Em 25.05.2022 o Respeitável Irmão José Antônio Cajé, Loja Marcos Zavatta, 263, REAA, GLESP (CMSB), Oriente de São Paulo, Capital, formula a seguinte questão:
TOPO DA COLUNA DO NORTE
Na minha Loja temos uma discussão sobre o TOPO
DA COLUNA DO NORTE.
Em várias palestras que assisti durante a
pandemia, me ficou bastante claro que o Topo da Coluna do Norte é próximo ao Primeiro
Vigilante.
Porem em minha Loja temos irmãos com bastante
tempo de maçonaria que afirmam que o Topo da Coluna é próximo a Balaustrada.
Gostaria de ler a opinião do irmão, bem como alguma
literatura que afirma onde ser o TOPO DA COLUNA DO NORTE.
CONSIDERAÇÕES.
Essa história de que o topo do Norte é próximo
à balaustrada tem sido um erro de interpretação que se encontra há muito tempo inserido
em muitos dos nossos rituais, provavelmente pela falta de se compreender o que
de fato significam, em um templo do REAA, as Colunas do Norte e do Sul.
A primeira coisa que o maçom precisa saber
é que no REAA o templo, ou a sala da loja, representa, de modo figurado, um
segmento do solo terrestre onde os maçons trabalham.
Nesse caso é uma porção retangular
localizada sobre o equador da Terra, cujo comprimento vai de Leste (Oriente)
para o Oeste (Ocidente) e a sua largura vai do Norte ao Sul.
A passagem para se ingressar e sair desse quadrângulo
simbólico se localiza no centro da parede ocidental, mais precisamente sobre o
eixo longitudinal do templo (Equador). Essa porta tem à sua direita e esquerda,
respectivamente, duas Colunas Solsticiais conhecidas como B∴ e J∴
que originalmente, por serem vestibulares (de vestíbulo), ficam no átrio do
templo, embora alguns rituais as coloquem no lado interno.
Nesse conjugado, as Colunas Vestibulares B∴ e J∴
marcam de maneira abstrata a passagem dos trópicos de Câncer ao Norte e
Capricórnio ao Sul. Estar entre colunas não significa, como muitos pensam,
ficar entre as Colunas B∴ e J∴, porém significa ficar sobre o eixo do
templo entre as Colunas do Norte e do Sul. Como mencionado as Colunas
Vestibulares (B∴ e J∴) corretamente ficam no átrio do templo,
portanto não faria sentido que alguém ficasse entre colunas fora do templo.
No interior do recinto retangular que
define os limites do templo, o Oriente, localizado no lado oposto ao Ocidente, se
distingue separadamente do resto do ambiente por estar dividido por uma
balaustrada aberta no centro que serve de ligação entre os dois planos – o oriental
com o ocidental. A peculiaridade do plano oriental é de que ele fique mais
elevado em relação ao piso do Ocidente.
Nesse contexto, o templo simboliza uma
parcela superficial do planeta Terra onde o seu firmamento é a abóbada celeste
e o pavimento mosaico é o solo terrestre. Essas características lhe dão um caráter
de universalidade, sobretudo quando se diz que a Maçonaria é universal e que o
Universo é uma Oficina.
Historicamente, em linhas gerais a Loja representa,
de maneira estilizada, uma oficina operativa de trabalho onde os ancestrais da
Maçonaria - os Pedreiros Livres da Idade Média - construíam para o clero da época
Catedrais, Igrejas, Abadias, Mosteiros, etc.
Dados esses comentários iniciais, vamos
então definir o que são as Colunas do Norte e do Sul no interior de um templo
maçônico do REAA.
Nesse caso, o termo coluna, não significa
um pilar decorativo ou mesmo um elemento de sustentação, porém se trata de um
espaço definido (limitado) dentro do Ocidente da Loja (Oficina).
Mas então, onde fica a Coluna do Norte?
Ela compreende todo o espaço (e o que nela
se acomoda) à esquerda de quem entra no templo pelo Ocidente, tendo por guia o seu
eixo (Equador). Como no globo terrestre, esse espaço recebe o nome de Hemisfério
Norte, só que no caso da Maçonaria o termo hemisfério foi ajustado para “coluna”.
E o topo do Norte?
Bem, o topo do Norte é o lugar localizado mais
ao Norte e distante do equador do templo, no caso é toda a parede setentrional
compreendida entre o canto com a parede ocidental e a balaustrada que separa o
Oriente.
Assim, o topo, que poderíamos ilustrar como
lugar mais próximo ao Polo Norte, é de fato toda a parede Norte do templo, onde
inclusive ficam situadas as seis primeiras Colunas Zodiacais que, dispostas de
modo equidistante umas das outras, a partir de Áries, marcam as estações do ano
que ocorrem no Hemisfério Norte da Terra.
