terça-feira, 11 de agosto de 2020

REAA - O LUGAR DO COMPANHEIRO RECÉM-ELEVADO NA LOJA

 

Em 09.03.2020 questão que faz o Respeitável Irmão Augusto Fabiano de Souza Bernardinho, REAA, GOMG (COMAB), Oriente de Nova Lima, Estado de Minas Gerais.

 

LUGAR DO COMPANHEIRO RECÉM-ELEVADO

 

Estimado Irmão Pedro Juk, agradeço mais uma vez por compartilhar e nos instruir quanto as dúvidas de todos os Irmãos. Novamente recorro mais uma vez ao Irmão no sentido de acl

arar mais um duvida que possuo. Li algumas peças do irmão referente ao lugar do recém-iniciado na Coluna do Norte em especial o texto "E o Topo da Coluna do Norte... Conclusões?”. Após algumas leituras e explicações surgiu uma dúvida quanto ao lugar do Companheiro recém-elevado. Sabe-se que os Companheiros tomam assento na Coluna Zodiacal Libra próximo à balaustrada (posição inversa ao Aprendiz recém-iniciado) indo de encontro a luz meio-dia ponto de maior iluminação. Daí surgi um interesse, poderia fazer um arrazoado a respeito do caminho a ser percorrido pelos Companheiros na Coluna do Sul?

 

CONSIDERAÇÕES.

 

Cabe então compreender como se apresenta o caminho iniciático no REAA. Lamentavelmente boa parte dos nossos Irmãos ainda não compreendeu onde fisicamente ele (o caminho) aparece no Templo, bem como o que ele significa. Essa falta de entendimento pode facilmente ser constatada quando observamos a total ausência de conhecimento sobre o significado das constelações do Zodíaco correspondentes às Colunas Zodiacais distribuídas pelas paredes Norte e Sul do Templo simbólico do REAA. Existem, inclusive, opiniões contrárias as suas existências – obviamente opiniões daqueles que não compreendem, ou melhor, desconhecem o arcabouço doutrinário simbólico do Rito e vivem presos a rituais antigos de procedência duvidosa.

Assim, comentando esse caminho iniciático no REAA, sobretudo sob o viés deísta de um rito nascido na França mas que possui também características anglo-saxônicas teístas, esse Rito, antes de mais nada, compara alegoricamente a evolução iniciática pertinente aos seus três graus simbólicos à revolução anual da Natureza, notadamente destacando os ciclos da Natureza, também conhecidos como primavera, verão, outono e Inverno.

Cabe destacar que para efeito iniciático as estações do ano se relacionam com o hemisfério Norte da Terra, hemisfério este onde o REAA teve a sua certidão de nascimento.

Desse modo, esse entendimento iniciático traz no seu conteúdo concepções que associam as etapas da Natureza às fases da vida humana, demonstrando de modo emblemático que o iniciado morre para a vida profana e renasce, purificado pelos Elementos, para uma nova vida, o que, em linhas gerais é demonstrado na passagem pela Câmara de Reflexão onde o candidato, então despojado, faz o seu testamento simbólico e preenche o questionário filosófico.

Sob essa óptica o significado dessa alegoria iniciática é o de demonstrar que o Candidato, ao ser consagrado Aprendiz Maçom (recém iniciado) representa um novo elemento, isto é, uma nova planta (neófito) que nasceu tal qual como a Natureza revive na Primavera.

Nesse sentido, a primavera possui caráter iniciático de começo, ou de partida. Sob o feitio místico, essa estação do ano é representada no Templo pelos símbolos relativos às constelações de Áries, Touro e Gêmeos (alinhamento do Sol, Terra e essas constelações na faixa do Zodíaco).

Com isso, o ciclo natural da primavera, que se inicia na constelação de Áries, no hemisfério Norte, corresponde ao começo da jornada do Aprendiz. Partindo de Áries o iniciado prossegue percorrendo sua senda até a constelação Virgem, o que, em linhas gerais representa sua passagem pela primavera e pelo verão (infância e adolescência).

A passagem por esses dois ciclos corresponde simbolicamente à primeira etapa da vida do Iniciado – o Aprendiz. Em síntese, esse caminho é visivelmente marcado pelas seis primeiras Colunas Zodiacais que ficam de maneira equidistante situadas no topo da Coluna do Norte. Cabe esclarecer que o termo “topo”, aqui utilizado, corresponde a toda a parede setentrional do Templo situada entre o canto com parede ocidental e a grade que marca o limite com o Oriente. Assim, a primeira Coluna Zodiacal (próxima ao 1º Vigilante) representa Áries (início da primavera) e corresponde ao começo da jornada, por extensão é o lugar onde o Aprendiz recém iniciado, logo após ter sido consagrado maçom, é colocado para dali romper a sua caminhada.

Concluída a sua passagem pela Coluna do Norte (interstício de aprendizado), o Aprendiz, ao atingir a adolescência e a proximidade da juventude, passa então do topo da Coluna do Norte para o topo da Coluna do Sul, o que se dá iniciaticamente pela cerimônia de Elevação ao grau de Companheiro.

