domingo, 30 de abril de 2017

DÚVIDAS RITUALÍSTICAS NO REAA

Em 21/03/2017 o Respeitável Irmão Tristão Antônio Borborema de Carvalho, Loja Obreiros de Abatiá, REAA, Grande Oriente do Paraná (COMAB), Oriente de Abatiá, Estado do Paraná, solicita os seguintes esclarecimentos:

DÚVIDAS SOBRE A LITURGIA DO REAA


Dileto autor, tenho algumas dúvidas sobre ritualística a sanar acerca do REAA, na nossa liturgia, que fomentam debates entre nossos obreiros. São cinco indagações, conquanto imagino que a resposta seja de cunho bem objetivo.
Primeira dúvida. Tema: sinal gutural e seu momento. No início da sessão, quando os obreiros ficam em pé defronte seus assentos e o Mestre de Cerimônias, após anunciar a composição da Loja e seu grau, também tomando seu assento, o Venerável Mestre assim pronuncia: "em loja, meus irmãos (faz uma pausa), sentemo-nos". No momento em que diz "em loja", já seria o momento adequado para fazer o sinal gutural? Ou deve ser feito em outro momento e a partir de quando será lícito fazê-lo?
Segunda dúvida: TEMA: toque e transmissão da palavra sagrada. No REEA, quando o primeiro Diácono recebe a palavra sagrada do Venerável Mestre, antes de levar ao Primeiro Vigilante, ele (Diácono) também dá o toque do grau ao Venerável ou somente recebe dele, antes dessa transmissão (da palavra sagrada)? Do mesmo modo, o Primeiro Diácono ao transmitir a palavra sagrada ao irmão Primeiro Vigilante, somente dá o toque do grau a ele ou também recebe? Em suma, o toque, no momento da transmissão entre as Luzes e os Diáconos é bilateral (recebe e retorna) ou unilateral (somente é dado por quem tem a palavra sagrada, sucessivamente, Venerável em relação ao Primeiro Diácono; Primeiro Diácono em relação ao Primeiro Vigilante; Primeiro Vigilante em relação ao Segundo Diácono e, finalmente, Segundo Diácono em relação ao Segundo Vigilante).
Terceira dúvida: TEMA: forma de transmissão da palavra sagrada no Grau de Aprendiz. Entre os Diáconos e as Luzes, em sessão do primeiro grau, a palavra sagrada é passada com soletração, ou seja, letra por letra? Neste caso, com medeios de cabeça (alternância entre os ouvidos) ou somente no ouvido (direito ou esquerdo) do interlocutor?
Quarta dúvida. Tema - formação do pálio. Na formação do pálio, que no nosso ritual se dá duas vezes, na abertura e fechamento do Livro da Lei, o Mestre de Cerimônias, que se posta atrás do Mestre Instalado encarregado da abertura/fechamento, deve colocar o bastão sempre sob os bastões cruzados dos Diáconos, na abertura do Livro da Lei e sobre tais bastões, no fechamento do Livro da Lei ou, é totalmente indiferente à posição do bastão do Mestre de Cerimônias na formação do pálio?
Quinta dúvida. Tema - desfazimento do sinal de ordem. Qual o momento em que o sinal de ordem não mais será executado em loja? No final do nosso ritual, o Venerável diz, "a mim, pelo sinal, pela bateria, pela aclamação (Huzzé)". Depois disso, ele declara a loja fechada. A questão é, após a aclamação (terceira menção à expressão, "Huzzé"), ainda perdura o sinal, só desfeito quando o Venerável declara a Loja fechada ou após sua execução (terceira aclamação), já se desfaz o Sinal?

CONSIDERAÇÕES

Muitas explicações dependem de muitas observações para que elas façam sentido. Existe a questão do que é real e do que é aparente. Explico: no que diz respeito às minhas ponderações, observo por primeiro respeitar a pureza do Rito e, em segundo, aquilo que está escrito no ritual da Obediência – sabemos que, mesmo de um mesmo Rito, eles se diferem entre as Potências brasileiras.
Assim, devo salientar que quando me expresso em relação à tradição de um sistema ritualístico, não estou levando em consideração apenas esse ou aquele ritual, pois simplesmente dizer que isso ou aquilo está correto ou errado, geralmente não traz solução para a dúvida. Desse modo vou procurar ser o mais objetivo possível, porém sem agredir a lógica dos fatos e o exercício da prudência. Vamos então a eles:

