Em 23/06/2017 o Irmão Carlos Alberto
Azevedo, Loja Estrela do Mar, REAA, GOB-PR, Oriente de Matinhos, Estado do
Paraná, pede esclarecimentos.
COLUNETAS NO REAA
Por gentileza me tire uma duvida. Em visita minha a várias Lojas percebo
que nas mesas dos Vigilantes e na do Venerável tem as colunetas e em minha Loja
não se usa, mas lendo sobre elas entendi o seu significado por isso quero saber
se há problema em usá-las em nossa Loja já que temo-las?
CONSIDERAÇÕES
Já escrevi bastante
sobre isso. Tudo não passa de “achismo” e “enxerto” em se tratando do Rito
Escocês Antigo e Aceito original.
Antes, porém de se
tratar especificamente do assunto “colunetas”, se faz cogente observar primeiro
alguns tópicos sobre a simbologia que envolve as Colunas simbólicas relativas
às Luzes que dirigem a Loja.
As virtudes da Sabedoria,
Força e Beleza se referem às Colunas abstratas da Sabedoria, o Venerável Mestre;
da Força, o Primeiro Vigilante e da Beleza, o Segundo Vigilante. Em resumo elas
são uma espécie de sustentáculo da moral maçônica – as Luzes da Loja.
A origem desse
simbolismo está na Tábua de Delinear (Tracing
Board) do Primeiro Grau do Craft Inglês – no Trabalho, ou Ritual de
Emulação.
Nele, durante as preleções
do Primeiro Grau, as quais explicam o conteúdo da Tábua, essas virtudes são especificamente
comentadas. Elas aparecem no pedestal de três Colunas das Ordens de Arquitetura
Grega, a Jônica, a Dórica e a Coríntia que arranjam, dentre outros, parte do
conteúdo do quadro delineado.
Ao pé de cada uma
dessas Colunas aparecem as iniciais W (wisdom – sabedoria), S (strenght – força) e B
(beauty – beleza).
Ocorre, entretanto,
que essa é uma alegoria da vertente inglesa de Maçonaria e não da vertente francesa
de onde o REAA\ é oriundo.
Observo ser
primordial que todo estudante de Maçonaria conheça pelo menos o mínimo da
origem das duas vertentes principais – a inglesa (teísta) e a francesa
(deísta).
Na simbologia do
escocesismo as três Ordens de Arquitetura não são visíveis nem palpáveis, pelo
menos de modo explícito, já que o conteúdo do Painel do Primeiro Grau
originário da Maçonaria francesa é diferente do da Tábua de Delinear da
Maçonaria inglesa.
Entretanto, por
questões históricas o REAA\ acabou também sendo
influenciado pela Maçonaria anglo-saxônica, o que aconteceu desde a criação dos
seus primeiros rituais simbólicos que se deram na França em 1804 por maçons
franceses de retorno da América do Norte onde participavam das Lojas Azuis
norte-americanas, conhecidas como Rito de York Americano que, por conseguinte é
originário do sistema “antigo inglês” (Antigos da Grande Loja de 1751) e foi organizado
em solo norte-americano por Thomas Smith Webb.
Foram os maçons
franceses oriundos da América do Norte que deram uma roupagem anglo-saxônica ao
REAA\ numa época em que a Maçonaria francesa
apenas conhecia a vertente dos Modernos ingleses (os da Primeira Grande Loja de
1717) – daí o título Rito Moderno ou Francês dado na França.
O termo “Antigo” (dos
maçons antigos) que faz parte do título distintivo do Rito Escocês é oriundo
dessa época e deu-se porque muitos costumes da liturgia inglesa passariam, a
partir daí, a fazer parte do escocesismo simbólico que acabara de nascer
na França em 1804 pelo seu primeiro ritual. O título Rito Escocês Antigo e
Aceito, muito conhecido na Europa com Rito Antigo e Aceito alude ser um rito dos maçons antigos e dos maçons aceitos.
