Em 20/11/2019 o
Respeitável Irmão Roberto Ney Lusvarghi, Loja Luz e Progresso, 189, REAA, GLMMG,
Oriente de Araxá, Estado de Minas Gerais, apresenta o que segue:
SIMBOLOGIA EGÍPCIA NOS TEMPLOS MAÇÔNICOS
Gostaria de saber
se o Ir.´. já tem estudado esse assunto, se tem algum trabalho publicado ou se
pode me indicar literatura a respeito.
Muito obrigado pela
sua atenção e receba os meus parabéns pela sua imensa dedicação aos estudos de
nossa Ordem.
CONSIDERAÇÕES.
Os comentários que se seguem abordam o tema num sentido amplo e não específico
a apenas um símbolo.
Não resta dúvida que o costume de utilizar desmedidamente agregados
simbólicos penitentes à cultura egípcia se tem feito presente na decoração de
muitos templos maçônicos pelo mundo. Todavia isso se dá mais por efeito
decorativo do que iniciático, pois a história autêntica já comprovou inúmeras
vezes a inexistência da Ordem Maçônica nos tempos do Antigo Egito.
É bem verdade que houve inclusive personagens embusteiros que criaram
ritos maçônicos exaltando uma suposta maçonaria egípcia (Memphis-Misraim), mas
que mais tarde foram desmascarados por fraude – dentre outros a respeito, vide
apontamentos sobre in Dictionnaire des Franc-Maçons et de la Franc-Maçonerrie,
Alec Mellor, Belfond, Paris, 1971-1979.
Sob o aspecto da Maçonaria documental (autêntica), a Sublime Ordem comprovadamente
possui aproximados 800 anos de história, sendo os seus ancestrais as guildas
de construtores da Idade Média. Assim, a Instituição Maçônica não nasceu e
nunca existiu nos tempos do Egito Antigo, portanto é preciso antes compreender
que para construção do seu arcabouço doutrinário especulativo muitas lendas passariam
a fazer parte nesse contexto. Contudo, reafirma-se que são lendas introduzidas
com o desiderato de, como alegorias, aplicar lições de moral, ética e
sociabilidade e não como elementos comprobatórios relacionados à existência verdadeira
de fatos e acontecimentos ao ponto de aparecerem decorando paredes de templos
maçônicos.
Assim compreendido, cita-se por exemplo a Lenda do 3º Grau como parte
desse arcabouço lendário que fora retirado dos cultos solares da Antiguidade,
cujo qual, por esse viés, possui palpável consonância com a lenda de Osíris, Ísis
e Hórus, entretanto esse não é um fato histórico, mas lendário, assim não autoriza
qualquer afirmativa no sentido de que lendas da antiguidade usadas pela
Maçonaria sirvam para comprovar sua existência naqueles idos tempos – muito menos
arrumar justificativas para se construir templos maçônicos copiando arquitetura
egípcia.
Lendas são lendas e não afiançam autenticidade aos fatos que constituem
o mosaico da História. Infelizmente essa não é uma lição que tenha sido
aprendida por muitos imaginosos autores que, em detrimento de citações lendárias
associadas ao ufanismo maçônico, semeiam suposições que não têm qualquer compromisso
com a verdade. James Anderson, por exemplo, carregou algumas páginas da
Constituição de 1723 com essas elucubrações, geralmente retiradas do Old
Charges que traziam forte apelo religioso, especialmente pela forte influência
da Igreja sobre as corporações de ofício da Idade Média. Sob o aspecto prático,
é compreensível que Anderson tenha inserido essas exposições lendárias já que a
"nova ordem", amparada pela Royal Society e que compunha a
Moderna Maçonaria, surgida em 1717 em Londres, carecia de agregar novos adeptos
e com isso chamar atenção com fatos tidos como "misteriosos segredos
guardados pela Maçonaria". Isso sem dúvida ajudou a Premier Grand Lodge
reforçar suas Colunas, principalmente com membros atraídos pela curiosidade despertada,
sobretudo quando publicados nos diários londrinos da época. Lawrence Dermott,
por exemplo, para atrair adeptos para a sua Grande Loja, a dos Antigos (1751), criou
o Real Arco afirmando que nele havia o encerramento e a explicação da Lenda do
3º Grau. Artifício inteligente que até hoje faz com que adeptos da Ordem acreditem
na existência de um 4º grau maçônico advindo dos tempos imemoriais, fato que
também não se sustenta, pois comprovadamente a Maçonaria de antanho trabalhava
com apenas duas classes de trabalhadores, vindo a surgir o 3º Grau especulativo
somente na Moderna Maçonaria surgida no final do primeiro quartel do século
XVIII.
