terça-feira, 10 de janeiro de 2017

PALAVRA SAGRADA

Em 14/11/2016 o Respeitável Irmão Anselmo Westphal Neto, Loja Fraternidade Castrense, REAA, GOB-PR, Oriente de Castro, Estado do Paraná, solicita esclarecimentos para o seguinte:  
PALAVRA SAGRADA.
Com a sua participação no ERAC deste ano realizado aqui em Castro me surgiu a ideia de lhe escrever este e-mail para esclarecer uma dúvida que há muito tempo persiste em nossa Loja. Alguns irmãos da nossa Loja entendem que a palavra sagrada do Grau de Aprendiz, que nos nossos rituais é somente tratada pela inicial "B", se soletra com a letra "O" dobrada, tendo sua principal justificativa que esta é a forma como lhes foram passada. Outros irmãos, incluindo eu, convencidos por diversos trabalhos publicados por irmãos, e em particular em contato com um teólogo calvinista que é pastor da Igreja Evangélica Reformada, onde me explicou a origem da palavra e sua tradução fiel, entendem que a grafia correta é BOAZ. Visto o esforço do GOB esclarecendo o nosso ritual para uma forma mais padronizada da sua execução, gostaria de saber seu ponto de vista e suas justificativas para a forma correta que considera.
CONSIDERAÇÕES:
Muito já se escreveu sobre a de grafia da palavra B\. Alguns escritos dignos de apreciação, entretanto outros nem tanto, já que muitos mais apregoam opiniões pessoais do que tendem a trazer qualquer contribuição para o tema.
Sob a óptica dos escritos confiáveis, muitos autores têm mencionado que a diferença da grafia está nos conformes com as duas principais versões da Bíblia - a Septuaginta, ou "Dos Setenta" e a Vulgata.
A Septuaginta - versão dos "Setenta" ou "Alexandrina" é provavelmente a principal variante grega, de acordo com a sua antiguidade e autoridade. Sua redação deu-se a partir da Bíblia hebraica no período de 275 - 100 a. C., sendo usada pelos judeus de língua grega ao invés do texto hebreu. Quanto ao título "Dos Setenta", esse se deve ao fato de que a tradição judaica atribui sua tradução a 70 sábios judeus helenistas, enquanto que o título "Alexandrina" é por ter sido redigida em Alexandrina. Nessa versão a palavra tem a sua escrita como BOAZ.
A versão da Vulgata - no sentido em curso, Vulgata é a tradução para o latim da Bíblia escrita entre fins do século IV início do século V por São Jerônimo por determinação do Papa Dâmaso I, cuja versão bíblica seria usada pela Igreja Cristã. Essa mesma Igreja, que nos seus primeiros séculos de existência comumente se servira da língua grega, após a tradução latina (Vulgata), destacando-se mais tarde a edição de 1.532, teria essa versão consolidada e, no que diz respeito à grafia da palavra, objeto dessas considerações, ela seria escrita como BOOZ.
Outro fato não menos importante é aquele ocorrido por ocasião da Reforma Protestante que quebraria o monopólio latino da língua - a tradução da Bíblia por Martinho Lutero para o idioma alemão. Nessa tradução germânica destaque-se a grafia da palavra como BOAZ.
Além da concepção protestante germânica, na inglesa de tradução bíblica, o termo BOOZ é desconhecido, nela o conhecido é BOAZ.
Também a grafia BOOZ é desconhecida no vernáculo hebraico, senão aquela que menciona BOAZ.
Sob esse prisma a grafia correta da palavra é BOAZ, já que BOOZ é uma corruptela da palavra apropriada adquirida por equivoco de São Jerônimo na ocasião em que fez a tradução para o latim. Em linhas gerais a conservação dessa corruptela deu-se pela Igreja Católica alegando respeito ao tradutor bíblico (São Jerônimo) e resolveu manter a tradição da Vulgata. Como se pode notar não é só na Maçonaria que os "entendidos" preferem manter erros crassos.
Reforçando qual é o termo correto, transcrevo a opinião de um conhecedor do idioma hebraico. Disse o Irmão:
"(...) acho que não se precisa nem de São Jeronimo, nem de Martin Luther (que não gostava de judeus) nem da Versão dos Setenta (feita para judeus tão helenizados que não sabiam mais ler hebraico). Peguem qualquer judeu que se preze (ou um que não se preza como eu) e vamos ao texto hebraico do Livro de Ruth. Está lá: Letra Beit (é o som do ), mais o sinal vocálico do som do Ó (é um pontinho), mais a letra Áiin com o sinal vocálico de A mais a letra Záin que sempre tem som de . Resultado: BOAZ".
No que diz respeito à Maçonaria é facilmente compreensível o uso das duas palavras dependendo da sua vertente maçônica. No Craft inglês e, por extensão no Americano, dentre outros costumes anglo-saxônicos, a palavra é BOAZ, enquanto que na vertente latina (francesa), da qual pertence o REAA\, não na sua totalidade, porém na sua grande maioria, a palavra, influenciada pela Vulgata (latina por excelência), é BOOZ.
Assim, Maçonaria brasileira - filha espiritual da França - acabaria nos ritos de origem francesa por adotar o uso da corruptela (BOOZ), tornando-se um elemento consuetudinário, sobretudo no Rito Escocês Antigo e Aceito.
Dadas essas considerações, devido ao caráter de segredo do Grau imposto à palavra no Rito Escocês na sua forma de transmitir, não existe oficialmente uma orientação para o uso da palavra BOAZ ou da corruptela BOOZ no Grande Oriente do Brasil, senão o costume de se escrever e pronunciar BOOZ, mesmo que já exaustivamente provado não existir originalmente a palavra escrita com as consoantes "oo" dobradas.
Penso que a Maçonaria como investigadora da Verdade e dela fazendo parte o Grande Oriente do Brasil, precisa urgentemente rever esses conceitos amparados por tradições anacrônicas. Se a palavra correta é BOAZ, que sentido teria então o uso de uma corruptela? O grande problema de muitos maçons brasileiros que "acham" que são grandes conhecedores dos fatos está na enxurrada de rituais publicados na Maçonaria Brasileira ao longo da sua história. Infelizmente esses Irmãos têm essa coleção de equívocos, palpites, invenções e enxertos como fosse ela uma documentação primária. Desse modo, somos obrigados apenas a apontar os absurdos para que alguns possam avaliar melhor a situação - me disse um dia um grande Mestre: não perca tempo discutindo com crânios blindados.
Enquanto esse e outros equívocos se fazem presentes, sugiro que Irmãos esclarecidos e de posse de fontes verdadeiras, na medida do possível, pelo menos ministrem instrução esclarecendo os fatos sobre o assunto.
Por fim, sugiro ao o Irmão que consulte uma excelente Peça de Arquitetura intitulada "Discussões Bíblicas - BOOZ ou BOAZ" do respeitável Irmão Willian Almeida de Carvalho (encontrada na Internet) que, em minha opinião, fecha o assunto e dá subsídios para pesquisa sobre o tema.
E.T. - cuidado com essas discussões oriundas de grupos de orientação formados na Internet. Lá, a grande maioria diz o que pensa, sem que haja um debate acadêmico e uma analise ponderada dos fatos. Aliás, pelo que eu pude perceber desses grupos, cada um diz aquilo que lhe convém.
T.F.A.
PEDRO JUK     jukirm@hotmail.com

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