Em
26/05/2018 o Respeitável Irmão Nilson Alves Garcia, Deputado Federal da Loja
Estrela da Serrinha, REAA, GOB-GO, Oriente de Goiânia, Estado de Goiás,
apresenta a seguinte questão:
PRIMEITOS RITUAIS
Irmão Pedro, gostaria
de um comentário a respeito dos primeiros rituais maçônicos. Quando começou a
ritualística maçônica?
CONSIDERAÇÕES
Esse não é um assunto que pode ser tratado
como laudatório e nem mesmo sintetizado numa breve resposta como essa, até
porque a história da Maçonaria compreende um mosaico de fatos e acontecimentos
que de tempos em tempos, atendendo a pesquisa acadêmica séria e sem invenções,
vem sendo paulatinamente trazidos à luz.
A ritualística que conhecemos atualmente,
sobretudo nas nossas Obediências, é oriunda de rituais pertinentes aos ritos
praticados, sabendo-se que esses, ao longo dos tempos vêm sofrendo inúmeras
influências, enxertos e mutações. Em síntese, uma ritualística descaracterizada
maçônicamente por uma liturgia criada ao sabor da estúpida quantidade de
rituais impressos.
Assim, falar em ritualística e como ela
começou, por primeiro é preciso se destacar o rito a que ela pertence, bem como
a sua origem cultural e histórica. Nessa empreitada não há como se confundir os
atuais rituais como uma descrição fiel dos antigos catecismos que serviram de
base para estruturar as diversas liturgias conhecidas.
Outro aspecto é o de se desvincular da
fantasia que equivocadamente atribui à Maçonaria uma pretensa antiguidade, tal
como fosse ela oriunda dos tempos do Antigo Testamento. Ora, Isso não existe,
para tanto o pesquisador, se desvencilhado dessas afirmativas temerárias, há de
compreender que verdadeiramente a Maçonaria, longe do falso caráter de
existência milenar, possui sim aproximados oitocentos anos de história.
Ao longo da sua existência a Maçonaria passou
pelo período Operativo, ou de Ofício, cuja documentação mais antiga que
menciona Lojas da Francomaçonaria está no Poema Régius datado de 1390 (século
XIV). A seguir, a sua marca Especulativa, ou a dos Aceitos, ocorrida pelo
declínio das antigas corporações medievais de construtores, apareceria no ano
de 1600 (século XVII) com o ingresso do primeiro elemento estranho à profissão,
o latifundiário escocês John Boswel, iniciado como “maçom aceito” na Loja
Capela de Maria em Edimburgo na Escócia. Daí, passando por esse período de
transição iniciado em 1600, no ano 1717 aparece a Moderna Maçonaria que fora
estabelecida com a fundação da Primeira Grande Loja em Londres, oportunidade em
que fora inaugurado o primeiro sistema obediencial com o aparecimento da figura
do Grão-Mestre. A Moderna Maçonaria tem a partir daí em suas Lojas a esmagadora
maioria de maçons aceitos, o que em breve se tornaria a sua marca pelo desaparecimento
por completo das Lojas Operativas.
Cabe ainda um comentário. Quando vinculamos a
documentação mais antiga relacionada à Maçonaria no século XIV, é porque só a
partir daí esse título começa a aparecer, - então denominado como a
Francomaçonaria. Por óbvio que desde o século X encontramos registros
pertinentes às corporações de ofício, porém ainda como antecedentes da
Maçonaria, das quais podemos citar as Associações Monásticas e as Confrarias
Leigas, cujas guildas desde o século X utilizavam a palavra Loja para as
organizações de ofício (pedreiros, carpinteiros, sapateiros, etc.).
Assim, a divisão histórica da Maçonaria mais
aceita por pesquisadores autênticos segue a ordem começando pela Maçonaria
Operativa, ou de Ofício, seguida da Maçonaria dos Aceitos, ou Especulativa e
por fim a Moderna Maçonaria (especulativa por excelência) com o sistema
obediencial tal como conhecemos atualmente.
Em se tratando de ritualística maçônica, é justamente
no período Especulativo que documentalmente aparecem os primeiros arremedos de
rituais e a posteriori, já no século XVIII, o aparecimento dos ritos maçônicos.
Como o assunto é amplo, seria desproposital abordá-lo
por completo num pequeno arrazoado como esse, entretanto como um pequeno resumo
vou citar o respeitadíssimo e autêntico autor Harry Carr que atuou como
secretário da Quatuor Coronati Lodge, 2.076 e autor de inúmeras obras
maçônicas, dentre as quais o seu irretocável Manson’s at Work. Carr, indubitavelmente foi um Irmão historiador
preocupado com a autenticidade e que fez um dos mais minuciosos estudos sobre
os primeiros catecismos e rituais na história da Sublime Instituição.
