Em 21.11.2020 o Respeitável Irmão Carlos
Eduardo Rodrigues, Loja Amor e Igualdade, 17, REAA, GLMEAL (CMSB), Oriente de
Pilar, Estado de Alagoas, apresenta a seguinte questão:
RITUAIS DO SIMBOLISMO DO REAA – 1928 BEHRING.
Considero-me um apaixonado pela Maçonaria e sobretudo pelo Rito Escocês Antigo e Aceito, tenho algumas obras sobre o mencionado rito, mas quanto mais leio e pesquiso, mais aumenta a minha sede por mais conhecimento, pois nunca me sinto satisfeito.
Porém, tendo em vista o conhecimento
do dileto Irmão, gostaria de pedir uma sugestão de literatura que fale sobre a
origem dos rituais de Aprendiz, Companheiro e Mestre Maçom
de 1928,
implementados pelo inesquecível Irmão Mário Behring, na ocasião da cisão de
1927, do Supremo Conselho com o GOB.
Sem mais para o momento, me despeço
aguardando ansiosamente vossa resposta.
COMENTÁRIOS
Falar sobre rituais originais do REAA
exige uma pesquisa atenta sobre a história da criação do Supremo Conselho do
REAA a 31 de maio de 1801 em Charleston, Carolina do Sul, Estados Unidos da América
do Norte.
Naquela oportunidade o Rito de
Perfeição, ou de Heredom, com 25 graus, originário da França, seria
transformado nos EE. UU. em 33 graus baseado numa constituição suspeita que
envolvia Frederico, o Grande, rei da Prússia. É sabido que Frederico não tinha
nenhuma simpatia por Altos Graus – os denominava de ocos e vazios – assim como na
data da pretensa Constituição o Rei estava em leito de morte, isto é, sem
capacidade de recomendar e escrever qualquer coisa nesse sentido.
Comentários a parte, na verdade o
REAA foi criado contraditoriamente de cima para baixo, isto é, não havia 33
graus, contudo apenas 30 graus, pois para o Rito não havia graus simbólicos, o que
fez com que em solo norte-americano o escocesismo se valesse para o
franco-maçônico básico (Aprendiz, Companheiro e Mestre) dos rituais das Blue
Lodges norte-americanas.
Após a criação do Segundo Supremo
Conselho, este em Paris, para difundir o Rito na Europa, houve a necessidade de
se criar um ritual para o seu simbolismo, já que nos Estados Unidos, como foi
mencionado, eram usados os rituais das Lojas Azuis do rito de York americano.
Assim, em 1804 era criado uma Loja Geral Escocesa para tratar da construção do ritual
para o simbolismo.
É preciso nesse contexto também entender o que
ocorria com a Maçonaria Francesa no século XIX, a despeito de que o Grande Oriente
da França e o Rito Francês tinham sua ritualística embasada nos costumes da
Primeira Grande Loja em Londres que ficou conhecida como a Grande Loja dos
Modernos ingleses.
Assim, o REAA, que em tese não se
sujeitava à influência dos Modernos ingleses, teve sua estrutura ritualística
sedimentada nas práticas da Grande Loja dos Antigos de 1751 na Inglaterra,
cujos quais é sabido que faziam oposição aos Modernos de 1717 (vide história da
Maçonaria inglesa e francesa).
Dado a isso, o primeiro ritual
simbólico do REAA nascia com fortes influências anglo-saxônicas - apesar de ser
um rito de origem francesa. Essa influência veio através da exposure
(revelação) pertinente aos Antigos intitulada As Três Pancadas Distintas na
Porta da Antiga Maçonaria. De certo modo essa é uma característica do REAA que
é latino de nascimento, mas com boa parte constituída sob a égide da maçonaria
anglo-saxônica.
Em linhas gerais, nascia então o
primeiro ritual simbólico do REAA em 1804 constituído pelos costumes “antigos”
(diferente dos “modernos”) e influenciado pelo Regulateur du Maçon da maçonaria
francesa e ainda pela Loja Geral Escocesa que contribuía com as Colunas B e J dispostas
à moda inglesa antiga (B a direita de quem entra e J à esquerda), com a
decoração estelar da abóbada (principalmente as constelações zodiacais), com a
aclamação Huzzé e ainda a cor encarnada haurida dos stuartistas-jacobitas.
Esse primeiro ritual então elaborado
era muito parecido com o do Craft inglês, destacando-se principalmente que não
havia Oriente elevado e nem separado por balaustrada e o 2º Vigilante já ficava
no meridiano do Meio-Dia. A sala da loja era tudo no mesmo nível.
Ocorre, entretanto, que por influência
do Grande Oriente da França, o primeiro ritual do simbolismo do REAA já começava
a sofrer alterações e adaptações. Por conta disso, o Oriente, à moda do Rito Francês,
é elevado e separado para se adequar ao grau capitular natural do Rito dos Sete
Graus que ficava todo sob os auspícios do GOdF.
Assim, para que o REAA se visse abrigado
pelo GOdF, o ritual original embasado nos “antigos” começou a se transfigurar para
que pudesse se adaptar também para ao grau 18º Rosa-Cruz do REAA. Esse ritual é
publicado no Guia dos Maçons Escoceses, estima-se entre 1820 e 1821
Com isso apareceriam as Lojas
Capitulares do REAA onde irregularmente o GOdF tomava para si a direção do 1º
até o 18º, tal qual como ele fazia com o Rito Moderno (Rito dos 7 Graus), enquanto
que o Segundo Supremo Conselho do REAA se ocupava do Grau 19 até o 33º. Por
certo que essa situação irregular mais tarde iria desaparecer com a extinção
das Lojas Capitulares, ficando apenas o simbolismo do REAA sob a égide do GOdF,
todavia, o ritual com Oriente elevado e dividido (criado para abrigar o santuário
Rosa-Cruz) acabou paradoxalmente permanecendo no simbolismo. Nessa época ainda
seria criado uma extensão do Altar ocupado pelo Venerável Mestre, cujo móvel trazia
sobre ele as Três Grandes Luzes Emblemáticas e se destinava à tomada de
compromissos. Essa extensão ficou conhecida como Altar dos Juramentos sendo
colocada imediatamente à frente do Altar principal no Oriente.