As constelações de Áries, Touro e Gêmeos
marcam a primavera no setentrião e Câncer, Leão e Virgem, também no setentrião,
marcam o verão.
Vale lembrar que no Hemisfério Norte a
primavera começa em 21 de março e marca o alinhamento da Terra e do Sol com a
constelação de Áries.
Dessa forma, iniciaticamente o Aprendiz,
recém-consagrado, ocupa naquele instante lugar junto da Coluna Zodiacal de
Áries, significando que tal como a Natureza que revive na primavera, simbolicamente
o mesmo ocorre com o Aprendiz que, oriundo da Câmara de Reflexão (interior da
Terra), rompe a sua jornada iniciática a partir Áries, a primeira Coluna
Zodiacal no topo do Norte.
Vale mencionar que toda a parede Norte do
templo é lugar dos Aprendizes, pois iniciaticamente, e na medida em que passa o
tempo, eles percorrerão todo esse caminho em direção à Luz – de Áries até
Virgem. Em linhas gerais, essa alegoria solar destaca a infância e adolescência
do iniciado.
E quanto à Coluna do Sul?
Oposta à Coluna do Norte, ela compreende
todo o espaço (e tudo o que nela se abriga) à direita de quem pelo Ocidente ingressa
no templo tendo como guia seu eixo (Equador). Assim, a Coluna do Sul, tal como no
globo terrestre é o hemisfério Sul do templo.
E o topo do Sul? Onde fica?
Do mesmo modo, é o lugar situado mais ao Sul
e distante do Equador do templo, o que se poderia ilustrar como próximo ao Polo
Sul da Terra. No caso, o topo é toda a parede Sul que vai da balaustrada que
separa o Oriente e o canto com a parede ocidental.
É no topo do Sul que ficam situadas as outras
seis Colunas Zodiacais. Dispostas uma a uma de modo equidistante, elas marcam o
outono e o inverno que ocorre no Hemisfério (meia-esfera) Norte do nosso Planeta.
Vale destacar que as estações do ano
ocorrem de maneira oposta conforme o hemisfério. Reitera-se, contudo, que no
caso do REAA, originário da França, portanto do Hemisfério Norte, a referência
é sempre à meia-esfera setentrional da Terra.
Assim, Libra, Escorpião e Sagitário marcam
o outono e Capricórnio, Aquário e Peixes marcam o inverno.
No hemisfério Norte o outono começa em 21
de setembro e baliza o alinhamento da Terra e do Sol com a constelação de Libra.
Nesse cenário equinocial de outono, os
Companheiros ocupam o topo da Coluna do Sul a partir de Libra, pois iniciaticamente
eles representam o ápice da juventude já preparada para o amadurecimento, pois
que as constelações de Capricórnio, Aquário e Peixes, que vem a seguir, marcam o
ciclo do inverno, cujo simbolismo é o da senilidade do Mestre e o fim da vida quando
se encerra a jornada iniciática (meia-noite) – o Mestre, agora purificado pelos
elementos, tal como os ciclos imutáveis da Natureza, renasce na Luz do Oriente.
É a máxima iniciática do morrer para renascer.
Por fim, é dentro desse contexto alegórico
que se define a topografia e a decoração em um templo do REAA, destacando-se
nesse contexto onde ficam os topos das Colunas do Norte e o do Sul.
Ambos, em direção oposta, os topos são os
pontos mais afastados do equador do templo. É a razão pela qual sempre vamos encontrar
a Coluna Zodiacal correspondente à constelação de Câncer no topo do Norte e a
de Capricórnio no topo do Sul. Isso ocorre porque são referenciais que marcam as
declinações máximas do Sol na sua eclíptica, tanto ao Norte como ao Sul.
Se bem observada a Arte, esses
afastamentos, que marcam os períodos solsticiais de inverno e de verão, também
estão presentes na Marcha do Mestre – uma simulação do movimento anual aparente
do Sol.
Como o REAA é um rito solar e que propõe
ao iniciado um caminho comparado aos ciclos imutáveis da Natureza, não faz
sentido algum mencionar que os recém-iniciados ocupem lugar próximo à
balaustrada. Esse tem sido um erro tosco que contradiz a sequência das Colunas
Zodiacais, balizas indicadoras do caminho do iniciado desde o seu nascimento
(primavera) até a sua morte simbólica (inverno).
Finalizando, infelizmente muitos Irmãos que não conseguem compreender a verdadeira
mensagem do Rito, preferem se "agarrar" em ideias anacrônicas e em
rituais que preconizam erros elementares.
No mais, matérias a respeito deste
tema poderão ser encontradas também no meu Blog http://pedro-juk.blogspot.com.br e,
dentre outros, no livro INBRAPEM, página 77 e seguintes, Editora Maçônica A Trolha,
Londrina, novembro de 2007.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
DEZ/2022
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