Em
04.09.2018 o Respeitável Irmão Marcos Vinicius Tavares Oliveira, Secretário
Estadual de Orientação Ritualística do GOB-SE, Oriente de Aracajú, Estado de
Sergipe, apresenta a questão seguinte:
OBREIROS
EM RECREAÇÃO
No Ritual do REAA
de 1804 lemos o que diz o Segundo Vigilante quando inquirido pelo Venerável
Mestre na abertura dos trabalhos. “Para melhor observar o sol em
seu meridiano, chamar os obreiros do
trabalho à recreação, chamá-los de volta da recreação ao trabalho, a fim de que
ao Venerável resulte honra e proveito”.
Dessa forma vemos que no REAA é possível colocar a
Loja "em recreação" durante, por exemplo, o momento de numa iniciação
quando os candidatos vão se recompor no Átrio da Loja... Estou correto nisso?
Caso afirmativo, entendo que isso não caracteriza o
que hoje ouvimos dos Veneráveis Mestres: "meus Irmãos os trabalhos estão
suspensos", e sim que o Venerável Mestre deve pedir ao 2° Vigilante para
cumprir seu dever de Oficio e por a Loja em Recreação... Concordas?
CONSIDERAÇÕES.
Sem dúvida meu Irmão, essa seria forma
correta, mas infelizmente muitos costumes tradicionais acabaram sendo
abandonados e perdidos. Ou em nome da preguiça, ou mesmo em nome do próprio
desconhecimento de causa das verdadeiras coisas e práticas maçônicas.
Muito provavelmente essas abreviações se
deram pela preocupação de alguns pseudos ritualistas em arrumar tempo na
liturgia maçônica para satisfazer os ingressos pomposos de comitivas e
personagens que parecem assaltar a Sublime Instituição como fosse ela um
aparato para massagear “egos”
Deixando os trocadilhos e as metáforas de
lado, em se falando de pureza e tradição, historicamente, desde a Maçonaria de
Ofício uma das funções do Segundo Vigilante era a de fiscalizar os obreiros nos
trabalhos do canteiro e, no momento apropriado dispensá-los para a recreação. É
dessa premissa que alguns ritos mantêm a Régua de 24 Polegadas como um dos
objetos simbólicos que ficam junto ao lugar do Segundo Vigilante. É sob essa
conotação que a Régua, dentre outros, traz o simbolismo especulativo da divisão
do tempo do operário, ou seja, tempo de laborar, de recrear, de agradecer a
Deus e de repousar.
Na Moderna Maçonaria (especulativa por
excelência) alguns ritos como é o caso do REAA, posicionam o seu Segundo
Vigilante, à moda inglesa, sobre o meridiano do Meio-Dia. Isso se dá para que
ele, simbolicamente do Sul, possa observar a passagem do Sol pelo zênite. Em
síntese, sob a óptica dessa alegoria é que o Segundo Vigilante, à sua frente,
vê o movimento diário do Sol no firmamento (vide as três janelas no Painel do
REAA – alvorecer, meio-dia e ocaso).
Assim, pela tradição dos tempos operativos,
mais a liturgia iniciática de inspiração especulativa inerente à Moderna
Maçonaria, tradicionalmente também é missão do Segundo Vigilante enviar os
obreiros do trabalho para a recreação e da recreação trazê-los de volta para o
trabalho. É dado a isso que rituais puros e isentos de abreviações temerárias
mencionam essa nobre missão como um dos ofícios do Segundo Vigilante.
Destaque-se que infelizmente isso não mais
acontece na maioria dos rituais, provavelmente pela intenção de se economizar
tempo para depois doá-lo inescrupulosamente às filigranas e outros blá, blá,
blás sem essência maçônica.
Também não há como se esquecer daqueles que
se “acham” ritualistas, principalmente aqui no Brasil, mas que colecionam
rituais antigos e anacrônicos, completamente deturpados, cujos quais nunca
trouxeram a prática original de como se suspender os trabalhos. Esses
colecionadores, em nome do “não existe
nos rituais que eu possuo” abominam ferozmente qualquer menção de práticas
que, mesmo corretas, não constem nos seus relicários ritualísticos deturpados.
Como a boca vai se entortando conforme o uso
do cachimbo, na maioria dos rituais do REAA\ da atualidade, definitivamente
a prática tradicional desapareceu por completo para dar lugar a tal “suspensão dos trabalhos por um golpe de
malhete” que, diga-se de passagem, além de equivocada é irregular,
inclusive nem mesmo consta no ritual em vigência do GOB.
Desse modo, desafortunadamente a beleza de
uma prática ritualística tradicional acabou desaparecendo ao ponto de
atualmente ela nem ser conhecida de muitos Irmãos.
Por oportuno vou
deixar aqui um resumo da prática original que nunca deveria estar ausente dos
nossos rituais. Em síntese as coisas deveriam acontecer da seguinte forma:
“O
Venerável Mestre durante os trabalhos e em momento que ele achar apropriado pergunta
ao Segundo Vigilante a posição do Sol. Esse, por sua vez, informa que o Sol já
passa do zênite. Com isso, o Venerável Mestre, dialogando ritualisticamente, solicita
aos Vigilantes que eles informem às Colunas que os trabalhos serão suspensos
para a recreação. Feita a comunicação na forma do ritual, o Segundo Vigilante
então comunica à Loja que os trabalhos estarão, a partir dali, suspensos para
recreação, mas não sem antes recomendar a todos que se retirem em ordem e que
por perto permaneçam até que ele os chame de volta. Decorrido o tempo estipulado
para o lazer, o Segundo Vigilante então retoma o seu lugar e percutindo
continuamente o seu malhete solicita o retorno dos obreiros ao trabalho. Assim
que todos tenham regressado e em pé aguardam nos seus respectivos lugares,
auxiliado pelo Mestre de Cerimônias o Segundo Vigilante informa ao Venerável Mestre
do retorno de todos. Dá-se então novamente a dialética ritualística prevista
quando ao termino o Venerável informa que os trabalhos voltam a tomar força e
vigor. Todos imediatamente se colocam à Ordem e recebem o comando para sentar.
Desse modo os trabalhos prosseguem na forma de costume”.
Essa é então uma síntese dos procedimentos
corretos para a suspensão e retorno dos trabalhos da Loja conforme as nossas
tradições, usos e costumes. Lamentavelmente, como mencionado, essa prática anda
de há muito esquecida nos rituais. Aqui no Brasil, são raríssimos os que
ousaram trazer essa prática original – eu pelo menos conheço apenas dois.
Como a esperança é a última que morre,
notadamente espera-se que num futuro não muito distante, quando da revisão dos
rituais do GOB prevista para o ano de 2019, essa prática tome força e vigor.
T.F.A.
PEDRO
JUK
NOV/2018
Eminente Irmão Pedro Juk.
ResponderExcluirA revisão citada na resposta, continua prevista para este ano?
Rubem Giranda , ARLS Ind e Luz nº 301 - REAA - GOB-RJ - ORIENTE DE BARRA MANSA RJ
TFA