Outra característica, herdada da Loja Mãe Escocesa, as constelações
zodiacais que originalmente ficavam na base da abóbada, passariam paulatinamente
a ser marcadas nas paredes Norte e Sul do Ocidente da Loja. Essas meia-colunas encravadas
no topo do Norte e do Sul, correspondendo ao caráter deísta e solar do rito, indicam
o caminho iniciático dos Aprendizes e Companheiros.
Toda essa construção litúrgica e ritualística mostra o aperfeiçoamento
dos rituais do simbolismo do REAA, assim como expõe as adaptações ocorridas na
sua trajetória por conta dos acontecimentos históricos durante o século XVIII e
XIX na França.
No Brasil, em que pese o REAA tenha chegado oficialmente em 1832 com Francisco
Gê Acayaba de Montezuma, a seguir o Grande Oriente da França no protocolo de
intenções com o GOB instituía na época as Lojas Capitulares para o REAA. Essa
prática perdurou no GOB até a cisão de 1927 quando houve a criação das Grandes
Lojas Estaduais brasileiras. De certo modo a Grande Loja elabora um ritual em 1928
para o REAA, contudo baseado nas Lojas Capitulares trazendo delas muitas
características para o simbolismo, o que de certo modo lhe tira o caráter de
autenticidade.
O GOB acaba em 1854 se fundindo com o Supremo Conselho quando o Soberano
Grande Comendador passa a ser também o Grão-Mestre da Maçonaria brasileira, o
que fez torna-la uma Obediência mista, ou seja, misturando o simbolismo com os
ditos Altos Graus. A bem da verdade isso causou um problema para os outros
ritos praticados no GOB o que seria em parte resolvido com a criação de um
Colégio de Ritos para o Rito Moderno ou Francês e o Rito Adonhiramita. Mesmo
assim os descontentamentos rotineiramente se afloravam porque o Grão-Mestre
Geral era o Soberano Grande Comendador do REAA. É bom que se diga que dado a
esses acontecimentos, mais rituais do REAA eram editados para se adequar às
condições daquele momento, destacando-se, contudo, que essas edições não
raramente vinham acompanhadas de enxertos hauridos de práticas de outros ritos.
Em síntese, a cada passo a colcha de retalhos aumentava.
A partir do ano de 1927 com a cisão no GOB e as recém-criadas Grandes
Lojas de Mário Marinho Béhring, o Ritual de 1928 do REAA, para não fugir a
regra, também trazia uma série de incongruências para a originalidade do REAA,
a começar pelas influências das extintas lojas capitulares. É bom que se diga
que com o reconhecimento internacional do Supremo Conselho conduzido por
Béhring, a Maçonaria brasileira passava a ter dois Supremos Conselhos, o de
Jacarepaguá (CMSB) e o de São Cristóvão com o GOB. Com isso o GOB edita os
rituais para o simbolismo do REAA, assim como as Grandes Lojas Estaduais
brasileiras sacramentam o seu ritual construído em 1928.
Ocorre que o ritual de 1928 das Grandes Lojas, além das características capitulares,
recebe influências da Maçonaria Norte-Americana, já que Mário Béhring também
buscou reconhecimento para as suas Grandes Lojas na Maçonaria dos EE. UU. da
América do Norte. Assim, muitas características da Blue Lodges acabaram
acampando indevidamente os rituais do REAA das Grandes Lojas brasileiras.
Nesse particular, pode-se citar como descaracterização do REAA os Diáconos
portando bastão (originalmente eles não portam esse instrumento); a formação de
pálio entre os Diáconos e o Mestre de Cerimônias (não é próprio do REAA), Altar
dos Juramentos no centro do Ocidente (originalmente é no Oriente), aventais
azuis de Mestre (original é vermelho), decoração azulada (original é
encarnada), salmo 133 (originalmente é no Evangelho de São João), etc.
Assim, todas essas circunstâncias, em linhas gerais acabariam desfigurando
os rituais originais do REAA desde a sua criação em 1804. Com a dissidência de 1927
aqui no Brasil, duas Obediências passaram a atuar, isto é, cada qual com seu
ritual e com as suas diferenças para o mesmo rito. A partir de 1951 o GOB se
separa do Supremo Conselho e passa ser uma Obediência puramente simbólica. Isso
resulta em mais rituais enxertados para o REAA.
Em 1973 mais uma dissidência no seio do GOB e, por conseguinte, com a
criação dos Grandes Orientes Independentes (COMAB). mais rituais diferenciados apareciam
para o REAA no mesmo País. E assim segue o barco.
Obviamente que esses comentários são resumidos, cujo conteúdo é apenas para
dar uma ideia da complexidade dessa pesquisa. Acima de tudo recomendo entender
os propósitos iniciáticos que construíram a liturgia e a ritualística do Rito.
Por fim saliento que em se tratando de Maçonaria, nada está pronto, é preciso
técnica e confrontação acadêmica dos fatos para se separar o joio do trigo.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
AGO/2021
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