segunda-feira, 24 de abril de 2017

ABREVIATURA MAÇÔNICA

Em 16/03/2017 o Respeitável Irmão Helio Brandão Senra, Loja União, Força e Liberdade, 272, sem mencionar o nome do Rito e do Oriente, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Estado de Minas Gerais, solicita esclarecimentos.

ORIGEM DA ABREVIATURA MAÇÔNICA


Estou fazendo uma pesquisa sobre a origem da abreviatura das palavras e particularmente sobre o uso dos 3 pontos após assinatura e ou palavras na Maçonaria.
Ficaria muito grato se pudesse me ajudar.

CONSIDERAÇÕES

Primeiramente, esclareça-se que a abreviatura por três pontos com a forma de um delta, não é unânime na Maçonaria. Também, para a vertente maçônica que usa desse subterfúgio, existem critérios, tanto na forma de se abreviar, assim como contra o excesso dessa prática nos textos maçônicos.
Os pontos de abreviação, que hoje perderam a sua originalidade, à moda francesa (três pontos), ou à moda inglesa (um ponto), após determinadas palavras que compõem um texto maçônico, têm apenas a simples finalidade de indicar onde uma palavra sofreu apócope (foi cortada).
Na verdade esse procedimento vem da precaução para que o escrito somente seja compreendido por um maçom na hipótese de que ele venha cair nas mãos de não iniciados (profanos, no jargão maçônico).
A vertente inglesa de Maçonaria, por exemplo, comumente usa a monopontuação em lugar da tripontuação, porém com bastante critério e só por real necessidade. Já na França, segundo Alec Mellor nos informa in Dictionaire de La Franc-Maçonnerie et des Franc-Maçons, Paris, 1978, essa prática é abusivamente usada, o que deu inclusive origem à expressão pejorativa “Irmãos três pontos” aos Franco-Maçons.
Ainda segundo José Castellani, mencionando o mesmo Alec Mellor (autor reconhecidamente fidedigno em todo o mundo maçônico): “no século XVIII, quando foi introduzida a tripontuação, em documentos franceses, eles, algumas vezes, eram dispostos em linha horizontal (...) e até em outras posições, já que não havia padronização”.
Mais tarde, entretanto, o costume de tripontuação em forma de um delta (triângulo) viria se firmar na Maçonaria francesa.
No Brasil, e mesmo na América espanhola, esse costume de abreviação tripontual triangular acompanharia o costume da Maçonaria francesa, já que naquela época, a França, não só na Maçonaria, ditava a moda em quase todo o mundo.
Os três pontos como abreviação, em princípio eram usados apenas para indicar onde havia sido feito o corte nas palavras - na apócope. Somente a posteriori é que eles seriam também colocados após as assinaturas visando identificar o maçom, cujo costume é comum entre nós até os dias de hoje.
Na verdade, em relação à invenção de identificação tripontual após a assinatura, no que diz respeito à data do seu aparecimento, ela é ainda desconhecida.
É certo também que nunca houve entre os antigos maçons a preocupação de se identificar como tal, já que naquela época isso só poderia lhes trazer dissabores, sobretudo após a publicação da bula papal In eminenti apostolatus specula, de Clemente XII de abril de 1738, ao contrário da atualidade onde vemos muitos maçons brasileiros que exageradamente andam enfeitados com penduricalhos maçônicos, só faltando mesmo sobre eles um letreiro em néon anunciando: sou maçom.
Há que se destacar ainda que além das abreviaturas para ocultar escritos maçônicos em épocas de perseguições, era costume entre os maçons o uso de um nome simbólico no intuito de ocultar o seu verdadeiro nome. Essa prática, entretanto caiu em desuso à medida que a liberdade individual e coletiva ia sendo assegurada, só sendo mantida atualmente em alguns círculos maçônicos a exemplo do Rito Adonhiramita.
Assim, genuinamente, a tripontuação, originária da vertente francesa de Maçonaria, surgiu no século XVIII com a finalidade de dificultar a compreensão do texto aos não maçons que porventura viessem ter acesso a documentos maçônicos. A técnica de abreviação consiste em indicar por três pontos, geralmente em forma de um delta, a supressão de um fonema ou sílaba de uma palavra que, em Maçonaria de vertente francesa, ocorre geralmente após uma consoante e dobrando a letra inicial em caso de plural, a despeito que em alguns títulos, a apócope possa ocorrer igualmente logo após a sua primeira, ou primeiras letras, se for o caso.
Como explicado, a tripontuação não é original quando se tratar de identificar a assinatura de um maçom, entretanto já é considerado costume consuetudinário e largamente usado por maçons praticantes de Maçonaria de vertente francesa (conquanto isso seja facilmente imitado por muitos profanos).
Destaque-se por fim que, como já mencionado, a Maçonaria inglesa também se faz valer da apócope em algumas palavras, porém geralmente indicada por unipontuação, embora apenas em situações que sejam extremamente necessárias. Nela também existem outros métodos de abreviação.
Em síntese, no que diz respeito às abreviações na Maçonaria para tornar textos compreensíveis somente aos maçons, existem inúmeras técnicas que não ficam restritas apenas a apócopes por unipontuação ou tripontuação. Muitas práticas nesse particular seguem, às vezes os costumes e a linguagem genuína de uma região onde é praticada a Maçonaria – essa é uma observação importante e deve ser efetivamente considerada.
Dando por concluído, é oportuno então salientar que esses métodos de abreviação na atualidade, na sua grande maioria, somente são mantidos mais para preservar a sua tradição. Não faz sentido na atualidade o abuso desordenado dessa prática. É fantasia também o que alguns autores dissertam em ilações dando significados simbólicos à tripontuação. Isso é pura bobagem. Os três pontos só indicam onde uma palavra foi cortada, não havendo nele nenhum significado místico, oculto ou esotérico.
E.T. – Os vocábulos “unipontuação e tripontuação” são neologismos usados especificamente nesse texto como identificação.


T.F.A.

PEDRO JUK


ABRIL/2017

Um comentário: