Em 01/12/2017 o Respeitável Irmão
Nelson Luiz Ribas Pessa, Loja Amor e Liberdade, 2427, REAA, GOB-PR, Oriente de
Ivaiporã, Estado do Paraná, formula a questão abaixo.
QUEM INSTRUI OS APRENDIZES NA LOJA.
Irmão Pedro, estamos com uma duvida em nossa Loja, e ela tem sido
matéria de debates na Loja.
Quem é o Responsável direto pelo aprendizado dos Irmãos Aprendizes?
Em minha opinião deve tal função estar a cargo do Irmão 1º Vigilante,
pois eles estão
na sua Coluna, e é a Coluna da Força.
Entretanto no ritual de Aprendiz, à pagina 174 esta escrito que é função
do 2º Vig as instruções.
Favor me esclarecer tal questão meu irmão.
Lembro me ter lido literatura a respeito disso, entretanto me foge a
lembrança.
CONSIDERAÇÕES
No caso do Rito Escocês Antigo e Aceito
esse é um equívoco que quase todos cometem quando associam ou acham que é o
Vigilante da Coluna o responsável pela instrução. Por esse pormenor seguem algumas
ponderações a respeito.
Respeitando
acima de tudo a tradição, em se tratando da Moderna Maçonaria, quem instrui os
Aprendizes é mesmo o Segundo Vigilante, enquanto que os Companheiros é o
Primeiro.
Essa
prática se dá por razão à hierarquia dos cargos da Loja e não pelo fato de que
se deva coincidir com o Vigilante de uma respectiva Coluna.
Cabe
então mencionar aspectos litúrgicos relacionados para explicar os fatos.
Nos
ritos maçônicos que nasceram no hemisfério Norte, sempre os Aprendizes ocuparão
o Norte e os Companheiros o Sul. Isso se dá inclusive nos ritos que por razões
culturais tradicionalmente invertem os seus Vigilantes (o Primeiro no Sul e o
Segundo no Norte) como é o caso do Rito Moderno, ou Frances e o Rito
Adonhiramita. Mesmo nesses ritos, os Aprendizes permanecem ocupando o Norte e
os Companheiros o Sul, excetuando-se algum rito que porventura tenha nascido no
hemisfério Sul, a exemplo do Rito Brasileiro onde nele os Aprendizes ocupam o
meridião e os Companheiros o setentrião.
Para
que se possa compreender esse costume é preciso antes se despir da fantasia de que
um templo maçônico foi concebido como cópia fiel do imaginário Templo de
Jerusalém – digo imaginário porque não existe ainda comprovação científica da
sua existência. O Templo de Jerusalém é uma alegoria maçônica e não um arquétipo
ou estereótipo dos templos maçônicos.
Na
realidade o templo maçônico, na concepção cósmica deísta (francesa), representa
um segmento da superfície terrestre situado sobre o equador, cujos limites são os
pontos cardeais, seu piso é o solo terrestre e a sua cobertura o firmamento.
Esse espaço também representa alegoricamente um canteiro de obras onde os
maçons especulativos trabalham no seu próprio aperfeiçoamento e na construção
de um Templo à Virtude Universal. É nesse espaço que por razões iniciáticas,
Aprendizes e Companheiros ocupam os quadrantes Norte e Sul da Loja na Moderna
Maçonaria.
Dados
esses comentários indispensáveis, segue então a razão histórica do ministério
de instrutor dado a cada Vigilante na Loja maçônica – a propósito, veja também no
Blog do Pedro Juk, http://pedro-juk.blogspot.com.br
in Peças de Arquitetura, o trabalho:
Varas, Bastões, Hastes; Objetos de Ofício na Liturgia Maçônica, datado de
janeiro/2018. Esse escrito/tradução traz comentários e informações a respeito
dos Vigilantes.
Na
Maçonaria de Ofício, antecessora da Maçonaria dos Aceitos e na época dos
canteiros medievais, quando não existiam ainda nem ritos e nem templos
maçônicos, os maçons se reuniam literalmente nos canteiros de obras.
Naqueles
tempos, quando da admissão de um novo membro na Guilda de Construtores, o que
se dava geralmente no solstício de verão europeu (dia de São João, o Batista),
costumeiramente era o Segundo Vigilante (warden
= zelador, diretor) que recebia o
candidato à admissão e lhe ministrava as primeiras instruções.
Instruído
e informado, o candidato a Aprendiz era então conduzido até o Primeiro
Vigilante que fazia uma prece em seu favor (influência religiosa da Igreja
Católica). Ato contínuo o candidato era recebido na forma de costume pelo
Mestre da Obra que lhe tomava a “obrigação” diante do Evangelho de São João,
entregando-lhe em seguida, um par de luvas e o avental operativo. O candidato
então era constituído Aprendiz Admitido no Ofício e o Segundo Vigilante (warden)
o conduzia até às ferramentas de trabalho para lhe ensinar os segredos da
profissão.
Observação:
o Mestre da Loja não era grau de Mestre Maçom. Era sim um Companheiro
experimentado.
