Em 21.03.2023 o Irmão Giovani Nocchi, Loja Confraternidade Macabuense, 920, REAA, GOB-RJ, Oriente de Conceição de Macabu, Estado do Rio de Janeiro, faz a pergunta seguinte:
ORAÇÃO NA INICIAÇÃO
A
minha dúvida é com relação a oração contida na página 111 do Ritual de Iniciação
de Aprendiz. Aquilo já existia ali? Foi enxertado?
Se puder tecer alguns comentários a respeito
fico grato, eu havia estranhado, porque a maçonaria respeita a questão da
crença, mantendo de foro íntimo e também não realiza orações, inclusive, de forma
categórica, o irmão já falou sobre “orações no átrio”, por isso minha
estranheza, em ver uma oração estampada no ritual, achei curioso, pois o REAA
era para ser um rito deísta e ficou a meio caminho. Procede?
CONSIDERAÇÕES.
Inicialmente devo salientar que isso na Maçonaria não se trata especificamente de uma pregação religiosa, até porque existem aspectos históricos relativos à Igreja e os construtores de catedrais da Idade Média, época em que o clero detinha o monopólio da arte de construir.
Com isso, Igreja Católica da época, resguardando seus próprios interesses
em busca da sua expansão, era também a protetora das confrarias de artesãos que
para ela trabalhavam nas construções de igrejas, abadias, mosteiros e catedrais.
À vista disso, nada a estranhar que as guildas de construtores medievais
viessem então sofrer influência religiosa por parte da Igreja, sua “protetora”.
Não resta dúvida que essa ancestral influência chegaria mais tarte
à Moderna Maçonaria que, mesmo não sendo uma religião, passaria a exteriorizar,
através dos seus ritos especulativos, perspectivas teístas, deístas e até mesmo
agnósticas.
Debaixo desse raciocínio, vale a pena esclarecer que teísmo
menciona a doutrina que admite a existência de um deus pessoal, causa do mundo
e em intercâmbio com a criatura humana; deísmo é um
sistema que, rejeitando qualquer espécie de revelação divina, e autoridade de
qualquer Igreja, aceita, todavia, a existência de um Deus, destituído de
atributos morais e intelectuais e que pode ter atuado na criação do mundo por
uma inteligência superior através da razão e do livre pensamento, sem um
intercâmbio com a criatura humana; agnosticismo se refere ao
crédito de que a capacidade humana é incapaz de investigar a existência ou não
de divindades, já que esse entendimento está muito além da compreensão humana por
transcenderem à realidade e a lógica. Entenda-se que agnosticismo não é o mesmo
que ateísmo.
Assim, de modo genérico, sob essa conjuntura existem duas
vertentes principais de Maçonaria, a anglo-saxônica e a latina.
Nesse contexto, a vertente anglo-saxônica é de viés teísta, enquanto
que a latina (francesa) de viés deísta, ainda que um dos seus principais ritos,
o REAA, seja um misto de teísmo e deísmo, sem esquecer também do Rito Francês,
ou Moderno que é um rito agnóstico, ou seja, que se declara incapaz perscrutar a
divindade.
A Moderna Maçonaria, com seus ritos construídos a partir do século
XVIII elegeu, de modo conciliatório, a crença em um Ente Supremo que ela trata por
Grande Arquiteto do Universo.
Sob essa óptica, a Maçonaria respeita todas as religiões, portanto
as preces que aparecem nos seus rituais e ritos possuem o desiderato de
respeitar a crença de cada um, desse modo, isso não se caracteriza como um dogma
ou pregação individual, mas algo que de modo amplo respeite a crença de cada
maçom - no contexto religioso da Ordem Maçônica isso basta.
Assim, essa religiosidade é natural e ela se limita a enaltecer a
fé de cada um, sem eleger uma determinada religião. É sob esse ponto de vista
que o maçom deve entender essas mensagens e não usar a Maçonaria para praticar
atos religiosos pertinentes à sua religião.
Graças a essas circunstâncias que eu tenho combatido os proselitismos
religiosos hauridos de crenças individuais. Ora, como dito, de modo
conciliatório os rituais são precisos em não individualizar conceitos
religiosos, senão a crença em um Princípio Criador.
Mais especificamente sobre a prece ao candidato na Iniciação, esse
costume é oriundo do período operativo, ou do ofício, quando o candidato era
feito maçom. Não existiam templos maçônicos e nem ambientes decorados. Simplesmente
o candidato era recebido no canteiro do ofício pelo 2º Warden que lhe
passava as primeiras instruções e depois o conduzia até o 1º Warden para
que este fizesse em favor do candidato uma prece (influência religiosa). Concluída
a oração, o candidato era logo encaminhado ao Mestre da Loja (um Companheiro
experimentado) para que, diante do Evangelho de São João, o recipiendário prestasse
a sua obrigação, oportunidade em que recebia o avental e luvas profissionais.
Ato seguido o neófito era levado novamente até o 2º Warden, que concluía os primeiros ensinamentos levando
depois o novo Aprendiz Admitido, munido das ferramentas, ao exercício dos primeiros trabalhos na
pedra calcária. Um clérigo enviado pela Igreja registrava por escrito todos os
acontecimentos. Naquela época não existiam graus especulativos, mas duas classes
de trabalhadores, a dos Aprendizes Admitidos e a dos Companheiros do Ofício. O
Mestre da Obra, ou da Loja, era um Companheiro experimentado. Os Wardens,
mais tarde ficariam conhecidos como os Vigilantes da Loja, enquanto que o
clérigo, apontador, se tornaria o Secretário da Loja. Por sua vez, o Mestre da
Obra viraria o Venerável Mestre. As preces e orações eram influências da
Igreja, então protetora dos pedreiros medievais.
De modo genérico era assim que ocorria a admissão de um novo
membro nas Guildas Medievais de Construtores.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JUL/2023
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