Em 23/02/2016 um Respeitável
Irmão do GOB-PR ao Oriente de São Mateus do Sul, Estado do Paraná, me formulou
a seguinte questão a qual respondi e fiz uma revisão para publicação no Dia do
Maçom no Blog do Pedro Juk em 20/08/2017.
DIA DO MAÇOM
Meu Irmão
gostaria de informações sobre 22 de fevereiro como Dia Internacional do Maçom e
20 de agosto como o Dia do Maçom brasileiro.
O que
comemoramos?
CONSIDERAÇÕES.
1 – Dia Internacional do Maçom,
instituído em data de 22 de
fevereiro por ocasião da Reunião Anual dos
Grãos-Mestres das Grandes Lojas da América do Norte (Canadá, México e Estados
Unidos) realizada nos dias 20, 21 e 22 de fevereiro do ano de 1994, quando o
Grão-Mestre da Grande Loja Regular de Portugal, Irmão Fernando Paes Coelho
Teixeira, sugeriu que no dia 22 de fevereiro fosse comemorado o Dia
Internacional do Maçom em homenagem à data de nascimento de George Washington.
Por ocasião dessa reunião, que teve a
presença, dentre outros, da Grande Loja Unida da Inglaterra, da Grande Loja
Nacional Francesa, do Grande Oriente da Itália, da Grande Loja das Filipinas,
Grande Loja Regular da Grécia, de Portugal, inclusive do Grande Oriente do
Brasil pelo seu Grão-Mestre Geral, saudoso Irmão Francisco Murilo Pinto, ao
encerramento da assembleia, houve a concordância de que ficasse estabelecido, a
partir daí, o Dia Internacional do Maçom a 22 de fevereiro homenageando assim o
Irmão George Washington, fato que seria então comemorado por todas as
Obediências Regulares.
Resumo
histórico do homenageado – nascido em 1732, em Bridges, na Virginia, Estados
Unidos da América do Norte, foi iniciado na Maçonaria no dia 04 de novembro de
1752 na Loja Fredericksburg, nº 04, estado da Virginia. No ano de 1753 foi
elevado ao Grau de Companheiro e em 04 de agosto de 1754 ao Grau de Mestre.
Em abril de 1789,
tornou-se o primeiro presidente norte-americano, quando na oportunidade, na
intenção de prestar homenagem à Maçonaria, prestou seu juramento constitucional
sobre a Bíblia da Loja Alexandria, na qual era à época Venerável Mestre. Lutou
pela Independência dos Estados Unidos sustentando principalmente os ideais de
liberdade para o povo. Foi ferrenho defensor da democracia e dos interesses da
população. Veio a falecer na sua casa em 14 de dezembro de 1.799 e teve o seu sepultamento
realizado no dia 18, cuja celebração fúnebre Maçônica foi realizada pelo
Reverendo James Muir e pelo Venerável Mestre Elisha C. Dick, ambos, Irmãos do
quadro da Loja Alexandria.
2 – Dia do Maçom no
Brasil. Comemorado pela Maçonaria brasileira em 20 de agosto, infelizmente não
se pode dizer a mesma coisa com relação a essa data, pois ao contrário do Dia
Internacional do Maçom que tem uma data justificável, a brasileira foi
construída sobre uma mentira histórica por uma falsa interpretação de
calendário, o que aos olhos da razão, pode-se dizer com certeza que no dia 20
de agosto de 1822 não aconteceu absolutamente nada no Grande Oriente Brasílico
(nome dado à época para o GOB).
O produto desse erro histórico
que, dentre outros, originou a comemoração do Dia do Maçom está no ano de 1956 quando
o Irmão Osvaldo Teixeira da Loja Acácia Itajaiense propôs à sua Loja comemorar
no dia 20 de agosto o Dia do Maçom, pois, segundo ele, havia na época a
convicção de que no Rio de Janeiro, naquele dia no ano de 1822, os maçons
haviam proclamado a Independência do Brasil em uma reunião das três Lojas
Metropolitanas.
É falsa essa
presunção, já que nesse dia nunca houve qualquer reunião no Grande Oriente do
Brasil e muito menos que tenha sido proclamada a Independência antes do dia 7
de setembro.
Na sequência dos
fatos, a Loja de Itajaí acabou aceitando a proposta do Irmão Osvaldo Teixeira e
levou a dita para apreciação na Grande Loja de Santa Catarina, onde também teve
o seu conteúdo aprovado. Assim, a Grande Loja catarinense levou adiante endossando
o embuste, inclusive se dizendo dela a autora, até V Mesa Redonda realizada em
Belém do Pará de 17 a 22 de junho de 1.957.
