Em 16/03/2017 o Respeitável Irmão
Helio Brandão Senra, Loja União, Força e Liberdade, 272, sem mencionar o nome
do Rito e do Oriente, Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Estado de Minas
Gerais, solicita esclarecimentos.
ORIGEM DA ABREVIATURA MAÇÔNICA
Estou fazendo uma pesquisa sobre a
origem da abreviatura das palavras e particularmente sobre o uso dos 3 pontos
após assinatura e ou palavras na Maçonaria.
Ficaria muito grato se pudesse me
ajudar.
CONSIDERAÇÕES
Primeiramente,
esclareça-se que a abreviatura por três pontos com a forma de um delta, não é
unânime na Maçonaria. Também, para a vertente maçônica que usa desse
subterfúgio, existem critérios, tanto na forma de se abreviar, assim como
contra o excesso dessa prática nos textos maçônicos.
Os pontos de
abreviação, que hoje perderam a sua originalidade, à moda francesa (três
pontos), ou à moda inglesa (um ponto), após determinadas palavras que compõem
um texto maçônico, têm apenas a simples finalidade de indicar onde uma palavra
sofreu apócope (foi cortada).
Na verdade esse
procedimento vem da precaução para que o escrito somente seja compreendido por
um maçom na hipótese de que ele venha cair nas mãos de não iniciados (profanos,
no jargão maçônico).
A vertente inglesa
de Maçonaria, por exemplo, comumente usa a monopontuação em lugar da
tripontuação, porém com bastante critério e só por real necessidade. Já na
França, segundo Alec Mellor nos informa in
Dictionaire de La Franc-Maçonnerie et des Franc-Maçons, Paris, 1978, essa
prática é abusivamente usada, o que deu inclusive origem à expressão pejorativa
“Irmãos três pontos” aos Franco-Maçons.
Ainda segundo José
Castellani, mencionando o mesmo Alec Mellor (autor reconhecidamente fidedigno
em todo o mundo maçônico): “no século
XVIII, quando foi introduzida a tripontuação, em documentos franceses, eles,
algumas vezes, eram dispostos em linha horizontal (...) e até em outras
posições, já que não havia padronização”.
Mais tarde, entretanto,
o costume de tripontuação em forma de um delta (triângulo) viria se firmar na
Maçonaria francesa.
No Brasil, e mesmo
na América espanhola, esse costume de abreviação tripontual triangular acompanharia
o costume da Maçonaria francesa, já que naquela época, a França, não só na
Maçonaria, ditava a moda em quase todo o mundo.
Os três pontos como
abreviação, em princípio eram usados apenas para indicar onde havia sido feito
o corte nas palavras - na apócope. Somente a posteriori é que eles seriam
também colocados após as assinaturas visando identificar o maçom, cujo costume é
comum entre nós até os dias de hoje.
Na verdade, em
relação à invenção de identificação tripontual após a assinatura, no que diz
respeito à data do seu aparecimento, ela é ainda desconhecida.
É certo também que
nunca houve entre os antigos maçons a preocupação de se identificar como tal,
já que naquela época isso só poderia lhes trazer dissabores, sobretudo após a
publicação da bula papal In eminenti
apostolatus specula, de Clemente XII de abril de 1738, ao contrário da
atualidade onde vemos muitos maçons brasileiros que exageradamente andam
enfeitados com penduricalhos maçônicos, só faltando mesmo sobre eles um
letreiro em néon anunciando: sou maçom.
Há que se destacar
ainda que além das abreviaturas para ocultar escritos maçônicos em épocas de
perseguições, era costume entre os maçons o uso de um nome simbólico no intuito
de ocultar o seu verdadeiro nome. Essa prática, entretanto caiu em desuso à
medida que a liberdade individual e coletiva ia sendo assegurada, só sendo
mantida atualmente em alguns círculos maçônicos a exemplo do Rito Adonhiramita.
Assim,
genuinamente, a tripontuação, originária da vertente francesa de Maçonaria,
surgiu no século XVIII com a finalidade de dificultar a compreensão do texto
aos não maçons que porventura viessem ter acesso a documentos maçônicos. A
técnica de abreviação consiste em indicar por três pontos, geralmente em forma
de um delta, a supressão de um fonema ou sílaba de uma palavra que, em
Maçonaria de vertente francesa, ocorre geralmente após uma consoante e dobrando
a letra inicial em caso de plural, a despeito que em alguns títulos, a apócope possa
ocorrer igualmente logo após a sua primeira, ou primeiras letras, se for o
caso.
Como explicado, a
tripontuação não é original quando se tratar de identificar a assinatura de um
maçom, entretanto já é considerado costume consuetudinário e largamente usado
por maçons praticantes de Maçonaria de vertente francesa (conquanto isso seja
facilmente imitado por muitos profanos).
Destaque-se por fim
que, como já mencionado, a Maçonaria inglesa também se faz valer da apócope em
algumas palavras, porém geralmente indicada por unipontuação, embora apenas em
situações que sejam extremamente necessárias. Nela também existem outros
métodos de abreviação.
Em síntese, no que
diz respeito às abreviações na Maçonaria para tornar textos compreensíveis
somente aos maçons, existem inúmeras técnicas que não ficam restritas apenas a
apócopes por unipontuação ou tripontuação. Muitas práticas nesse particular
seguem, às vezes os costumes e a linguagem genuína de uma região onde é
praticada a Maçonaria – essa é uma observação importante e deve ser
efetivamente considerada.
Dando por
concluído, é oportuno então salientar que esses métodos de abreviação na
atualidade, na sua grande maioria, somente são mantidos mais para preservar a
sua tradição. Não faz sentido na atualidade o abuso desordenado dessa prática.
É fantasia também o que alguns autores dissertam em ilações dando significados
simbólicos à tripontuação. Isso é pura bobagem. Os três pontos só indicam onde
uma palavra foi cortada, não havendo nele nenhum significado místico, oculto ou
esotérico.
E.T. – Os vocábulos
“unipontuação e tripontuação” são neologismos usados especificamente nesse
texto como identificação.
T.F.A.
PEDRO JUK
ABRIL/2017
Excelente!
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