Outro aspecto nesse mesmo sentido (o da não existência de Maçonaria na
antiguidade) é o que envolve a própria "arte de construir".
Nesse sentido, não há como negar que a profissão de construtor é um
ofício milenar, entretanto não como uma organização feito à Maçonaria.
A arte de construir, surgida principalmente pela necessidade de se proteger,
fez com que o homem, ao deixar a vida sedentária das cavernas para viver em sociedade
estratificada, começasse a edificar choupanas, vivendas e casebres para se abrigar
das intempéries e se proteger dos perigos e agruras comuns ao ambiente que o
envolvia.
Com isso davam-se os primeiros passos na arte e no ofício das
construções, sendo, portanto, perfeitamente viável se afirmar que essa profissão
é oriunda dos tempos imemoriais, entretanto isso não significa dizer que
existiam guildas de construtores maçons naquela época, pois documentalmente se
sabe que a Franco-Maçonaria somente viria florescer, sob a proteção da
Igreja-Estado, no século XIII.
Como sociedade organizada de artesãos construtores, a Franco-Maçonaria,
seguindo o curso da história e atendendo à necessidade surgida pela expansão
dos domínios da Igreja, nascera em substituição, primeiro às Associações Monásticas
e depois às Confrarias Leigas
Longe e anterior a tudo isso está a civilização do Antigo Egito ocorrida
no Antigo Oriente próximo ao norte da África há 3.100 a. C. Seu aparecimento no
ideário maçônico, além daqueles motivados por lendas solares, provavelmente se
reforçou por teorias de incautos e ufanistas que, usando da lei do menor esforço,
não tardariam a imaginar as pirâmides sendo construídas por maçons, o que cientificamente
é muito pouco provável, simplesmente porque não existe nenhuma prova ou indício
que aponte para a existência da Maçonaria naquele período.
Saindo do Antigo Egito, mas seguindo esse mesmo viés, vem a construção
do primeiro templo hebraico, o de Jerusalém, muito conhecido em Maçonaria como
Templo de Salomão (o rei que reinou em Israel de 1010 a 970 a.C.).
Por ser a maior alegoria maçônica e ligado à lenda hirâmica, a
construção desse Templo também não tardaria a despertar no fértil imaginário que
foram os maçons os seus construtores, tudo obviamente em detrimento à Lenda do
Terceiro Grau onde os personagens do Rei Salomão, Hiram - Rei de Tiro e Hiram
Abif (Hiram meu Pai), de modo fictício, são descritos mitologicamente como
maçons no sentido de estruturar a lenda introduzida em 1725 pelo aparecimento
do grau de Mestre Maçom na Moderna Maçonaria.
Na realidade, a Lenda do Terceiro Grau é a adaptação de uma lenda
Noaquita que envolve os personagens bíblicos de Noé e seus três filhos, Sem,
Can e Jafé. Sem dúvida essa lenda, tal como a de Osíris, Ísis e Hórus, se
estrutura nos cultos solares da Antiguidade, cujos quais serviram de base para
a maioria das religiões que conhecemos.
Retomando a Lenda Hirâmica, ela, como qualquer outra lenda, não tem
qualquer compromisso com a realidade histórica, portanto ela não afirma,
mas apenas menciona figuradamente a Maçonaria na época da construção do
primeiro templo hebraico - o de Jerusalém.
Infelizmente isso ainda não tem sido bem compreendido e faz com que muitos
maçons não separem lenda - que é uma narrativa escrita ou oral no qual fatos
históricos são deformados pela imaginação - de realidade histórica. Com
isso, acabam muitos, até de modo infantil, disseminando inverdades tal como a de
"achar", por exemplo, que os templos maçônicos são edificados como cópias
fiéis do lendário templo bíblico.