Em assembleia, a
proposição seria então aprovada o que a tornou a data obrigatória para que todas
as Grandes Lojas brasileiras comemorassem o Dia do Maçom, justificando enganosamente
a efeméride como que a 14ª Sessão teria sido realizada em 20 de agosto de 1822 quando,
sob a presidência do Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, fora proclamada a Independência
do nosso País – tudo isso pode ser constatado nas súmulas das Mesas Redondas, Assembleias
e Conferências da CMSB de 1987, dela à página 23, item 3, das Conclusões.
Desse modo, e com essa falsa justificativa,
o Dia do Maçom paulatinamente acabaria por se tornar numa efeméride unânime
alcançando toda a Maçonaria brasileira, além das Grandes Lojas Estaduais – é a
boca que se entorta conforme o hábito do cachimbo.
Assim a balela da
ocorrência da Independência do Brasil no dia 20 de Agosto dentro de uma Loja
Maçônica e, por conseguinte a comemoração do Dia do Maçom brasileiro se
consolidou, mesmo que tenha sido construída sobre uma mentira histórica, cuja
qual suporta uma análise mais crítica, desde que embasada na autenticidade
documental.
Na verdade a origem do
erro de interpretação sobre o calendário usado pelo GOB na época e que seria
divulgado posteriormente por outros compiladores, se deve ao Irmão José Maria
Paranhos, o Visconde do Rio Branco, em notas sobre a “História da Independência
do Brasil” ao se basear nos escritos do historiador e também maçom Manoel Joaquim de
Menezes. Infelizmente Rio Branco, apesar de ser um bom historiador, na
oportunidade cometeu o erro crasso de não se certificar se as afirmativas de
Menezes eram de fato corretas.
Para se entender como
ocorreu esse erro histórico, tome-se por base o que menciona a ata de fundação
do Grande Oriente do Brasil ao consignar, segundo o calendário usado na época,
que o fato se deu no 28º dia do 3º mês do ano maçônico de 5822 da V\L\, o que significa ser
no dia 17 de junho de 1822 da E\V\.
Essa data, a do 28º
dia do terceiro mês, sob a óptica do Irmão Rio Branco, e também dos desatentos
que o copiaram, seria pura e simplesmente o dia 28 de maio destacando-se que 3º
mês se iniciava (segundo Rio Branco) no dia 1º de maio.
Contudo, essa não era
a correta interpretação, pois na realidade o calendário usado naquela época pelo
GOB era o mesmo utilizado pelo Rito Adonhiramita, e nele o ano se iniciava no
dia 21 de março; nunca no dia 1º.
À bem da verdade, esse
calendário é muito próximo ao do calendário religioso hebraico que se inicia no
equinócio de primavera no hemisfério norte.
Assim o calendário
maçônico da época era um calendário equinocial, a despeito de que as datas
equinociais e solsticiais sempre foram caras aos cortadores de pedra, os nossos
ancestrais.
Diferente do calendário
gregoriano que se inicia no dia 1° de janeiro da E.V., bem como do utilizado
pelo Rito Moderno que inicia o ano maçônico no dia 1º de março da V\L\ (o que confundiu Rio
Branco), o equinocial se inicia no dia 21 de março por coincidir com a
primavera no setentrião (hemisfério onde nasceu a Maçonaria).
Tanto no calendário
equinocial, bem como no utilizado pelo Rito Moderno, os meses não possuem nome,
mas eles se identificam simplesmente pelo numeral ordinal correspondente a cada
mês, como por exemplo: primeiro mês, segundo mês, terceiro mês, até o décimo
segundo (último mês). A mesma regra é seguida para se identificar os dias correspondentes
a cada mês. Por exemplo: primeiro dia, segundo dia, terceiro dia, até o
trigésimo dia, ou trigésimo primeiro, dependendo do mês.
Foi essa substancial diferença,
entre o primeiro e o vigésimo primeiro dia que ocorre entre os dois calendários
utilizados pela Maçonaria (o do dia 1º e o do dia 21) que acabou se tornando a
“pedra de tropeço” e causadora de todo esse embrolho histórico que culminou com
a equivocada data relacionada a uma sessão que teria supostamente acontecido no
dia 20 de agosto (sexto mês) do ano de 1822 da E\V\.
Na realidade ela não
aconteceu no dia 20 de agosto do calendário gregoriano, mas sim no 20º dia
do 6º mês do calendário equinocial maçônico. Há então que se notar que o 6º
mês do calendário equinocial inicia no dia 21 de agosto e termina no dia 20 de
setembro. Por essa razão é que o 20º dia do 6º mês do ano equinocial maçônico corresponde,
não ao dia 20, mas ao dia 09 de setembro do calendário gregoriano (E\V\), quando verdadeiramente
aconteceu à famosa 14ª Sessão.
Para melhor
entendimento sobre o tema recomenda-se o estudo sobre as práticas e
características do calendário religioso hebraico, ao qual o calendário
equinocial maçônico bastante se aproxima. Sugere-se também consultar publicação
datada de 18/08/2017 no Blog do Pedro Juk sobre a Era Vulgar e Era da
Verdadeira Luz em http://pedro-juk.blogspot.com.br
Ainda no tocante aos
calendários utilizados pela Maçonaria, especialmente os que dizem respeito a
esse tema, recomenda-se atenção especial na observação de que o Rito Francês,
ou Moderno adota um calendário maçônico que tem início no dia 1º de março do
calendário gregoriano, enquanto que o calendário equinocial utilizado pelo Rito
Adonhiramita na época e, por conseguinte, também usado pelo GOB, inicia o ano
no dia 21 de março do calendário gregoriano. Ambos da V\L\, possuem o ano com
12 meses, cujos quais se identificam como primeiro mês, segundo mês, terceiro
mês e assim por diante. Os dois também têm a característica de iniciar num ano
do calendário gregoriano (E\V\) e se encerrar no ano seguinte do
mesmo calendário da E\V\).
Seguem alguns exemplos de aplicação do calendário
equinocial (início no dia 21) sobre o gregoriano utilizando-se de algumas datas
importantes para a história da Maçonaria brasileira e publicadas por Ato do
Grão-Mestre Geral no ano de 1.822 da E\V\ por ocasião do centenário do
GOB. Essas publicações demonstram a aplicação do calendário maçônico que
iniciava o ano a partir do dia 21 de março.
a) Fundação do GOB em 17 de junho de
1822 da E\V\ ou no
28º dia do 3ª mês do ano maçônico de 5822 da V\L\.
b) A Iniciação
do Príncipe D. Pedro I na Loja Comércio e Artes da Idade do Ouro em 02 de
agosto de 1822 da E\V\ ou no 13º dia do 5º mês do ano de 5822
da V\L\.
c) Dia do Fico em 09 de
janeiro de1822 da E\V\
ou no 20º dia do 11º mês do ano de 5.821 da V\L\.
d) Aceitação do Título
de Defensor Perpétuo Constitucional, pelo Príncipe Regente em 13 de maio de 1822
da E\V\ ou ao 22º dia do 2º
mês do ano de 5822 da V\L.\.
e) Convocação da
Constituinte Brasileira pelo Príncipe Regente em 02 de junho de 1822 da E\V\
ou ao 13º dia do 3º mês do ano de 5822 da V\L\.
f) Grito de
Independência ou Morte dado pelo Príncipe Regente às margens do Riacho Ypiranga
em 07 de setembro de 1822 da V\ L\
ou ao 18º dia do 6º mês do ano de 5822 da V\ L\
g) Proclamação da
Independência proposta por Joaquim Gonçalves Ledo votada nas sessões do Grande
Oriente do Brasil a 09 e 12 de setembro do ano de 1822 da E\V\,
delas a 14ª Sessão ao 20º dia do 6º mês do ano de 5822 da V\L\.
h) Posse do Príncipe Regente
como Grão-Mestre da Maçonaria do Brasil, a Proclamação do Império e a Aclamação
do Príncipe a Imperador Constitucional do Brasil e seu Defensor Perpétuo em 04
de outubro de 1822 da E\V\
ou no 14º dia do 7º mês do ano de 5822 da V\L\.
Como já comentado, o
equívoco dessa má interpretação de se originou das notas de Rio Branco a
Varnhagen sobre a História da Independência quando, em outubro de 1874, apenas
43 anos após a reinstalação do GOB[1], era publicado no Boletim
nº 10 as Atas das primeiras sessões realizadas pelo Grande Oriente Brasílico
(título do GOB em 1.822) e, dentre elas, a famosa 14ª sessão que fora
concretizada pelo calendário equinocial no vigésimo dia do sexto mês e equivocadamente
anotada como tivesse ela acontecido no dia 20 de agosto (sexto mês do
calendário do Rito Moderno).
O 20º dia do 6º mês pelo
calendário equinocial corresponde ao dia 09 de setembro, ou seja, dois dias
após a proclamação da Independência dada pelo Irmão Guatimozim às margens do
Riacho Ypiranga. Provavelmente Rio Branco considerou o 6º mês iniciando no dia
1º de agosto tal qual o Rito Moderno, ao invés de considerá-lo iniciando no dia
21 de agosto.
