Em 25/06/2020 o Respeitável Irmão André Ricardo Ferraz Roque, Loja Barão do Rio Branco, 03, REAA, GOIPE, Oriente de Arcoverde, Estado de Pernambuco, faz a seguinte pergunta:
DEGRAUS DO ORIENTE
Gostaria de seu
esclarecimento acerca dos degraus de acesso ao oriente e à mesa do Venerável no
REAA. Quantos são?
CONSIDERAÇÕES.
De pronto é preciso
lembrar que o REAA originalmente no seu primeiro ritual (1804) não trazia Oriente
elevado e nem balaustrada separando parte do recinto para o Oriente.
de Aprendiz até o 18º Grau conhecido por Príncipe Rosa Cruz. Isso então significava que essa Obediência francesa passava a ter sob a sua tutela os graus 1º até o 18º, ficando os demais, do 19º (Kadosh) até o 33º (Consistório) sob a autoridade do Supremo Conselho da França.
Nesse sistema misto
de simbolismo e altos graus, a Loja Capitular era dirigida por um Príncipe Rosa
Cruz – em linhas gerais o Athersata era também o Venerável Mestre dos
três primeiros graus.
Sobre o primeiro
ritual do simbolismo do REAA ainda cabem mais alguns comentários.
Em outubro de 1804
era criado em Paris o Segundo Supremo Conselho do REAA com a finalidade de difundir
o Rito na Europa. É bom que se diga que o REAA fora em princípio concebido originalmente
apenas com Altos Graus, isto é, do 4º ao 33º, já que nos EUA, onde se deu o seu
nascimento em 1801 (baseado no Rito de Perfeição, ou Heredom), a prática dos
três primeiros graus era suprida pelo empréstimo de rituais pertinentes às
Lojas Azuis norte-americanas.
E. T., Lojas Azuis
correspondem aos graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre praticados na
Maçonaria dos EUA.
Com isso, quando o REAA
chegou na Europa em 1804, o mesmo não possuía os três primeiros graus.
Cabe destacar que o
termo “simbolismo” ainda não era conhecido na França.
Assim, para suprir
essa lacuna, o Segundo Supremo Conselho então fundou em Paris, em outubro de 1804,
uma Loja Geral Escocesa para organizar e gerir um ritual em França para o simbolismo
do REAA – até então inexistente.
Esse ritual, ainda
com resquícios de costumes das Lojas Azuis norte-americanas trazidos por maçons
franceses que retornavam dos EUA para a França, acabou temperado pela prática dos
autoproclamados “Antigos” da Grande Loja surgida em 1751 na Inglaterra para fazer
oposição aos “Modernos” da Primeira Grande Loja londrina que fora fundada em
1717 (vide essa história).
Boa parte desse
primeiro ritual do REAA então seria influenciado pela exposure atribuída
aos Antigos e conhecida pelo título de The Three Distinct Knocks (As Três
Pancadas Distintas). Esse acontecimento mais tarde acabou dando um viés
anglo-saxônico para o REAA que é reconhecidamente um rito filho espiritual da
França, portanto, latino.
Devido a essa
influência é que o ritual de 1804 do REAA mencionava que o seu espaço de
trabalho era tal qual a sala da Loja do Craft, isto é, na totalidade da sua
extensão tudo ficava no mesmo nível. Não existia separação por balaustrada do
Oriente para o Ocidente.
Nesse mesmo ritual,
o que hoje conhecemos como Colunas do Norte e Sul, ambas se estendiam do
Oriente até o Ocidente. O Oriente, em linhas gerais, era onde ficavam o
Venerável Mestre e as autoridades. Detalhe é que a parede oriental era edificada
em semicírculo.
No que concerne ao Oriente
elevado em relação ao Ocidente do Templo, este costume somente surgiu pelo advento
das Lojas Capitulares, época em que foi, em 1820, construído um outro ritual
que se adequasse às então normas capitulares. É dessa época que a terça parte
da área de trabalho da Loja foi elevada e separada por uma balaustrada com uma
passagem central. Foi desse modo que o Oriente, à moda do Capítulo, acabou
separado e elevado do Ocidente nos Templos do REAA.
