Em 29/10/2022 o Respeitável que se identifica apenas como Irmão Marcelo, Loja União Fraterna, REAA, GOB-SP, sem mencionar o nome do Oriente, Estado de São Paulo, faz a pergunta seguinte:
PLANETA MERCÚRIO
Estou fazendo um trabalho sobre o tema e ficou uma
dúvida sobre o planeta Mercúrio. Em outras pesquisas tenho encontrado que ele
representa o 1o Diácono e não o Mestre de Cerimônias, pois se localiza a
Nordeste e é o planeta mais perto do sol. Pode me ajudar esclarecendo essa
dúvida?
CONSIDERAÇÕES.
No caso do REAA o arranjo do teto foi em parte uma
contribuição da Loja Geral Escocesa, criada quando da construção do primeiro
ritual do simbolismo desse rito em 1804 na França.
A decoração do teto dos templos é geralmente estelar
e esse hábito remonta aos tempos do Egito Antigo, onde é possível encontrar, por
exemplo, o magnífico templo de
Karnak em Luxor.
Sem muita preocupação com a estética, mas com o seu
aspecto representativo, geralmente esses templos buscavam representar uma
imagem do mundo, onde o teto era o firmamento e o piso a Terra, de onde
brotavam colunas que simbolizavam enormes papiros.
Antes de prosseguir, cabe aqui uma observação
importante. A alusão ao costume egípcio de se estelar o teto dos seus templos não
autoriza ninguém a imaginar Maçonaria no Egito Antigo. Aqui essa citação é
apenas um referencial histórico, e não um apanágio da Maçonaria.
Nesse sentido, destaque-se que documentalmente a Maçonaria
possui aproximados 800 anos de história, e o seu primeiro templo foi inaugurado
em 1776 em Londres.
A decoração estelar, no caso da Moderna Maçonaria, fora
baseada em templos originários de algumas remotas civilizações – a isso podemos
chamar de ecletismo maçônico.
Retomando, no caso do REAA essa decoração estelar
segue um padrão relativo ao firmamento quando visto do hemisfério Norte da
Terra.
Em linhas gerais essa decoração deve conter, além
da representação do Sol e da Lua, os planetas Mercúrio, Vênus,
Marte, Júpiter e Saturno; as estrelas, Polar (da
constelação Ursa Menor), Arcturus, Spica (da constelação da Virgem),
Aldebaran, Régulus e Fomalhaut. Ainda nesse contexto, as
constelações de Órion (as três estrelas do seu cinturão), Híades,
Plêiades e Ursa Maior.
Vale relatar que no REAA, originalmente eram também
marcadas na base a abóbada, a partir de Áries, as doze constelações do Zodíaco,
seis ao Norte e seis ao Sul. Contudo, essa decoração fora paulatinamente sendo
substituída por Colunas Zodiacais que iam fixadas nas paredes Norte e Sul do templo.
Em meados do século XX essas colunas acabariam sendo definitivamente adotadas
como representação do Zodíaco (caminho iniciático do maçom).
Quanto ao misticismo religioso haurido da
Mesopotâmia e a associação com cargos em Loja no REAA - confesso que não sou
simpático a esse tipo de interpretação – o mais consagrado nesse contexto tem
sido o dos deuses Marduc e Shamash correspondentes ao Sol, Sin
correspondente à Lua e Ichtar correspondente à Vênus.
Nessa conjuntura ainda existiam outros deuses conexos
aos demais planetas então conhecidos na antiguidade. Mercúrio, deus
veloz e astuto era o senhor da sabedoria calculista; Marte era o deus da
guerra; Júpiter era senhor dos homens, embora em segunda escala fosse
suplantado pelo deus Sol (Sabedoria); Saturno, era tido como um
deus cruel.
Em relação à associação desse misticismo com os
cargos em Loja podemos citar: o Venerável Mestre, correspondente
ao planeta Júpiter, pois no panteão dos deuses, além de ser um régio
senhor dos povos, simbolizava também à sabedoria; o 1º Vigilante,
correspondente ao planeta Marte, como senhor da guerra representa também
a força; o 2º Vigilante, correspondente ao planeta Vênus, mitologicamente
feminizado, era deusa da fertilidade e do amor, representa a beleza; o
Orador, correspondente ao Sol, tal como alguém que emana luz nas
decisões e no trato com a lei; Secretário, correspondente à Lua,
registra as decisões da Loja refletindo as conclusões do Orador na clareza da
lei; o Tesoureiro, correspondente à Saturno, cruel e frio, é
também o símbolo da riqueza; o Mestre de Cerimônias, correspondente ao
planeta Mercúrio - deus veloz e astuto, como oficial ele circula pelo ambiente
dos trabalhos como um elemento de ligação, imita Mercúrio por ser o planeta
que mais rápido se movimenta em torno do Sol.
Da mesma forma, é possível também encontrar
referências dos cargos identificadas com deuses e semideuses do panteão grego.
Como referência bibliográfica a respeito desse
tema, recomendo o livro O Rito Escocês Antigo e Aceito, História, Doutrina e Prática.
José Castellani, Editora Maçônica A Trolha.
Espero que essa abordagem superficial possa ser útil.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
MAR/2023
Caro Irm.·. Pedro, também não sou simpático a interpretação da correlação entre os planetas e os cargos em loja.
ResponderExcluirUma coisa que notei é que no Ritual não consta Marte na abóbada, nem mesmo eventual correção/explicação no SOR.
Pergunta-se, para aproveitar a questão posta, Marte faz parte da abóbada do REAA na sua origem? Haverá correção nesse sentido? Ou a inclusão de Marte nas interpretações citadas a título de explicação serviu para os autores que as defendem apenas para completar os cargos, já que sem ele não haveria planeta para o 1º Vig.·.?
Desde já agradeço.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirExistem duas possibilidades meu Irmão. Uma é para se adequar a essa associação com cargos em Loja, outra é a justificativa dos sete planetas da antiguidade, que na verdade não eram sete, mas cinco, já que naqueles tempos o Sol e a Lua eram também considerados planetas. Daí estes, somados à Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno dariam os sete planetas. No misticismo hebraico, o que representa esse grupo é a Menoráh (candelabro com sete braços e sete luzes). Não se descarta a reconhecida influência hebraica na Maçonaria, em particular no REAA. T.F.A. Obrigado pela visita.
ExcluirÉ verdade Irm.·., a definição científica atual de planeta é recente em se considerando o tempo que os seres humanos já observam os céus e tomam notas das posições dos astros. Planeta vem do grego, os quais chamavam as luzes que a noite transitavam o céus, em concontraste com as "estrelas fixas", de "πλάνητες ἀστέρες" (planetes asteres), ou seja, “estrelas errantes” ou simplesmente "πλανήτοι", (planētoi), isto é, “errantes”.
ExcluirMas antes deles, na China, Babilônia e em quase todas as civilizações pré-modernas, acreditava-se quase universalmente que a Terra era o centro do universo e que todos os "planetas" a circundavam, inclusive os astros maiores, assim consideradoras o Sol e a Lua, que por se moverem em relação às ditas estrelas fixas também eram chamados de planetas.
Bem lembrada a correlação com o misticismo hebráico.
Eu arriscaria também a correção dos "planetas" da antiguidade com os elementos alquímicos, que de certa forma também estão presentes no REAA, os quais compartilhavam, inclusive, os mesmos símbolos.
O Sol rege o ouro; A Lua rege a prata; Mercúrio, mercúrio; Vênus, o cobre; Marte, o ferro; Júpiter, estanho; Saturno, chumbo.
Obrigado por responder e por essa salutar troca de pensamentos.