Embora alguns ritos maçônicos, por questões doutrinárias decorem seus
templos estilizando mobiliários e partes do espaço de trabalho, relativizando-os
às descrições imaginadas do lendário templo hebraico, por certo isso só pode
ser tratado como característica de uma alegoria maçônica construída sob elementos
figurados. Entenda-se que a sala da Loja, como uma oficina simbólica de
trabalho, longe está de ser um modelo (arquétipo) do Templo de Jerusalém.
Não é cabível, portanto, que ainda existam maçons que não saibam
discernir narrativas lendárias de fatos reais e continuem imaginando que foram
os maçons os construtores do Templo de Jerusalém, ou mesmo os que construíram
as Pirâmides do Egito.
Sem conclusões apressadas é mister mencionar que o primeiro templo
maçônico somente viria surgir nos meados do século XVIII na Inglaterra após o
advento do aparecimento da Moderna Maçonaria. Assim, sua disposição mobiliária
copia a do Parlamento Britânico, principalmente no que diz respeito à acomodação
do plenário e da great chair. No mais, por influência da Igreja sobre os
ancestrais da Moderna Maçonaria, os templos maçônicos seguem o mesmo modelo de
orientação das Igrejas, destacando que, por sua vez, essas últimas foram inspiradas
no Tabernáculo hebraico, antepassado do Templo de Jerusalém.
Dado ao exposto, a Maçonaria deve ter seus templos decorados conforme o previsto
no rito que a Loja pratica, não obstante existirem às vezes, em total
desrespeito para com a originalidade e liturgia, muitos elementos decorativos que
apenas possuem o desiderato de satisfazer o gosto e a imaginação de alguns.
Certo é que como exemplificado anteriormente, elementos decorativos tais
como painéis pertinentes ao Antigo Egito, ou outros do gênero, não fazem nenhum
sentido para o REAA, dentre outros, embora, como dito, eles equivocadamente muitas
vezes apareçam no interior de alguns templos maçônicos.
Eu diria que essa decoração é mais apropriada para a AMORC (Antiga e Mística
Ordem Rosa Cruz) do que para a Maçonaria. Como elementos associativos eles até
podem aparecer no contexto das lendas, mas muito longe de se materializarem
como símbolos aplicados pela doutrina maçônica.
É daí meu Irmão talvez o seu insucesso na procura de explicações sobre a
simbologia egípcia na decoração dos templos maçônicos.
Em termos de decoração egípcia nos templos simbólicos do REAA, por exemplo,
podem existir elementos pontuais, como é o caso, por exemplo, da decoração original
das Colunas B e J. Essas, de estilo babilônico, comumente aparecerem decoradas
com folhas de lótus (universalidade) e de papiros (eterna busca pelo transcendental).
Explicam-se as suas presenças porque as Colunas Gêmeas são pilares solsticiais,
portanto se relacionam diretamente com os cultos solares da Antiguidade. Assim,
as folhas de lótus e papiros (símbolos egípcios), de modo pontual, remontam ao
significado de uma alegoria reservada aos iniciados, porém nunca para mencionar
a existência da Maçonaria nos tempos do Antigo Egito.
Cada símbolo traz consigo a sua originalidade, a despeito de que em
Maçonaria ele geralmente aparece para chamar atenção do iniciado para uma verdade
inserida numa mensagem oculta (esotérica).
Desse modo, outros elementos simbólicos pertencente às diversas civilizações
também fazem parte de corolário emblemático maçônico, contudo eles não possuem
o desiderato de explicar a presença da Ordem em períodos da História.
Concluindo, a simbologia maçônica é ampla e abrange inúmeros aspectos culturais
e sociológicos que foram retirados do misticismo de muitas civilizações. A
Ordem Maçônica, eclética por natureza, para montar seu arcabouço doutrinário se
utilizou desse artifício. Cabe assim ao maçom entender que a simples presença
de símbolos de antigas civilizações no corolário simbólico adotado pela
Maçonaria não representa que a Ordem possui caráter de existência milenar.
Reitero, documentalmente a Maçonaria possui aproximados 800 anos de história, o
resto... Bem, o resto é lenda.
T.F.A.
PEDRO JUK
FEV/2020
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