Seguindo
o desempenho do Irmão Harry Carr quando se refere ao mais antigo ritual para os
dois graus (só existiam dois na época), ele menciona, em outra obra sua
intitulada “Seiscentos Anos de Ritual”,
um documento datado de 1696. Assim, comenta o referido autor:
“A mais antiga prova que temos, é um documento datado de 1696, belamente
escrito à mão e conhecido como Edinburgh Register House Manuscript, por que foi
achado no Escritório de Registros Públicos de Edinburgh (Public Record Office
of Edinburgh). (...) tem o
título de A FORMA DE TRANSMITIR A PALAVRA MAÇONICA que é um modo de dizer que é a maneira de se iniciar
um maçom. Começa com a cerimônia que faz
do aprendiz um <aprendiz iniciado> (geralmente três anos depois do começo
de seu contrato), seguida pela
cerimônia para admissão do <companheiro da ordem>, o título do segundo grau. Os detalhes são fascinantes
...”
Destaque-se assim o ano de 1696 (século XVII) para
o registro de uma “forma de transmitir a palavra” como comentário de
ritualística maçônica.
Ainda o mesmo autor trata do assunto quando faz um
exame sobre a obra de outro autor autêntico e não menos importante - Irmão
Douglas Knoop - denominada The Early
Masonic Catechisms.
Harry Carr em 25 de novembro de 1946 comentando
essa obra escreve para a Loja de Pesquisas de Leicester, 2429, o arrazoado An Examination of the Early Masonic Catechisms. Na página 05 desses
comentários ele ordena 16 catecismos básicos para esse estudo tendo por período
os anos de 1696 até 1730.
Segue abaixo o registro dessa descrição que tem servido como base
sequencial para o aparecimento da ritualística maçônica:
TÍTULO/TIPO
|
DATA
|
The
Edimburg Register House – Manuscrito
|
1696
|
The
Chetwod Ceawley – Manuscrito
|
cerca de 1700
|
The
Sloane – Manuscrito, 3329
|
cerca de 1710
|
The
Dumfries Nº 4 - Manuscrito
|
cerca de 1710
|
The
Trinity College Dublin - Manuscrito
|
1711
|
A
Mason’s Examination – Flying Post Newspaper
|
1723
|
The
Grand Mistery of Free-Masons Discover’d - Panfleto
|
1724
|
The
Whole Institution of Masonry - Manuscrito
|
1724
|
Institution
of Free-Masons - Manuscrito
|
cerca de 1725
|
The
Whole Institution of Free-Masons Opened
|
1725
|
The
Graham - Manuscrito
|
1726
|
The
Grand Mistery Laid Open
|
1726
|
A
Mason’s Confession – Revista Escocesa
|
1727
|
The
Wilkinsons - Manuscrito
|
1727
|
The
Mistery of Free-Masonry – Daily Journal - Jornal
|
1730
|
Prichard
Masonry Dissected - Panfletos
|
1730
|
Assim, essa lista
ordena manuscritos, obras espúrias e revelações relativas a alguma coisa que se
ligue à ritualística maçônica. Nesse sentido, os manuscritos mencionavam as
formas antigas de trabalhar como um arremedo das primeiras práticas, enquanto
que as obras espúrias e as revelações, embora reprováveis sob o ponto de vista
da “traição” porque revelavam as práticas maçônicas em panfletos e jornais da
época, acabaram servindo mais tarde para que os historiadores pudessem compreender
como eram os trabalhos daquela época.
Compreenda-se,
entretanto que essas revelações e manuscritos não traziam ainda a prática
litúrgica relativa a um rito maçônico, até porque os ritos só começariam a
aparecer no século XVIII, principalmente. Porém é bastante provável que esses
catecismos e revelações tenham dado muito suporte para a elaboração dos rituais
e suas respectivas ritualísticas que apareceriam em seguida.
A
despeito desses comentários eu, como outros autores brasileiros, a exemplo de
José Castellani, Francisco de Assis Carvalho, Theobaldo Varolli Filho, prefiro
seguir a compreensão sobre o tema como a que faz o Irmão Harry Carr e Douglas
Knoop, sobretudo porque esses possuem conceitos fundamentados em documentação
primária. Com isso entendo que a ritualística maçônica especulativa começou a
tomar forma a partir do ano de 1696 conforme menciona o manuscrito The Edimburg Register House.
Nesse
sentido, sugiro para o aprofundamento da sua questão o estudo das obras dos
autores mencionadas no texto, além de outras referências bibliográficas a
respeito que podem ser encontradas na Quatuor Coronati Lodge 2076 de Londres
(Loja de Pesquisas mais antiga do mundo).
Concluindo, devo
alertar que esse estudo é longo e não se pode acreditar serem eles encontrados em
rituais tais quais como os conhecemos na atualidade. Entenda-se que com o
passar dos tempos as Obediências Maçônicas acabaram adotando práticas
particulares sobre os costumes autênticos dos ritos praticados, costumes esses que
nunca fizeram parte da verdadeira Maçonaria. Para que se possa ter um bom
entendimento da situação, o pesquisador deve separar o joio do trigo, isto é,
saber o que é liturgia do rito e o que é um procedimento protocolar criado para
satisfazer situações, sobretudo quando falamos de autoridades, cargos,
condecorações, ocupação de lugares, ordem de precedência, etc. A verdadeira
liturgia maçônica está severamente comprometida com os ensinamentos esotéricos
a que o rito se propõe e nunca como um desfile de futilidades.
T.F.A.
PEDRO JUK
AGO/2018
Nenhum comentário:
Postar um comentário