da língua latina quando da realização da Reforma
Protestante. Nessa ocasião a tradução da Bíblia foi feita por Martinho Lutero do
latim para o idioma alemão. Nessa tradução germânica a palavra B\ é escrita como BOAZ (sem vogais dobradas).
Outra
ponderação importante é a de que, além da tradução protestante e germânica
mencionada, também entre os britânicos o termo BOOZ é desconhecido. De fato, os
ingleses só conhecem a palavra escrita como BOAZ.
Assim, dentre outras,
a que eu reputo ser a mais importante é que a grafia BOOZ é desconhecida no vernáculo
hebraico (origem do termo). Nele somente se conhece o termo BOAZ.
Reforçando essa afirmativa, vejamos o que diz
um Irmão conhecedor do idioma hebraico. Assim ele se pronuncia:
“(...) acho que não
se precisa nem de São Jeronimo, nem de Martin Luther (que não gostava de
judeus), nem da Versão dos Setenta (feita para judeus tão helenizados que não
sabiam mais ler hebraico). Peguem qualquer judeu que se preze (ou um que não se
preza como eu) e vamos ao texto hebraico do Livro de Ruth. Está lá: Letra “Beit” (é o som do Bê), mais o sinal
vocálico do som do Ó (é um pontinho), mais a letra “Áiin” com o sinal vocálico de A, mais a letra “Záin” que sempre tem som de Zê. Resultado: BOAZ”.
Por aí mais
uma vez é possível se constatar que a grafia correta dessa palavra é BOAZ,
nunca BOOZ, pois essa última, como demonstrado anteriormente, nada mais é do
que uma corruptela da palavra apropriada, corruptela essa que fora adquirida
por equivoco de São Jerônimo quando fez a tradução do grego para o latim.
Explica-se a
consagração e conservação em alguns casos dessa corruptela porque a Igreja
Católica, alegando “respeito” ao tradutor bíblico, resolveu manter a tradição
da Vulgata, ou seja, manteve o equivocado termo BOOZ no lugar do correto BOAZ.
Não obstante a consagração de equívocos, diga-se de
passagem, que não é só na Maçonaria latina que existem “entendidos” que adoram
cultuar erros crassos – esse é um exemplo.
Em relação à
Maçonaria propriamente dita e a utilização desses dois vocábulos (o certo e o
errado), o fato é facilmente compreendido em se observando a qual vertente o
rito pertence. Explica-se: Na pura vertente anglo-saxônica de Maçonaria (Craft
inglês e norte-americano) utiliza-se apenas palavra é BOAZ (sem vogal dobrada
tal qual ocorre originalmente na língua hebraica), enquanto que na vertente
latina (francesa) de Maçonaria, da qual pertence o REAA\, o termo comumente utilizado, por provável
influência da Vulgata (latina por excelência), é a corruptela BOOZ (palavra
etimologicamente inexistente).
Foi desse modo
que a Maçonaria brasileira – por ser quase que na sua totalidade filha espiritual
da França – acabou adotando para os ritos de origem francesa a corruptela
(BOOZ) haurida da Vulgata; É o caso, por exemplo, do Rito Escocês Antigo e
Aceito praticado no Brasil.
Dado a isso,
mesmo que exaustivamente comprovado que a palavra BOAZ não traga na sua escrita
as consoantes dobradas “oo”, ainda assim muitos rituais insistem em utilizar a
corruptela BOOZ (particularmente isso acontece no GOB).
Sob a luz da
razão, eu penso que a Maçonaria, como investigadora da Verdade, deveria, nas
Obediências que ainda insistem em manter o anacronismo de BOOZ, corrigir esse
equívoco. Ora, se já foi demonstrado que etimologicamente a palavra correta é
BOAZ, que sentido faz então se manter o que não é verdadeiro? Alegar tradição
como fez na época a Igreja Católica?
O grande
problema é que muitos maçons brasileiros “acham” que são grandes conhecedores da
liturgia maçônica por possuírem parte da enxurrada de rituais que foram
publicados pela Maçonaria Brasileira, esquecendo-se esses que a imensa maioria
deles só comporta equívocos, invenções e enxertos. Infelizmente esses detentores
de rituais têm nessa coleção temerária um apoio que lhes coloca com opinião
irreversível. Desse modo, somos obrigados apenas a apontar os absurdos para que
alguns possam avaliar melhor a situação – me disse um dia um grande Mestre: “não perca tempo discutindo com crânios
blindados”.
Como a
esperança é a última que morre, sempre há de existir uma Luz no fim do túnel.
Nesse sentido, sugiro ao o Irmão que consulte uma excelente Peça de Arquitetura
intitulada “Discussões Bíblicas – BOOZ ou BOAZ” de autoria do Irmão Willian
Almeida de Carvalho e pode ser encontrada na Internet. Em minha opinião esse
trabalho fecha o assunto e ainda dá subsídios para pesquisa sobre o tema.
Dando por
concluído, não me custa alertar para que se tome muito cuidado com discussões
ritualísticas oriundas de grupos de orientação formados na Internet. É prudente
se compreender que nem tudo o que reluz é ouro. Muitas vezes nesse ambiente a
grande maioria diz o que pensa, sem que haja antes uma avaliação acadêmica
suportada por uma analise ponderada dos fatos. Simplesmente dizer que “eu tenho
esse e aquele ritual antigo” não faz do pesquisador um arauto da verdade –
antes de tudo é preciso se saber se as fontes procedem de água limpa.
T.F.A.
PEDRO JUK
DEZ/2018
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