terça-feira, 5 de setembro de 2017

RITUALÍSTICA - COLUNETAS NO REAA?

Em 23/06/2017 o Irmão Carlos Alberto Azevedo, Loja Estrela do Mar, REAA, GOB-PR, Oriente de Matinhos, Estado do Paraná, pede esclarecimentos.

COLUNETAS NO REAA

Por gentileza me tire uma duvida. Em visita minha a várias Lojas percebo que nas mesas dos Vigilantes e na do Venerável tem as colunetas e em minha Loja não se usa, mas lendo sobre elas entendi o seu significado por isso quero saber se há problema em usá-las em nossa Loja já que temo-las?

CONSIDERAÇÕES

Já escrevi bastante sobre isso. Tudo não passa de “achismo” e “enxerto” em se tratando do Rito Escocês Antigo e Aceito original.
Antes, porém de se tratar especificamente do assunto “colunetas”, se faz cogente observar primeiro alguns tópicos sobre a simbologia que envolve as Colunas simbólicas relativas às Luzes que dirigem a Loja.
As virtudes da Sabedoria, Força e Beleza se referem às Colunas abstratas da Sabedoria, o Venerável Mestre; da Força, o Primeiro Vigilante e da Beleza, o Segundo Vigilante. Em resumo elas são uma espécie de sustentáculo da moral maçônica – as Luzes da Loja.
A origem desse simbolismo está na Tábua de Delinear (Tracing Board) do Primeiro Grau do Craft Inglês – no Trabalho, ou Ritual de Emulação.
Nele, durante as preleções do Primeiro Grau, as quais explicam o conteúdo da Tábua, essas virtudes são especificamente comentadas. Elas aparecem no pedestal de três Colunas das Ordens de Arquitetura Grega, a Jônica, a Dórica e a Coríntia que arranjam, dentre outros, parte do conteúdo do quadro delineado.
Ao pé de cada uma dessas Colunas aparecem as iniciais W (wisdom – sabedoria), S (strenght – força) e B (beauty – beleza).
Ocorre, entretanto, que essa é uma alegoria da vertente inglesa de Maçonaria e não da vertente francesa de onde o REAA\ é oriundo.
Observo ser primordial que todo estudante de Maçonaria conheça pelo menos o mínimo da origem das duas vertentes principais – a inglesa (teísta) e a francesa (deísta).
Na simbologia do escocesismo as três Ordens de Arquitetura não são visíveis nem palpáveis, pelo menos de modo explícito, já que o conteúdo do Painel do Primeiro Grau originário da Maçonaria francesa é diferente do da Tábua de Delinear da Maçonaria inglesa.
Entretanto, por questões históricas o REAA\ acabou também sendo influenciado pela Maçonaria anglo-saxônica, o que aconteceu desde a criação dos seus primeiros rituais simbólicos que se deram na França em 1804 por maçons franceses de retorno da América do Norte onde participavam das Lojas Azuis norte-americanas, conhecidas como Rito de York Americano que, por conseguinte é originário do sistema “antigo inglês” (Antigos da Grande Loja de 1751) e foi organizado em solo norte-americano por Thomas Smith Webb.
Foram os maçons franceses oriundos da América do Norte que deram uma roupagem anglo-saxônica ao REAA\ numa época em que a Maçonaria francesa apenas conhecia a vertente dos Modernos ingleses (os da Primeira Grande Loja de 1717) – daí o título Rito Moderno ou Francês dado na França.
O termo “Antigo” (dos maçons antigos) que faz parte do título distintivo do Rito Escocês é oriundo dessa época e deu-se porque muitos costumes da liturgia inglesa passariam, a partir daí, a fazer parte do escocesismo simbólico que acabara de nascer na França em 1804 pelo seu primeiro ritual. O título Rito Escocês Antigo e Aceito, muito conhecido na Europa com Rito Antigo e Aceito alude ser um rito dos maçons antigos e dos maçons aceitos.
PAINEL DA LOJA
Assim é que as três Ordens de Arquitetura e às virtudes da Sabedoria, Força e Beleza acabariam, como um dos costumes antigos, por fazer parte também  das instruções do escocesismo, mesmo que não aparentes no Painel da Loja como aparecem na Tábua de Delinear inglesa do Ritual de Emulação, mas de modo abstrato[1] e comentado pela dialética das instruções. Isso pode ser conferido nas instruções do Primeiro Grau do Ritual do REAA\ em vigência no GOB onde a Sabedoria a Força e a Beleza são mencionadas, assim como pode também ser observado que no Painel da Loja do Rito Escocês não aparecem às mencionadas Colunas com as três Ordens de Arquitetura – no Painel do escocesismo aparecem apenas as Colunas Solsticiais B\ e J\ que nada tem a ver com aquelas relativas às Ordens de Arquitetura.
Cabe aqui uma observação: Na vertente inglesa o Painel é tratado como Tábua de Delinear (Tracing Board), enquanto que na vertente francesa ele é simplesmente o Painel da Loja, ou do Grau. O que se diferencia entre ambos são os seus conteúdos, como se pode ver nas figuras ao lado.
Retomando o raciocínio, explico que esse comentário foi necessário para mostrar que verdadeiramente existem inúmeros enxertos e acréscimos de práticas alienígenas nos Ritos e Trabalhos maçônicos, lembrando que se o objetivo da Maçonaria é um só - o de aprimorar o Homem - os métodos e as doutrinas, ao contrário, se diferenciam em muitas oportunidades. Assim não há como se generalizar a ritualística e a liturgia maçônica como fosse ela sempre a mesma coisa. Tudo depende de cada esboço doutrinário.
TÁBUA DE DELINEAR
