Em 20/11/2018 um Respeitável
Irmão praticante do REAA, GOB, apresenta a questão seguinte:
DOUTRINA DO GRAU

Nesta semana entramos em debate em Loja sobre a
didática e conteúdo que devem ser aplicados aos Aprendizes e aos Companheiros
afinal, o GOB não fornece "nada mais" além do que seu próprio ritual.
Cabendo as Lojas, mediante sua autonomia aplicar seus métodos, desde que não
descumpram o ritual.
Em consulta ao RGF, em sua Seção VI Das Colações de
Graus - "Art. 35º", o responsável por sua instrução maçônica pedirá
que o Aprendiz seja submetido ao exame relativo à doutrina do Grau. "Art. 36", ser submetido a exame
relativo à doutrina do grau para
atingir o Grau de Mestre.
Repare que ambos artigos são mencionados a
expressão "doutrina do grau", é evidente que existem alguns símbolos
que são respectivos ao seu grau, além do próprio ritual, no entanto, essa
expressão é um pouco "vaga". Queremos saber a opinião do irmão em
relação a isso. O que o irmão entende dessa expressão, e de que forma seria uma
"melhor forma" para instruir os Aprendizes e Companheiros.
CONSIDERAÇÕES.
A respeito da sua questão eu contribuiria com o seguinte comentário.
Em linhas gerais, a escalada iniciática do simbolismo maçônico é
inerente aos seus três graus. Sua constituição se dá pela “intuição (Aprendiz),
análise (Companheiro) e síntese (Mestre)”.
Para tanto, cabe entender que a estrutura doutrinária maçônica, despida
das fantasias e das ilações temerárias, respeitando ainda a metodologia e a
cultura de cada um dos seus ritos, especificamente sugere ao homem iniciado as três
etapas que compreendem a alegoria da vida - infância, juventude e maturidade.
Nessa acepção, o admitido na Maçonaria tem que se despir das nodoas profanas,
o que em primeira análise significa deixar dos costumes temerários morrendo
para os vícios e para as praticas condenáveis para que, na ordem natural das coisas,
haja de fato o renascer de um novo homem. A síntese iniciática desse teatro é o
mesmo que o despertar numa infância que traz consigo a índole pura e inocente.
É o apólogo dos primeiros anos de uma nova vida. Compreenda-se que
simbolicamente o Iniciado morre (inverno) para renascer (primavera).
Em Maçonaria, é isso que o iniciado tem por missão de representar na sua
primeira fase do aprendizado. Assim, o Aprendiz Maçom, dado ao seu caráter de pouco
conhecimento diante dessa nova realidade, deve antes, com a devida prudência,
se preparar para encontrar o verdadeiro caminho da retidão. Embora ele ainda
siga caminhando por lugares sombrios, se bem compreendida a Arte sua intuição o
levará ao seu guia (a razão) para que com perseverança um dia ele alcance o seu
objetivo.
Mas qual será esse objetivo? Se utilizando as ferramentas certas, é o de
se aprimorar reconstruindo no seu interior um Templo para servir de abrigo da
Luz.
Filosoficamente essa primeira etapa, comum pelo desconhecido à frente,
traz ao Iniciado a consolidação da dúvida e ele, ainda de visão embotada pelo
desconhecido processo do esclarecimento, tenta enxergar por entre os devaneios
e as tribulações aquilo que lhe é salutar.
O Aprendiz, digno representante da infância iniciática, se utilizando da
faculdade intuitiva, ainda tateando pela escuridão, busca conhecimento
imediato na plenitude da sua realidade. Entretanto, o pressentimento para as
coisas corretas e saudáveis, paulatinamente o irão fazer perceber a importância
de se conhecer a si próprio. Assim, a máxima socrática do “conhece-te a ti
mesmo” surge como matéria principal da doutrina do grau do Aprendiz maçônico.
Cumprida a primeira etapa da senda iniciática, agora como Companheiro Maçom
o admitido percorre a sinuosidade do caminho (Escada em Caracol), o que
significa em primeira análise vencer os obstáculos da vida com sacrifício,
dedicação e perseverança. É chegado o tempo de sopesar o que concebe o bem e o
mal. Da dúvida, simbolizada pelo princípio da dualidade e dos antagônicos do
Aprendiz, o Companheiro agora segue o estudo mais completo da essência da Vida.
É essa a missão daquele que atinge o Segundo Grau na senda do aperfeiçoamento
da Maçonaria.