1 – Sinais são feitos apenas em Loja aberta, o que significa que só depois dela ser declarada aberta pelo Venerável é que todos “deveriam” compor o Sinal. Entretanto, só existe um momento no qual os Obreiros se manifestam pelo Sinal antes da Loja ser declarada aberta. Isso acontece na ocasião em que o Primeiro Vigilante em Loja de Aprendiz, atendendo a ordem do Venerável Mestre, verifica simbolicamente se todos os presentes são maçons. Isso acontece apenas para conservar a tradição simbólica que indica que todos os presentes estão prontos, à disposição, à ordem para o trabalho. Obviamente que nos Graus 02 e 03 esses procedimentos se diferem um pouco, embora a sua essência seja a mesma.
Assim, afora essa possibilidade prescrita pela dialética da ritualística de abertura, Sinais somente são compostos a partir do momento em que a Loja esteja devidamente pela liturgia maçônica aberta (exposição das Três Grandes Luzes Emblemáticas).
Sabe-se, entretanto que a realidade não é bem essa, pois muitos rituais desafortunadamente equivocados, ainda preveem o contrário daquilo que é a tradição, todavia estando eles legalmente em vigência, inquestionavelmente cumpre-se o seu inteiro teor.
No que diz respeito à menção “em Loja, meus Irmãos” nada tem a ver com a composição de Sinal de Ordem, senão ser um alerta do Venerável para que dali em diante se siga os procedimentos litúrgicos balizados pelo ritual. É o mesmo que o conhecido: “meus Irmãos, ajudai-me a abrir a Loja”.
2 – Seguindo o que prevê a razão, o Toque somente é dado por aquele que pede a Palavra (significa que ele está pedindo a Palavra). Assim, o outro protagonista não responde com outro Toque, porém revela a Palavra na forma de costume.
É oportuno mencionar que a transmissão da Palavra que ocorre por ocasião da abertura e do encerramento da Loja, se dá entre Mestres Maçons (somente Mestres podem ocupar cargos), assim quem transmite é aquele que é inquirido pelo Toque. Por não ser um ato de telhamento (verificação de qualidade), quem transmite, transmite a Palavra por inteiro (soletrada ou silabada conforme a ocasião).
No que diz respeito à sua questão, o Toque para a transmissão da Palavra é unilateral. Do mesmo modo a transmissão também é unilateral.
3 – Boa parte dessa questão já foi respondida no item número dois. A regra de soletrar ou silabar conforme o Grau permanece no ato, porém por apenas um dos interlocutores nesse caso.
Tradicionalmente a transmissão é feita apenas em um dos ouvidos dos interlocutores (ou só no direito, ou só no esquerdo). É equivocada no REAA a prática exarada por alguns rituais alternando a audição entre os ouvidos (menear com a cabeça) – isso mais parece uma atitude de galo de briga do que prática maçônica.
A propósito, a história e a razão da liturgia da transmissão da Palavra são únicas e deveria ser conhecido o porquê da sua existência.
4 – Embora no REAA a formação de pálio seja enxerto advindo de outro rito (ele não existe no escocesismo original), se algum ritual, mesmo equivocado, prever essa prática, penso que o mais viável então seria que o Mestre de Cerimônias posicionasse o seu bastão por sobre os outros dois bastões cruzados pelos Diáconos.
5 – O correto é que quem fecha a Loja é o Primeiro Vigilante por ordem do Venerável Mestre (Irm\ 1º Vig\, podeis fechar a Loja) – existe uma razão histórica para esse acontecimento. Assim que o Vigilante declarar Loja fechada, fecha-se o Livro da Lei e todos desfazem o Sinal. Desse momento em diante não se faz mais Sinal.
Levando-se em conta que genuinamente no REAA a aclamação ao final dos trabalhos só é feita após esta a Loja fechada pelo Primeiro Vigilante, a Aclamação é então pronunciada sem que haja composição do Sinal.
Agora, no caso do ritual em vigência na sua Obediência, onde, segundo a sua observação, é o Venerável Mestre quem declara a Loja fechada e que isso se dá somente após o Sinal, a Bateria e a Aclamação (pelo menos foi o que eu entendi), sem discutir o mérito desse procedimento, eu penso que, num caso desses, todos ainda devem permanecer com o Sinal após a Aclamação.
O que pode é estar havendo um erro de interpretação no que diz respeito aos termos “encerramento dos trabalhos” e “fechamento da Loja”. Nesse caso, o ideal é sempre tomar por base para “Loja fechada” o fechamento do Livro da Lei, momento em que todos deveriam em seguida desfazer o Sinal. Partindo dessa premissa, ao final da sessão somente existe a Bateria e a Aclamação, não existindo, portanto nessa oportunidade, o ato do “pelo Sinal”.
Outro aspecto para ser observado é o de não se confundir o ato litúrgico de fechar a Loja (trabalhos do canteiro) pelo Primeiro Vigilante que é imediatamente seguido pelo fechamento do Livro da Lei, com o convite do Venerável para que todos se retirem (do recinto) por já estarem liturgicamente encerrados os trabalhos e a Loja fechada.
É fato que muitos ritualistas não se apercebem desses detalhes e deixam os nossos rituais confusos e sujeitos às dúbias interpretações. É devido a isso que não se consegue ser objetivo nas respostas que envolvem a liturgia e a ritualística maçônica. São essas contradições que tem nos levado às intermináveis discussões sem que sejam colhidos bons frutos. Um bom exemplo disso são os temas aqui hoje abordados e que estão muito longe de serem satisfatoriamente explicados na sua origem e razão da sua existência, obviamente pela sua complexidade e pela exiguidade de espaço oferecido.
Concluindo, peço desculpas se abusei da prolixidade, mas eu não entendo meu ofício como um ato de simplesmente dizer “sim ou não” como resposta objetiva. A escola maçônica me ensinou através dos tempos a ser prudente. Portanto sem me atrever a ser laudatório, eu jamais me permitiria a emitir considerações sem expor primeiro as minhas convicções para que o leitor possa a posteriori tirar as suas conclusões.

T.F.A.

PEDRO JUK


ABRIL/2017

2 comentários:

  1. Amado Irmão Pedro, perdoe-me mas não entendi essa questão número 3.
    Se fala em toque, mas os diáconos por estarem com os bastões (em hipótese alguma se pode trocar de mão) Como eles vão dar o toque ao pedir a palavra?

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