Dados esses superficiais comentários e conhecida a origem da tríade imaginária e o seu símbolo representado pelas três Ordens de Arquitetura, é possível então dissertar alguma coisa sobre as “colunetas” que foram o objeto da sua questão.
Nos Trabalhos de Emulação (inglês), na sua ritualística original existem três colunetas que representam miniaturas das Ordens de Arquitetura grega, existindo inclusive para duas delas práticas litúrgicas particulares. Saliente-se que colunetas não fazem parte da decoração e nem da ritualística de uma Loja do REAA\, embora, como já mencionado, o Rito Escocês também possua influência anglo-saxônica.
No Ritual de Emulação, às vezes aparece sobre o pedestal[2] do Venerável Mestre uma pequena coluna que imita a Ordem Jônica a qual permanece sempre estática. Ela simboliza a Sabedoria (essa coluneta nem sempre é adotada pelas Lojas). Sobre o pedestal do Primeiro Vigilante vai outra pequena coluna relativa à Ordem Dórica e é o símbolo da Força. Sobre o pedestal do Segundo Vigilante, uma relacionada à Ordem Coríntia que representa a Beleza.
Já para as duas colunetas que ficam junto aos Vigilantes (obrigatórias), existem movimentos ritualísticos, o que se dá conforme o desenvolvimento dos trabalhos da Loja. A coluneta Dórica é colocada em pé pelo Primeiro Vigilante assim que os trabalhos são declarados abertos, enquanto que a Coríntia simultaneamente é colocada deitada pelo Segundo Vigilante. Se a Loja entrar em recreação, for suspensa ou encerrada, procede-se de modo inverso – o Primeiro Vigilante deita a sua coluneta e Segundo levanta a sua. Essa ritualística é própria dos Trabalhos de Emulação, também conhecido por aqui como Rito de York (inglês).
Quanto à existência dessas colunetas na decoração e ritualística do REAA\, tal como acontece no Ritual de Emulação, simplesmente elas não existem, pois não fazem parte da liturgia do escocesismo.
- Então por que delas aparecerem em algumas Lojas e Rituais do escocesismo simbólico?
Explica-se: é puro produto de enxertia copiada de elementos litúrgicos de outra vertente maçônica; no caso, do Ritual de Emulação.
Aliás, diga-se de passagem, isso tem sido prática muito comum na Maçonaria Tupiniquim, sobretudo pela desenfreada profusão de rituais editados ao longo dos tempos no Brasil e seguida por muitos “pseudos-ritualistas” que cometem toda a sorte de absurdos ao inserir bisonhamente praticas de uns em outros ritos transformando-os em verdadeiras colchas de retalho.
Ainda no Brasil, existem aqueles que no afã de buscar reconhecimento internacional para a sua Obediência, como o que aconteceu na primeira metade do século XX, acabaram por trazer muitas práticas ritualísticas do Craft norte-americano e, por conseguinte, da vertente inglesa, inserindo-as desafortunadamente no REAA\ que é um rito originário da França[3].
Foi assim que, dentre outros enxertos, as “colunetas” acabaram equivocadamente aportando em um rito que nunca as deteve na sua liturgia – é o caso do REAA\.
Em se tratando de mistura de procedimentos estranhos que ocorre com alguns rituais brasileiros do REAA\, além das colunetas, também as acompanhou a Tábua de Delinear inglesa que foi inescrupulosamente colocada na Loja escocesa junto com o Painel do Grau, fazendo com que o REAA\ passasse, de uma hora para outra, a ter no seu mobiliário não um; mais dois Painéis! Um, o seu original (o francês) e o outro, o enxertado (o inglês).
Como a boca se entorta conforme o hábito do cachimbo e buscando a lei do menor esforço, simplesmente inventou-se no REAA\ um nome para a Tábua de Delinear enxertada dando-lhe o título de Painel Alegórico, cujo qual foi parar no Oriente da Loja e acabou misturando símbolos do Ritual de Emulação com os símbolos do escocesismo. Para conferir essa miscelânea basta comparar o conteúdo do Painel Loja e da Tábua, chamada de Painel Alegórico, cuja qual pode ser encontrada em alguns rituais escoceses enxertados existentes na nossa Maçonaria.
É por isso que muitas explicações litúrgicas inseridas em alguns rituais acabam encontrando contradições que recebem justificativas nada convincentes, como são os casos das intrusas “colunetas” - objetos inexistentes no REAA\.
Dados esses comentários e respondendo por fim a sua questão, as “colunetas”, em que pese existir vertente anglo-saxônica no Rito Escocês, elas não podem ser usadas, isso porque simplesmente elas não são elementos da liturgia do escocesismo. Reforça ainda essa afirmativa o próprio diploma legal a despeito de que essa alegoria não é nem mesmo mencionada no Ritual do Aprendiz – REAA, em vigência do GOB, edição 2009.
Para cada símbolo e para cada elemento decorativo que compõe a liturgia de um rito, existe uma explicação. O conjunto dessa alegoria é disposto para formatar o arcabouço doutrinário de um Rito. Enxertá-lo com elementos estranhos à sua cultura e tradição, altera o seu conjunto de princípios que servem de base para a essência do seu sistema de ensino e de filosofia.
Dando por concluído, ao escrever essa resposta procurei cercar o assunto com justificativas, o que pode ter dado aparência de desvio de finalidade, todavia isso foi proposital para que o consulente possa perceber o quanto a ritualística maçônica é suscetível às sutilezas que podem lhe dar sentido.