Constituído
Aprendiz, o artífice para receber promoção profissional, geralmente após três
ou cinco anos de aprendizado, era então proposto e instruído para se tornar um
Companheiro do Ofício. Nessa oportunidade, quem o recebia era o Primeiro Vigilante, ocasião em que examinava a habilidade do postulante no
exercício da profissão. Certificando-se da qualidade, o Primeiro Vigilante então
ministrava ao aspirante às instruções finais e por fim o recomendava ao Mestre
da Obra para que ele fosse constituído Companheiro de Ofício (Fellow Craft) na associação.
Assim,
essa é uma síntese de como era o processo ancestral de Iniciação e da promoção
profissional nos tempos da Francomaçonaria. Destaque-se que a menção é feita à
Maçonaria Operativa, fato que nada se comparava na época ao simbolismo
especulativo que hoje conhecemos através da Moderna Maçonaria. Tratava-se
literalmente do ofício rude perpetrado dentro de um canteiro de obras medieval.
É
oportuno também relembrar que naquela época a Maçonaria de Ofício, ou Operativa
era constituída apenas por duas classes profissionais - a dos Aprendizes da
Arte e a dos Companheiros do Ofício. Não existiam graus especulativos tais como
hoje os conhecemos. O encarregado do canteiro de obras, como já mencionado, era
um Companheiro escolhido entre os mais experientes da Guilda e era tratado como
o Mestre daquela obra.
Ratifica-se
também que à época da Maçonaria Operativa não existiam templos maçônicos e nem
mesmo graus especulativos. Tudo se resumia no ofício. Atualmente a sala da Loja,
ou o templo maçônico representa simbolicamente esse canteiro de obras.
No
passado era então o Segundo Vigilante quem recebia e instruía os Aprendizes,
enquanto o Primeiro recebia e instruía os Companheiros. Esse costume, por fim,
acabou sendo preservado na liturgia por alguns ritos da Moderna Maçonaria, a
exemplo do REAA\ que, emblematicamente,
atribui ao seu Segundo Vigilante a missão de instruir os Aprendizes e ao seu Primeiro,
os Companheiros.
Destaque-se
que isso nada tem a ver com a Coluna que o Vigilante ocupa. Assim, Aprendizes
ocupam o Norte e são instruídos pelo Segundo Vigilante que está no Sul. Do
mesmo modo os Companheiros ocupam o Sul e o Primeiro Vigilante do Norte os
instrui.
Sob
essa óptica é que bons rituais por razões históricas preservam essa tradição como
um elemento figurado de interpretação, embora também seja sabido que na
Maçonaria Especulativa é dever de qualquer Mestre Maçom exercer o ofício de
instruir.
É
verdade também que existem muitos rituais escoceses equivocados em vigência e adotados
pelas Obediências, cujos quais não seguem a autenticidade dessa regra,
inclusive contradizendo as origens e costumes da Ordem - infelizmente eles
existem por obra de ritualistas que anacronicamente “acham” que o Vigilante é
dono da Coluna que ele ocupa - o que não é verdade.
Outra
consideração relevante é a de que na Moderna Maçonaria existem também práticas litúrgicas
distintas umas das outras devido aos ritos e rituais adotados, pois nem todos eles
necessariamente seguem a mesma ritualística por condição do seu arcabouço
doutrinário e da vertente a que pertencem (deísta ou teísta). Entenda-se que
muitos ritos maçônicos nasceram e adotaram paulatinamente a sua própria
liturgia. É de se saber que o objetivo maçônico é único, entretanto os ritos e
os rituais determinam a forma de trabalho no canteiro da Loja. Não há como se
imaginar que tudo seja igual na Sublime Instituição em se tratando de
ritualística maçônica.
Concluindo,
são esses os apontamentos relativos às instruções e quem as ministra aos
Aprendizes e Companheiros, particularmente no Rito Escocês Antigo e Aceito. A
questão não é a de opinião, mas a de raízes históricas. No escocesismo,
atendendo à tradição, os Aprendizes no Norte recebem instrução do Segundo
Vigilante que ocupa o Sul, enquanto que os Companheiros no Sul são instruídos pelo
Primeiro Vigilante que ocupa o Norte. Assim, o Ritual do GOB, nesse sentido,
está corretíssimo ao observar essa hierarquia.
E.T.
– Corroborando com a ideia de que nem tudo é igual na Maçonaria, vide o Craft Inglês
que aqui no Brasil é conhecido também como Rito de York. Nele a Pedra Bruta fica junto ao
Segundo Vigilante no Sul e os
Aprendizes sentam-se no lado oposto ao nordeste
da sala da Loja, enquanto que a Pedra
Cúbica fica junto ao Primeiro Vigilante no extremo do Ocidente e os Companheiros ficam
lado Sul da Loja. Esse é um
fato que demonstra perfeitamente não haver obrigatoriedade de que o instrutor e
o instruído precisem ocupar o mesmo lado da Loja, já que nem mesmo as Joias
Fixas obedecem a essa situação.
T.F.A.
PEDRO JUK
MARÇO/2018
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