Em 23/07/2018 o Respeitável Irmão
Carlos Alberto B. Santiago, Loja Liberdade, 01, REAA, GLEB, sem mencionar o
nome do Oriente, Estado da Bahia, apresenta, através da Revista Maçônica A
Trolha, a seguinte questão:
A MARCHA DO GRAU ALTERADA.
Há 3 anos a Grande Loja fez algumas mudanças no Ritual, principalmente
no grau de Companheiro Maçom.
Foram alterados os Passos de Companheiro; em vez de c\ como havia sendo ensinad
Os t\ anteriores são considerados parte da Marcha, pois dizem que há
diferença entre Passos e Marcha.
Assim afirmam que os Passos são os d\, os que se deslocam lateralmente e a Marcha os c\ pp\, incluindo assim os de Aprendiz.
A minha pergunta é:
a) Qual a origem dos Passos de Companheiro?
b) Eles são 2 como adotado pela GL\ ou 5 como aprendemos há mais de 30 anos?
No caso do Grau 3, Mestre Maçom a mesma alteração foi feita, adotaram somente
os pp\ sobre o Esq\, ignorando os 5 dados anteriormente.
Por favor, os prezados Irmãos poderiam esclarecer esta dúvida?
Tenho vários livros dessa editora e em nenhum consta uma informação que
possa dirimir essa dúvida.
CONSIDERAÇÕES:
O que eu posso
dizer é que é mesmo lamentável o que os inventores impõem à ritualística
maçônica. Simplesmente por não conhecerem a sua história, ficam então a arrumar
desculpas como essa da Marcha ser diferente da dos Passos.
Ora, em Maçonaria,
especificamente quando nos referimos aos passos de um grau, marcha é seu
sinônimo, pois os passos (no plural) compreendem a marcha. Assim tanto faz
definir o ato completo como “marcha” ou “passos”, já que ambos compreendem um mesmo
conjunto de formalidade ritualística.
Mesmo no Dicionário
Aurélio (versão eletrônica) isso pode ser comprovado. Nele a palavra passo significa o ato de andar;
andamento; marcha (o grifo é meu),
enquanto que a palavra marcha,
nele designa modo de andar; andadura, passo
(o grifo é meu).
A despeito desses
comentários, os “entendidos” antes de procurar conjecturas temerárias
precisavam conhecer a origem dos passos, ou marcha no REAA\. Para tal deveriam consultar os
primeiros rituais simbólicos do Rito em questão – a partir de 1804 – quando
então existia apenas uma única marcha composta por “oito passos normais”. Eram,
no princípio, passos únicos que serviam os três graus.
Posteriormente, com
o aprimoramento e a evolução dos rituais ao longo do século XIX e a separação
doutrinária dos graus, houve a divisão dos oito passos de outrora, sendo que a
partir daí, cada Marcha (conjunto de passos) corresponde à idade simbólica do
maçom - t\ pp\ igual a t\ aa\ para o Aprendiz, c\ pp\ igual a c\ aa\ para o Companheiro
e o\ pp\ para os s\ aa\ e m\ do Mestre.
Doutrinariamente a
Marcha segue a seguinte explicação:
O Aprendiz - Em
linha reta, acompanha a vereda dos justos ao executar a Marcha sobre o eixo
longitudinal do templo. A interseção das linhas oblíquas do Pavimento Mosaico
orienta a posição dos pés a cada passo dados na forma de costume. Vindo do
Ocidente para o Oriente, simbolicamente o Aprendiz não pode se desviar do rumo já
que pela sua pouca idade (apenas t\ aa\), sem referência e pouca instrução,
um eventual desvio faria com que ele acabasse se perdendo.
O Companheiro - Não
sem antes ter tido passado pela senda do Aprendiz (escalada iniciática), ele
rompe a sua Marcha como Aprendiz (revivendo o aprendizado) e em seguida dá
obliquamente um passo como que a se afastar do eixo determinado. Para concluir ele
dá mais um passo de retorno ao eixo. Do mesmo modo, o cruzamento das linhas
oblíquas do Pavimento distribuem os passos da sua jornada. Em síntese, os c\ pp\ correspondem a sua
idade simbólica e a evolução de conhecimento adquirido durante o seu
aprimoramento na Arte. Graças a isso é que se diz que o Companheiro, mesmo se
desviando do eixo (passo oblíquo), tem capacidade de retomar ao rumo.
O Mestre - Como
senhor de todos os quadrantes da Loja ele revive toda a jornada dos dois graus
anteriores. Primeiro executa todos os passos que compõem a Marcha do
Companheiro, iniciando pelos do Aprendiz. Em seguida soma a eles mais t\ longos pp\ oblíquos à direita, à esquerda e ao
centro (ponto pedest\) como que se
deslocasse por sobre um esq\. Assim, somando-se
os c\ pp\ anteriores aos t\últimos pp\ encontra-se o total dos o\ pp\ de outrora. De
qualquer maneira, a Marcha do Mestre também lembra a sua idade, s\ a\ e m\, já que para se chegar ao o\ é preciso primeiro se passar pelo s\ (s\ alude à criação).
Na realidade, o Mestre renascido não estaciona no número s\. Esotericamente, sua Marcha revive
toda a escalada iniciática - os c\ primeiros dados
sobre o Pavimento (material) e os t\ outros de modo
elevado sobre o esq\ (espiritual). Os
três últimos passos do Mestre simbolizam a alegoria da Natureza e o movimento
do Sol em sua eclíptica com os solstícios e os equinócios. Nesse teatro, a
Natureza morre no inverno (a Terra fica viúva do Sol) para renascer na
primavera. Como as Marchas representam a senda iniciática, os passos por sua
vez vão se somando respectivamente a partir do Primeiro Grau.
Obviamente esse é
apenas um resumo, pois muitos outros aspectos se incluem à rica alegoria que
envolve as Marchas no REAA\, entretanto, em
nome do sigilo exigido no trato com as coisas maçônicas, esse não é espaço
apropriado para se aprofundar nessa questão.
Dando por
concluído, a origem da Marcha (Passos) advém de uma forma especulativa de
reconhecimento iniciático e que ao mesmo tempo, conforme o Rito, expressa
lições para o aperfeiçoamento do maçom. Propriamente nos três graus simbólicos
do REAA\ a Marcha se constitui por t\, c\ e o\ passos respectivamente. Não existe
Marcha isolada por grau conforme o Irmão comenta na questão. Por ser também uma
forma de telhamento, independente do grau simbólico, ela sempre se inicia pelos
t\ pp\ do Aprendiz. No
REAA\ a sua raiz advém dos seus primeiros
rituais simbólicos que apareceram na França a partir do início do século XIX.
P. S. – No trato dessa questão
abordou-se apenas o número de pp\. Sinais e outras
particularidades que envolvem a forma de se executar a Marcha não foram aqui
comentados.
T.F.A.
PEDRO JUK
OUT/2018
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