Agora Companheiro, o Iniciado ao alcançar o Sul estará por primeiro em Libra que, dentre outros, significa emblematicamente o ápice da juventude (Meio-Dia).

Desse modo o “novo” Companheiro é colocado no topo da Coluna do Sul junto à Coluna Zodiacal correspondente à constelação de Libra, ou Balança. Essa constelação marca astronomicamente o início do Outono no hemisfério Norte e na Loja se situa no topo do Sul junto à balaustrada que serve de limite com o Oriente.

Partindo do outono, simbolicamente o Companheiro segue pelo topo da Coluna do Sul em direção à maturidade (grau de Mestre), cuja qual, iniciaticamente corresponde ao inverno, ou o final da jornada (Meia-Noite). Iniciaticamente é o ponto de partida da última etapa, onde o Iniciado, após à Meia-Noite, segue o caminho que o levará à perpetuidade no Oriente.

Emblematicamente o Companheiro Maçom representa o ápice da vida, ou o vigor da sua juventude (ação e trabalho). Diferente do Aprendiz recém-iniciado que, pelo topo do Norte, seguiu após ter saído do interior da Terra (Câmara de Reflexão) para reviver na Luz da primavera (infância), o Companheiro (juventude), pelo topo da Coluna do Sul rompe sua jornada em Libra (o Sol passa para outro hemisfério e a maturidade se aproxima).

A alegoria demonstra que a partir daí sequencialmente os dias vão ficando cada vez mais curtos e as noites mais longas. O outono (maturidade) antecede o inverno, época em que a Terra ficará viúva do Sol (fim da vida).

De tudo, cabe salientar que esse é apenas um teatro iniciático cuja aspiração é a de comparar a vida humana com os ciclos da Natureza. Entenda-se que essa alegoria possui sentido é figurado e foi criada para desenvolver os ciclos iniciáticos de passagem na Moderna Maçonaria. No REAA essa alegoria traz uma profunda lição de moral para o Iniciado. Todo esse agrupamento de ciclos e passagens é demonstrado, de modo amplo e geral, na Iniciação, e de caráter particular, nas cerimônias de Elevação e na Exaltação.

Conceitos iniciáticos que envolvem a marcha em direção a Luz se apresentam nas alegorias maçônicas por vários feitios, no entanto, todos eles convergem para o Leste, ou o Oriente da Loja.

Assim, sob esse aspecto, além do caminho iniciático propriamente dito, o espaço de trabalho, ou a sala da Loja, também tem os seus pormenores como segue:

a)    O primeiro é que a passagem iniciática pelos ciclos naturais corresponde a vida do Iniciado, ou seja, a infância, a adolescência, a juventude e a maturidade;

b)    O segundo é que o Iniciado sempre segue a sua jornada à procura da Luz. Isso explica o porquê dos Aprendizes no topo do Norte e os Companheiros no topo Sul - sob o ponto de vista do hemisfério setentrional o extremo Norte recebe menos luz por estar mais distante do equador. Sob essa óptica, do Norte vislumbra-se a passagem do Sol pelo Sul e é por essa razão que o Sul é também conhecido como Meio-Dia. Nesse caso, o Iniciado após ter cumprido o seu tempo no Norte, passa para o Sul onde aparentemente existe mais Luz (Meio-Dia). Esse detalhe pode ser constatado em se observando as três janelas que aparecem nos respectivos Painéis. É bem verdade que essa é apenas uma concepção simbólica, contudo segue os cultos solares da antiguidade;

c)    O terceiro é que, além da revolução anual do Sol marcada pelos seus alinhamentos com as constelações zodiacais, existe ainda a relação com a aparente marcha diária do Sol, cuja qual envolve a liturgia da circulação no Ocidente da Loja, a dos procedimentos de abertura e encerramento da trabalhos e a da aclamação Huzzé.

Destaque-se que o movimento aparente e diário do Sol determina na sala da Loja, emblematicamente o nascente do Oriente e o ocaso no Ocidente. De tudo, o objetivo do iniciado é alcançar o Oriente, contudo ele antes deverá ter cumprido toda a sua jornada que um dia se iniciara no topo da Coluna do Norte próximo ao lugar do 1º Vigilante. Esotericamente a divisão Oriente/Ocidente separa respectivamente o espiritual que é o lugar do Mestre do material que é o lugar dos Aprendizes e Companheiros

Espero que esse breve arrazoado esteja a contento e, para concluir, devo mencionar que o sistema de aperfeiçoamento maçônico, velado por símbolos e alegorias, traz verdades profundas na sua complexão. Cabe ao iniciado, entretanto, perquirir, desvendar e compreender a razão da sua existência.

 

P. S. – O escrito denominado “E o Topo da Coluna do Norte – Conclusões?” pode ser encontrado no Volume IV do INBRAPEM – Encontro Nacional do Instituto Brasileiro de Pesquisas Maçônicas Fernando Salles Paschoal, Editora Maçônica A Trolha, Londrina, novembro de 2007.

 

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

AGO/2020

2 comentários:

  1. Bom dia, EXCELENTE esclarecimento. Muito obrigado meu querido Irmão por mais essa luz de sabedoria.TFA

    ResponderExcluir