Em 01.10.2018 o Respeitável Irmão Thiago Santana Picoli, Loja Delegado
Armando Antonio Rodrigues de Oliveira, 188, REAA, GLMERS, Oriente de Barra do
Ribeiro, Estado do Rio Grande do Sul, apresenta a questão seguinte:
SIN\ DE H\ - ORIGEM.
Irmão Pedro, muitas são as dúvidas no caminho do
Maçom estudioso que busca respostas sérias e convincentes, baseadas em fatos
concretos e históricos. Feita esta pequena consideração, te faço a primeira
pergunta de várias que virão daqui pra frente:
1 - Na marcha do Grau de M\M\,
após vencer a m\, o Maçom (agora renascido) elev\ aa\ mm\ p\ c\, fazendo
a seguinte exclamação: A\ S\ M\ D\ (ou O\, S\ M\ D\), posteriormente curv\ o c\
para frente, bat\ c\ a p\ dd\ mm\ acima dd\ jj\ por
t\ v\.
Após, arma o Sinal de M\M\ e faz a saudação às Luzes.
A minha dúvida é a seguinte: Qual a origem da
exclamação: A\ S\ M\ D\ com a posterior bat\ com
a p\ dd\ mm\ acima dd\ jj\?
Um tempo atrás, um Irmão muito esclarecido veio em
nossa Loja fazer uma palestra e colocou (de forma muito rápida) que a origem
desse movimento tinha a ver com os Judeus (ou Hebreus?). Ele disse que o
referido povo (que eu não consigo me lembrar ao certo) não acreditava na vida
após a morte. Sendo assim, ao vencer a morte e se colocar diante do Criador,
saudavam o mesmo e b\ com a p\ d\ m\ acima dd\ jj\
como um sinal de arrependimento, ou seja, para mostrarem que estavam
arrependidos por não acreditarem em vida após a morte.
Após a palestra fui conversar com o Irmão para que
ele me desse maiores informações a respeito, pois ninguém sabe a origem desse
movimento. Todavia, ele desconversou e não se mostrou muito confortável com
meus questionamentos. Particularmente, achei um pouco egoísta de parte dele,
mas percebi que ele não queria dividir os detalhes da informação.
A minha pergunta é se isso tem fundamento? Poderia
me indicar alguma literatura a respeito do assunto onde eu possa corroborar tal
situação?
CONSIDERAÇÕES
Sinceramente
nunca encontrei essa “estupenda explicação” nos meus anos de estudo (que não
são poucos) sobre Maçonaria.
Em
que pese não se possa negar influência cultural hebraica muito forte em alguns
ritos maçônicos, o S\ de H\, como é feito no REAA\,
nada tem a ver com essa explicação estapafúrdia mencionada pelo douto
visitante. Isso simplesmente porque o conjunto gestual e a exclamação que
acompanha o Sin\ se originam na teatralização da Lenda
Hirâmica conforme ela é contada no Terceiro Grau do escocesismo. Entenda-se que
a Lenda do Terceiro Grau é exclusivamente maçônica e foi remontada sobre lendas
antigas alusivas aos Cultos Solares da Antiguidade.
Assim,
o sinal representa simbolicamente a dor e a consternação expressada pelo Rei
quando ele, finalmente horrorizado, constata ser aquele o corpo do tão valoroso
Mestre. Nesse momento então, segundo a Lenda, a atitude gestual do Rei dá
origem ao S\ de
H\
representado no REAA\
Na
realidade as mm\ eerg\ denota um gesto de se dirigir em
lamento a Deus, enquanto que as bb\ com aa\ pp\ dd\ mm\ sobre o av\
denotam um gesto de dor e ao mesmo tempo resignação – toda a cena expressa o
horror pela comprovação de tão infame homicídio.
Como
se pode notar meu Irmão, isso nada tem a ver com crença de vida após a morte,
até porque, esse significado não trata literalmente do extermínio de uma vida,
mas o da possibilidade da nefasta destruição dos bons costumes.
Nesse
sentido, se sobressai que não é intenção da Maçonaria apregoar concepções
hauridas de crenças religiosas. Na verdade, todo esse conjunto lendário aventa
uma alegoria que procura demonstrar que o homem, passível de aperfeiçoamento,
precisa se purificar, ou morrer para renascer. É o exemplo da renovação da
Natureza que morre no Inverno para reviver na Primavera – o homem como parte
dela está sujeito às suas leis.
Dado
a esses comentários, provavelmente o ilustre palestrante não conhece os
preciosos afins iniciáticos da Maçonaria a contento e, com isso, passa a
disseminar ideias temerárias – coisa própria de falsos eruditos. Assim
explica-se o desconforto e a desconversa do ilustre personagem quando lhe foi solicitado
um melhor esclarecimento sobre o fato.
A título
de ilustração, cabe comentar que o Sin\ de H\, também conhecido como o G\ Sin\ R\ no
REAA\, é
muito parecido com o Sin. de Afl. e Ag\ do Craft e que é tido também como um
pedido de socor\, principalmente na Escócia, Irlanda e
Estados Unidos da América.
Concluindo,
penso que é preciso se combater essas invenções e principalmente esses ideários
particulares recheados de inverdades. As lendas e alegorias maçônicas têm a
finalidade de explicar, de modo velado, os objetivos iniciáticos da Ordem. Não
cabe à Maçonaria trazer concepções e crenças que não condigam com o seu
arcabouço doutrinário. Antes de se proferir ideias temerárias como a relatada
na questão, melhor mesmo seria antes compreender o conjunto lendário hirâmico
como um todo e não ficar especulando sobre partes do seu desenvolvimento lendário.
A morte de H\,
antes dessas ilações temerárias, tem muito mais a ver é com a morte da Natureza,
período que a Terra fica viúva do Sol nos três meses de inverno. Que o digam
todos os argumentos e as alegorias dos ritos deístas - como é o caso no REAA. Duvido,
mas se porventura existe nesse Sinal alguma relação com antigos costumes
hebraicos, certamente não é essa a explicação que cabe para a Maçonaria.
E.T. Busque bibliografia para estudo
sobre o tema em autores comprometidos com a autenticidade e a razão. A melhor
grade de pesquisas nesse caso é aquela que aborda as origens da Lenda Hirâmica
na Maçonaria, destacando que o Grau de Mestre só aparece na Moderna Maçonaria a
partir do ano de 1725. Entenda, porém, que os fatos que compõe uma lenda não
devem ser tomados como afirmativas da História. Sugiro títulos a respeito que
constem das Atas da Loja de Pesquisas Quatuor Coronati, 2076 de Londres. Veja
também Astrologia e Maçonaria do autor José Castellani e, nele, roteiros
bibliográficos anexos.
T.F.A.
PEDRO JUK
JAN/2019
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