Foi devido a essa
diferença que mais tarde autores como o ufano Arcy Tenório de Albuquerque se
prestaria a transferir a falsa informação de que a Independência do Brasil
havia ocorrido por primeiro no Rio de Janeiro dentro de uma Loja Maçônica no
dia 20 de agosto de 1.822, relegando o absurdo de que à verdadeira data de 07
de setembro teria sido apenas um mero ato teatral para divulgar a efeméride –
vide in “O que é Maçonaria”, Editora
Aurora, Rio de Janeiro, páginas 246 e 247, citado no Livro Manias e Crendices
de José Castellani.
A despeito dessas
ilações que o Irmão Osvaldo Teixeira, nelas acreditando, em 1956 propôs a comemoração
do Dia do Maçom no dia 20 de agosto por “acreditar” que nesse dia no ano de
1822 o Brasil havia sido declarado independente dentro de uma Loja Maçônica.
Vale a pena também
comentar que de fato a Proclamação da Independência existiu durante a reunião
das quatro Lojas Metropolitanas quando o Irmão Joaquim Gonçalves Ledo, Primeiro
Grande Vigilante, dirigindo a 14ª Sessão, da cátedra da Loja em enérgico
discurso exigiu a libertação da Pátria brasileira do jugo português, entretanto
isso não aconteceu no dia 20 de agosto da E\V\, porém no dia 9 de setembro de 1.822 da
E\V\ de acordo com o
calendário utilizado na época.
Evidentemente que D.
Pedro I já havia proclamado em São Paulo a Independência do Brasil no dia 7 de
setembro de 1.822, dois dias antes da Proclamação exigida por Ledo no dia 9.
Na verdade para se
entender a razão do pronunciamento extemporâneo feito por Ledo, o mesmo ocorreu
por óbvia falta de comunicação, a despeito de que num Brasil colonial, a
notícia da Independência proclamada por D. Pedro I no dia 7 de setembro, até o
dia 9 do mesmo mês ainda não havia chegado ao Rio de Janeiro. Não havia outro
meio de comunicação senão o correio a cavalo que levava, segundo Bregaro, em
média um mínimo de três dias para cobrir a distância entre São Paulo e o Rio de
Janeiro.
Por assim ser e pelo
aqui comentado, pode se perceber que não houve sessão no Grande Oriente do
Brasil no dia 20 de agosto de 1822 da E\V\, senão houve uma falsa interpretação
criada inadvertidamente por José Maria Paranhos (Visconde do Rio Branco) e que
muitos escritores e compiladores, tendenciosos ou não, acabariam espalhando essa
mentira histórica que chegou a gerar ainda no Século XX uma comemoração paro
Dia do Maçom, apesar de que aos olhos da verdade, nesse particular, nada existiu
nesse dia.
Comprovadamente a 14ª
Sessão existiu, porém no dia 9 de setembro, e não no dia 20 de agosto.
Mas mesmo assim, infelizmente
e apesar de todas as provas angariadas por autênticos escritores, pesquisadores
e historiadores, nossas autoridades ainda as não se preocuparam em consertar
esse erro que atenta contra a disposição da Verdade.
Obviamente que
sabemos ser o Maçom brasileiro merecedor de possuir o seu próprio dia
comemorativo, todavia o que não se pode admitir é querer justificar isso com um
acontecimento alicerçado em um equívoco, equívoco esse que de há muito tem sido
exaustivamente combatido e demonstrado por farta e autêntica documentação.
Nesse sentido, sugere-se
pesquisa e comprovação em inúmeros arrazoados da lauda de Francisco de Assis
Carvalho, Hercule Spoladore, Kurt Prober, Raimundo Francisco Xavier, José
Castellani, João Alves da Silva, dentre outros. Existe um condensado em forma
de um caderno de bolso datado de junho de 1.994 denominado “20 de Agosto – Dia
do Maçom” - Editora Maçônica A Trolha, Londrina, que traz em seu conteúdo um
trato confiável sobre o assunto e creditado a esses escritores mencionados.
Veja também as “Atas de Ouro do Grande Oriente do Brasil”, todas contemporâneas
à fundação do Grande Oriente Brasílico, mais tarde se denominaria Grande
Oriente do Brasil.
T.F.A.
PEDRO JUK
MAIO/2016
REVISADO EM AGO/2017
[1] - O Grande Oriente
Brasílico, fundado a 17 de junho de 1822 da E\V\
(28º dia do terceiro mês do ano de 5822 da V\L.\)
foi fechado em 25 de outubro do mesmo ano pelo seu Grão-Mestre D. Pedro I e somente
reinstalado nove anos mais tarde, em 1831, como Grande Oriente do Brasil.
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