T.F.A.

PEDRO JUK


SET/2017







[1] Sabedoria, Força e Beleza aparecem mencionadas na instrução do REAA, mas não se vê nenhuma gravura relacionada às Ordens Jônica, Dórica e Coríntia e nem aparecem como símbolos visíveis palpáveis no mobiliário da Loja.
[2] Pedestal – não existe mesa, ou altar. Apena um pequeno móvel que serve de apoio para o ofício do Venerável e dos Vigilantes.
[3] Busca de reconhecimento nas Grandes Lojas norte-americanas para as recém fundadas Grandes Lojas brasileiras – Mário Marinho Béhring em 1927; cisão no Grande Oriente do Brasil.

2 comentários:

  1. Prezado Irmão Pedro Juk,seu trabalho merece respeito. Muito bom. Todavia,não esclareceu nem justificou o por que de as colunas dos Vigilantes,no REAA, terem momentos para serem abaixadas e levantadas.Fico no aguardo da sua explicação. Se possível,mande essa resposta para meu E-mail: jfsoaresdafonseca@gmail.com
    José Fernando Soares da Fonseca, Mestre Instalado,Grau 33, membro da Loja Maçônica Amor e Justiça, Nº59, jurisdicionada a Grande Loja Maçônica do Estado da Bahia. Cadastro maçônico 19235, cadastro no Supremo Conselho do REAA,71879

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  2. Meu caro Irmão, envie sua questão para o meu e-mail jukirm@hotmail.com
    Indique seu nome, Rito, Loja, Obediência, Oriente e Estado da Federação.

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