PAINEL DA LOJA |
Assim é que as três Ordens de Arquitetura
e às virtudes da Sabedoria, Força e Beleza acabariam, como um dos costumes antigos,
por fazer parte também das instruções do
escocesismo, mesmo que não aparentes no Painel da Loja como aparecem na Tábua
de Delinear inglesa do Ritual de Emulação, mas de modo abstrato[1]
e comentado pela dialética das instruções. Isso pode ser conferido nas
instruções do Primeiro Grau do Ritual do REAA\ em vigência no GOB
onde a Sabedoria a Força e a Beleza são mencionadas, assim como pode também ser
observado que no Painel da Loja do Rito Escocês não aparecem às mencionadas Colunas
com as três Ordens de Arquitetura – no Painel do escocesismo aparecem apenas as
Colunas Solsticiais B\ e J\
que nada tem a ver com aquelas relativas às Ordens de Arquitetura.
Cabe aqui uma
observação: Na vertente inglesa o Painel é tratado como Tábua de Delinear (Tracing Board), enquanto que na vertente
francesa ele é simplesmente o Painel da Loja, ou do Grau. O que se diferencia
entre ambos são os seus conteúdos, como se pode ver nas
figuras ao lado.
Retomando o raciocínio, explico que esse
comentário foi necessário para mostrar que verdadeiramente existem inúmeros
enxertos e acréscimos de práticas alienígenas nos Ritos e Trabalhos maçônicos,
lembrando que se o objetivo da Maçonaria é um só - o de aprimorar o Homem - os
métodos e as doutrinas, ao contrário, se diferenciam em muitas oportunidades.
Assim não há como se generalizar a ritualística e a liturgia maçônica como
fosse ela sempre a mesma coisa. Tudo depende de cada esboço doutrinário.
TÁBUA DE DELINEAR |
Nos Trabalhos de
Emulação (inglês), na sua ritualística original existem três colunetas que representam
miniaturas das Ordens de Arquitetura grega, existindo inclusive para duas delas
práticas litúrgicas particulares. Saliente-se que colunetas não fazem parte da
decoração e nem da ritualística de uma Loja do REAA\,
embora, como já mencionado, o Rito Escocês também possua influência
anglo-saxônica.
No Ritual de Emulação,
às vezes aparece sobre o pedestal[2]
do Venerável Mestre uma pequena coluna que imita a Ordem Jônica a qual
permanece sempre estática. Ela simboliza a Sabedoria (essa coluneta nem sempre
é adotada pelas Lojas). Sobre o pedestal do Primeiro Vigilante vai outra
pequena coluna relativa à Ordem Dórica e é o símbolo da Força. Sobre o pedestal
do Segundo Vigilante, uma relacionada à Ordem Coríntia que representa a Beleza.
Já para as duas colunetas
que ficam junto aos Vigilantes (obrigatórias), existem movimentos ritualísticos,
o que se dá conforme o desenvolvimento dos trabalhos da Loja. A coluneta Dórica
é colocada em pé pelo Primeiro Vigilante assim que os trabalhos são declarados
abertos, enquanto que a Coríntia simultaneamente é colocada deitada pelo
Segundo Vigilante. Se a Loja entrar em recreação, for suspensa ou encerrada,
procede-se de modo inverso – o Primeiro Vigilante deita a sua coluneta e
Segundo levanta a sua. Essa ritualística é própria dos Trabalhos de Emulação,
também conhecido por aqui como Rito de York (inglês).
Quanto à existência
dessas colunetas na decoração e ritualística do REAA\,
tal como acontece no Ritual de Emulação, simplesmente elas não existem, pois
não fazem parte da liturgia do escocesismo.
- Então por que delas
aparecerem em algumas Lojas e Rituais do escocesismo simbólico?
Explica-se: é puro
produto de enxertia copiada de elementos litúrgicos de outra vertente maçônica;
no caso, do Ritual de Emulação.
Aliás, diga-se de
passagem, isso tem sido prática muito comum na Maçonaria Tupiniquim, sobretudo
pela desenfreada profusão de rituais editados ao longo dos tempos no Brasil e
seguida por muitos “pseudos-ritualistas” que cometem toda a sorte de absurdos
ao inserir bisonhamente praticas de uns em outros ritos transformando-os em
verdadeiras colchas de retalho.
Ainda no Brasil,
existem aqueles que no afã de buscar reconhecimento internacional para a sua
Obediência, como o que aconteceu na primeira metade do século XX, acabaram por
trazer muitas práticas ritualísticas do Craft norte-americano e, por
conseguinte, da vertente inglesa, inserindo-as desafortunadamente no REAA\
que é um rito originário da França[3].