Com a pragmática da juventude, da ação e do trabalho, toda a produção
desse ciclo da vida deve interagir com a aplicação do seu conhecimento até aqui
adquirido (método).
A evolução intelectual desvenda mistérios, mas exige a aplicação de mais
outras ferramentas. Somente a prática e a dedicação ao trabalho trarão
conhecimento suficiente para se usufruir das benesses dos utensílios, novos e apropriados.
Cabe então ao Companheiro do Ofício perscrutar o porquê de se utilizar outras ferramentas
além do Maço e do Cinzel. O seu discernimento, zelo e prudência fará com que o
artífice do Segundo Grau golpeie cautelosamente a pedra esquadrejada durante o
seu assentamento. A justa medida da sua força fará com que o golpe aplicado com
o maço não esfacele a pedra (conhecimento e comedimento). O Maço, o Cinzel e o
Aprendiz denotam a etapa dos conhecimentos das coisas terrenas, já o
Companheiro aplicando outras ferramentas anuncia a investigação das coisas elevadas
(astrais e espirituais).
Do estudo profundo das regras da Arte da Construção depende a realização
humana. Examinar com minúcia o trabalho é também o esquadrinhar do caminho da
vida. É a intenção; é o objetivo de tudo que até então tenha se apresentado na
técnica de dirigir e orientar a construção do Templo interior.
Em linhas gerais, o Companheiro, depois de ter, ainda como Aprendiz,
conhecido a si próprio, tem agora o desiderato de apreciar e examinar a razão e
o porquê do seu próprio ser. A contingência de analisar as suas ações e delas
perscrutar as suas consequências é um os motes da doutrina do Companheiro
Maçom. Assim, a juventude é propícia para uma análise mais sucinta da Obra da
Vida. Estudar a quintessência e investigar a leis da Natureza é o suporte para
a elevação da Obra.
Por fim, a síntese de toda a escalada iniciática está
representada no grau de Mestre Maçom. Na realidade o epítome é o resultado
final da Arte. É a beleza da Obra acabada. É o Templo preparado para que nele
se concentrem todos os segredos do Ofício. Tal é o seu mistério que essa não é
matéria apropriada para esse arrazoado.
De tudo aqui comentado, nada é mais do que uma síntese dessa alegoria
iniciática. A doutrina do Aprendiz e do Companheiro Maçom discretamente se encontra
nos meandros da liturgia dos rituais autênticos e suas preleções (instruções). Além
do que lhes é revelado, cabe também aos iniciados dedicação e observação
meticulosa no desvendar dessa filosofia. Por óbvio, a Moderna Maçonaria mantém
um método velado por símbolos e alegorias dos quais, boa parte desse relicário
fora herdada das tradições, usos e costumes dos nossos ancestrais, antigos
artífices e canteiros que esquadrejavam a pedra calcária e que viviam reunidos
nas guildas que abrigavam as corporações de ofício da Idade Média.
Assim, o arcabouço doutrinário montado pela Moderna Maçonaria traz
embasado nas antigas construções das catedrais um suporte metodológico que
compara o homem, bruto e áspero tal qual a pedra retirada da jazida (matéria
prima) com o homem esquadrejado e polido que pela constância e dedicação ao
trabalho se tornou matéria prima especulativa imprescindível para fazer parte
como elemento construtivo das paredes de um Templo dedicado à Virtude
Universal.
É nesse contexto de transformação que atuam as doutrinas de cada grau do
simbolismo maçônico.
Como a discrição é um dos métodos da Arte, comenta-se que na construção
do lendário Templo de Jerusalém (o primeiro), tido como a maior alegoria
maçônica, não se ouvia nenhum ruído durante os trabalhos.
Com esse escopo a Moderna Maçonaria traz de modo velado os seus
ensinamentos, cujos quais são reservados somente aos iniciados. Sem tumulto e
sem ruído, as grandes verdades muitas vezes estão tão próximas que não raras
vezes podem passar despercebidas. Nada está colocado por acaso, porém tudo o que
está colocado é inexoravelmente necessário. Intuir, analisar e sintetizar é o
conjunto que serve de base para os ensinamentos maçônicos.
Concluindo, superficialmente a doutrina está em ensinar ao Iniciado que,
com a utilização das ferramentas simbólicas, ele pode ser tornar um novo homem,
aprimorado e preparado, para ser útil à sociedade. Especulativamente, é o transformar
a pedra bruta e tosca num elemento aproveitável na construção – a Loja
(Oficina) é o canteiro e o Homem, a matéria prima.
T.F.A.
PEDRO JUK
ABR/2019
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