Com isso, nas Lojas
Capitulares o acesso para o Oriente era feito por quatro degraus. Na verdade, o
Oriente elevado fora na época concebido para representar o Santuário do Grau Roza
Cruz. Esse espaço, durante os trabalhos da Loja, era ocupado apenas por aqueles
colados no Grau 18 ou acima dele.
Mais tarde, com o
desaparecimento das Lojas Capitulares, já que o Supremo Conselho do REAA havia reivindicado
justamente para si os graus a partir do 4º até o 18º, as modificações
produzidas no ritual das Lojas Capitulares pelo Grande Oriente da França em
1820, modificações essas concernentes à divisão e elevação do Oriente, ao invés
de serem extirpadas, ao contrário, ficaram incorporadas definitivamente no
simbolismo do REAA. Isto é, extinguem-se as Lojas Capitulares, mas o Oriente
das Lojas Simbólicas continua dividido e elevado.
A bem da verdade, não
é de hoje que o REAA vem sofrendo com enxertos e adaptações com práticas que não
lhe dizem respeito.
Com a evolução e o
aprimoramento dos rituais do escocesismo a partir do século XIX na França, a
performance topográfica do Oriente concernente aos quatro degraus de acesso acabaria
se dividindo em um degrau de acesso para o Oriente e três para o sólio.
Contudo, sob o
aspecto doutrinário o simbolismo do REAA requeria a presença de sete degraus
no seu Templo, o que seria então somado aos quatro primeiros de acesso ao
Oriente e ao sólio, mais dois degraus para a cátedra do 1º Vigilante e um
degrau para a do 2º Vigilante.
Ao final, a soma
desses desníveis totaliza o número de 7 degraus, cujo valor simbólico é
incontestável no arcabouço doutrinário do REAA (o setenário do Mestre).
Quanto aos
principais simbolismos desses degraus, esotericamente o número 7 alude ao shabat,
ou o dia da criação (influência hebraica). De modo especulativo é a arte de
criar um elemento humano que seja capaz de produzir templos à virtude universal
(aprimoramento humano). Ainda, por influência anglo-saxônica, o número 7 também
simboliza a presença na Loja das Sete Artes e Ciências Liberais estudadas desde
a Idade Média. Divididas por Boécio em trivium e quadrivium, a
primeira divisão ternária se relaciona com a Gramática, a Retórica e a Lógica
(a arte de bem falar), enquanto a segunda divisão quaternária se pauta com a Aritmética,
a Geometria, a Música e a Astronomia (a arte de conhecer os arcanos do Universo).
Entretanto, no que
diz respeito à disposição correta dos degraus nos templos, sem dúvida ainda
existem muitos deles que seguem rituais equivocados, ou seja, permanecem com o
Oriente elevado, porém acessado por quatro degraus em vez de um apenas como
descrito anteriormente.
Infelizmente essa
contradição, dos quatro degraus de acesso, acabou se generalizando porque ao
longo dos tempos muitos Templos do escocesismo acabariam sendo construídos com número
de degraus à moda capitular ou mesmo copiando outros Ritos. O problema é que
corrigir essa disposição equivocada acaba sendo dispendiosa, resultando muitas vezes
em reformas caras e economicamente inviáveis para as Lojas. Dado a isso é que muitos,
mesmo errados, preferem permanecer como estão.
Ao concluir, reitero
que a maneira mais apropriada para a distribuição dos sete degraus consagrados
no simbolismo do REAA, desde a extinção das Lojas Capitulares (ainda no século
XIX), é a de um degrau para o Oriente, três para o sólio, dois para o 1º Vigilante
e um para o 2º Vigilante – total igual a sete.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
JAN/2021
Fiquei com uma dúvida, existe o ritual de 1804 do REAA?
ResponderExcluirÉ preciso pesquisar no Grande Oriente da França. Como elemento de pesquisa não espere encontrar nada pronto. Esse é um quebra-cabeças que deve ser perscrutado para se montar conclusões. Existem referências na Internet. O contexto histórico é mais importante do que ter um ritual montado. Recomendo estudos nas matérias do Irmão Ailton Pinto de Trindade Branco, presidente da Oficina de Restauração do REAA - Rio Grande do Sul. Boa pesquisa.
ExcluirO erro acaba sendo postergado pelo próprio ritual do GOB, que apresenta 4 degraus para acesso ao oriente.
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