Foi assim que, dentre
outros enxertos, as “colunetas” acabaram equivocadamente aportando em um rito
que nunca as deteve na sua liturgia – é o caso do REAA\.
Em se tratando de
mistura de procedimentos estranhos que ocorre com alguns rituais brasileiros do
REAA\, além das colunetas, também as acompanhou a
Tábua de Delinear inglesa que foi inescrupulosamente colocada na Loja escocesa junto
com o Painel do Grau, fazendo com que o REAA\ passasse, de uma
hora para outra, a ter no seu mobiliário não um; mais dois Painéis! Um, o seu
original (o francês) e o outro, o enxertado (o inglês).
Como a boca se
entorta conforme o hábito do cachimbo e buscando a lei do menor esforço,
simplesmente inventou-se no REAA\ um nome para a Tábua
de Delinear enxertada dando-lhe o título de Painel Alegórico, cujo qual foi
parar no Oriente da Loja e acabou misturando símbolos do Ritual de Emulação com
os símbolos do escocesismo. Para conferir essa miscelânea basta comparar o
conteúdo do Painel Loja e da Tábua, chamada de Painel Alegórico, cuja qual pode
ser encontrada em alguns rituais escoceses enxertados existentes na nossa
Maçonaria.
É por isso que muitas
explicações litúrgicas inseridas em alguns rituais acabam encontrando
contradições que recebem justificativas nada convincentes, como são os casos
das intrusas “colunetas” - objetos inexistentes no REAA\.
Dados esses
comentários e respondendo por fim a sua questão, as “colunetas”, em que pese
existir vertente anglo-saxônica no Rito Escocês, elas não podem ser usadas,
isso porque simplesmente elas não são elementos da liturgia do escocesismo.
Reforça ainda essa afirmativa o próprio diploma legal a despeito de que essa alegoria
não é nem mesmo mencionada no Ritual do Aprendiz – REAA, em vigência do GOB,
edição 2009.
Para cada símbolo e
para cada elemento decorativo que compõe a liturgia de um rito, existe uma
explicação. O conjunto dessa alegoria é disposto para formatar o arcabouço
doutrinário de um Rito. Enxertá-lo com elementos estranhos à sua cultura e
tradição, altera o seu conjunto de princípios que servem de base para a
essência do seu sistema de ensino e de filosofia.
Dando por concluído,
ao escrever essa resposta procurei cercar o assunto com justificativas, o que
pode ter dado aparência de desvio de finalidade, todavia isso foi proposital
para que o consulente possa perceber o quanto a ritualística maçônica é
suscetível às sutilezas que podem lhe dar sentido.
T.F.A.
PEDRO JUK
SET/2017
[1] Sabedoria, Força e Beleza aparecem mencionadas
na instrução do REAA, mas não se vê nenhuma gravura relacionada às Ordens
Jônica, Dórica e Coríntia e nem aparecem como símbolos visíveis palpáveis no
mobiliário da Loja.
[2] Pedestal – não existe mesa, ou altar.
Apena um pequeno móvel que serve de apoio para o ofício do Venerável e dos
Vigilantes.
[3] Busca de reconhecimento nas Grandes
Lojas norte-americanas para as recém fundadas Grandes Lojas brasileiras – Mário
Marinho Béhring em 1927; cisão no Grande Oriente do Brasil.
Prezado Irmão Pedro Juk,seu trabalho merece respeito. Muito bom. Todavia,não esclareceu nem justificou o por que de as colunas dos Vigilantes,no REAA, terem momentos para serem abaixadas e levantadas.Fico no aguardo da sua explicação. Se possível,mande essa resposta para meu E-mail: jfsoaresdafonseca@gmail.com
ResponderExcluirJosé Fernando Soares da Fonseca, Mestre Instalado,Grau 33, membro da Loja Maçônica Amor e Justiça, Nº59, jurisdicionada a Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia. Cadastro maçônico 19235, cadastro no Supremo Conselho do REAA,71879
Meu caro Irmão, envie sua questão para o meu e-mail jukirm@hotmail.com
ResponderExcluirIndique seu nome, Rito, Loja, Obediência, Oriente e Estado da Federação.