Em 26.05.2021 o Respeitável Irmão Carlos Alberto de Souza Santos, Loja Harmonia e Concórdia, REAA, GOB-RJ, Oriente do Rio de Janeiro, apresenta a seguinte questão.
TELHAMENTO NO ORIENTE
Gostaria de saber sobre a mudança na ritualística do Grau 3 na verificação dos irmãos em Loja? Antigamente o Respeitabilíssimo ordenava que todos ficassem em pé voltados para o
Oriente, inclusive os do Oriente, para que os mesmos não olhassem a verificação. Agora somente os que estão no Ocidente ficam de pé voltados para o Oriente. Afinal de contas assim como antes não há verificação no Oriente. Então qual a razão para tal mudança?
CONSIDERAÇÕES.
Em síntese pergunta-se: se não há telhamento no
Oriente, então por que os seus ocupantes precisariam se voltar para a parede
oriental?
Ora, isso não faz o mínimo sentido. A correção, não
mudança, é para que a liturgia faça sentido, aliás, está mais do que na hora de
extirparmos invenções que só confundem ao invés de nos trazer esclarecimentos.
No Oriente não há telhamento porque isso é um
resquício das Lojas Capitulares, extintas de há muito. Graças a esse formato
capitular é que levantaram e dividiram o Oriente do REAA. Originalmente (1º
ritual em 1804 na França) o piso da Loja era todo no mesmo nível e não havia
divisão.
Com o advento das Lojas Capitulares em 1.816 da
França (vide essa história) foi preciso criar um santuário Rosa-Cruz, ou seja,
algum lugar separado do simbolismo em uma mesma Loja. Desse modo, no Oriente
dividido e separado do Ocidente, só ingressavam Irmãos detentores do grau Rosa-Cruz.
Diante disso, o Venerável Mestre era também o Athersata do Capítulo.
Trocando em miúdos, mais tarde, quando foram
extintas as Lojas Capitulares - no início do século XX - ao tempo do Oriente retornar
para o mesmo nível do espaço ocidental, como é no Craft, desafortunadamente o
desnível e a divisão acabariam resistindo, se tornando consuetudinários no Rito,
isto é, consagrados e universalmente aceitos no escocesismo.
Com as coisas no seu devido lugar, o simbolismo
apenas com a Obediência Simbólica, o Oriente elevado e dividido passou a ser
reservado apenas aos Mestres Maçons e ex-Veneráveis Mestres.
No contexto iniciático dessa topografia da sala da
loja, o Oriente é o final da jornada iniciática do simbolismo, nele só
ingressando aqueles que passaram pela cerimônia de Exaltação ao 3º Grau (morte
e renascimento).
Com isso, o ápice atingido pelo Grau de Mestre é
assegurado pelo dirigente maior da Loja quando o Venerável diz: eu respondo
pelos do Oriente. Como o Oriente é lugar do Mestre Maçom, nesse espaço, herdado
do santuário capitular, não há telhamento. Por óbvio, os Vigilantes não
ingressam no Oriente para examinar os seus ocupantes. Também nem o Venerável
Mestre tem esse ofício, bastando para a responsabilidade da sua palavra.
No Brasil, com a desmedida profusão de rituais carregados
de deturpação apareceu essa bobagem de no REAA os Irmãos do Oriente se voltarem
para a parede oriental, inclusive o absurdo de o próprio Venerável ficar de
costas para o Ocidente.
Não há coerência alguma nessa prática, pois o
telhamento é restrito ao Ocidente, onde os Vigilantes percorrem o canteiro para
simbolicamente se assegurar da qualidade maçônica daqueles que ocupam as
Colunas da Loja. Como dito, as Colunas, não o Oriente.
Historicamente, é bom lembrar que as Colunas Norte
e Sul simbolizam o espaço onde os nossos ancestrais operários trabalhavam na
construção e era ali que comumente se verificava o nivelamento e a aprumada das
paredes (vide a joia dos Vigilantes).
Nesse sentido, o que tem ocorrido é que nos tempos
atuais muitas dessas práticas esdrúxulas e sem sentido, como a dos do Oriente ficarem
de costas para o Ocidente, têm sido abortadas, portanto não se trata de mudar,
ou de mudar para quê.
O caso é que tem se procurado justificar e dar
sentido às práticas maçônicas e não ficar simplesmente copiando e praticando procedimentos
equivocados oriundos de rituais anacrônicos.
É bom que se diga que não basta só seguir o que
está escrito. É preciso também conhecer a história da liturgia e o porquê da
sua aplicação na ritualística. Assim, se bem compreendida essa arte, certamente
muitas fantasias e invenções perderão guarita nos nossos rituais.
T.F.A.
PEDRO JUK
http://pedro-juk.blogspot.com.br
DEZ/2021
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