Essa Peça de Arquitetura foi apresentada pelos Irmãos Aprendizes da Loja Caminho de Luz, Oriente de Curitiba que a elaboraram por ocasião da realização Encontro Regional de Aprendizes e Companheiros do Grande Oriente do Brasil - Paraná em maio próximo passado.
De excelente conteúdo, resolvi publicar no meu blog, com a devida autorização, recomendo a leitura desse assunto polêmico que teima em transitar nos nossos meios.
Ratifico que essa Peça de Arquitetura não é da minha lauda, porém devo aboná-la como obra de conteúdo apropriado para a instrução maçônica.
Parabéns aos Irmãos da Loja .
EGRÉGORA
MAÇÔNICA
UMA VISÃO CRÍTICA
AAp.´. MM.´.:
David Simão
João Duleba
Murilo França
Claudio Ramos
Ricardo Igor
Elton Rocha
Orientação:
2º. VIG.´.: PAULO HENRIQUE BEREHULKA
Curitiba – ABRIL-2017
1.
INTRODUÇÃO
A
Maçonaria Moderna identifica-se, de forma geral, com um mote: “a busca da
verdade”. Por sua vasta história e amplitude geográfica, produziu ritos
diversos e linhas de estudo que podem ser equiparadas às múltiplas vertentes do
conhecimento humano. Mas, por mais diversas que sejam suas formas de atuação, a
Ordem Maçônica não pode olvidar-se quanto ao compromisso de seu objetivo
principal: elucidar a mente e dissipar as trevas da ignorância.
No
entanto, alguns temas suscitam maiores reflexões do que outros. O tema do
presente trabalho - “A Egrégora Maçônica” - é um destes que se apresenta arenoso.
Eivado de muitas ilações, sensações, até crenças, constrói ambiente enigmático
para o pesquisador maçônico atento ao intento de atingir-se certo grau de
assertividade. Diante desta circunstância, a ARLS Caminho de Luz, que adota o
REAA, permitiu-se adicionar um subtítulo ao tema, qual seja, “Uma Visão
Crítica”.
A
visão crítica a que se refere aqui é aquela que busca identificar os reais
fundamentos de qualquer premissa. Uma vez esmiuçado o conceito, reconstrói-se o
mesmo com a responsabilidade de referenciar a pesquisa, a lógica e a razão, e
não crendices efêmeras ou sensações pessoais.
Egrégora,
para muitos Maçons, significa a reunião de forças mentais e espirituais dos
irmãos congregados em Loja, na presença de uma entidade espiritual. Ou ainda,
conforme o Rito, a ligação psíquica e espiritual à essência de todo Maçom que
existe ou já existiu.
Assim,
ouve-se em reuniões maçônicas do REAA explicações das mais variadas formas, se
utilizando do misticismo, esoterismo, e de tantas outras quase ciências para tentar
dar sentido para reunião dos irmãos em loja.
No
entanto, baseando-se em um resgate histórico, nos fundamentos iluministas da
Maçonaria Especulativa, bem como no berço de nascença do REAA, outro
significado para “Egrégora” pode ser identificado.
A
despeito das cargas esotéricas, a união de designíos e o foco comum na execução
ritualística apresentam-se, aparentemente, como fatores importantes a serem
estudados na geração do chamado “espírito de corpo”, de pertencimento e
aglutinação.
Em
razão desta dualidade de conceitos, tão díspares, o tema foi desenvolvido
buscando um resgate histórico do contexto da formação da maçonaria
especulativa, e, nesta esteira, a identificação dos objetivos eleitos para
serem a razão de atuar da maçonaria através do REAA. Em sequencia, buscar-se-á
verificar se é plausível a hipótese de que a maçonaria brasileira, impregnada
pela forte presença da mística latina, deturpou premissas iluministas do REAA
ao fazer inserir passagens ritualísticas e conceitos exógenos em sua doutrina.
Com isso, pretende-se identificar racionalmente os motivos pelos quais os
irmãos se reúnem com espírito mais associativo e profícuo em algumas sessões do
que em outras.
2.
DESENVOLVIMENTO
2.1.
BREVÍSSIMO
RESGATE HISTÓRICO
A
Maçonaria foi levada para França pelos Stuarts e sua corte, quando estes foram exilados
no Castelo de Saint Germain. Teria sido a primeira manifestação Maçônica em
território Francês. Descende ainda, conforme o Historiador G. Bord, do
regimento criado por Carlos II, chamado Guardas Irlandeses (Procedimentos
Ritualísticos 1º Grau, p.9).
Ainda
na França, o gérmen do Rito Escocês Antigo e Aceito bebe do iluminismo, que
rompe com a lógica obscurantista e passa ao pensamento científico racional.
Representava a vitória da ciência sobre a superstição que dominava o pensamento
medieval.
Também,
pudera. Na Idade Média, período que durou do Século X ao XV o homem viveu
aprisionado em seu pequeno mundo, cheio de superstições e medos. Com
pouquíssimas pessoas alfabetizadas de fora do clero, a igreja atuava como
fornecedora de justificativas religiosas para todos os momentos. As epidemias e
catástrofes eram quase sempre atribuídas ao diabo e resolvidas com exorcismos,
sinais da cruz e outros simbolismos.
Os
Reis respeitavam o poder da igreja e essa, por sua vez, dependia deles para sua
proteção e patrocínio. Tendo o controle do poder espiritual, e também político
e financeiro, a Igreja Católica foi responsável por manter a ordem social da
Idade Média.
Isto
fica evidente, com base no fragmento de um texto da época:
Deus
quis que, entre os homens, uns fossem senhores e outros servos, de tal maneira
que os senhores estejam obrigados a venerar e amar a Deus, e que os servos
estejam obrigados a amar e venerar o seu senhor (...).
O
surgimento da Maçonaria Especulativa está intimamente ligado com vários
acontecimentos ocorridos na Europa. No final do século XV, o Mercantilismo
permitiu o surgimento das pequenas indústrias, e as expansões marítimas
trouxeram mudanças na consciência popular. O ceticismo, que questionava a
autoridade tradicional (nobreza e clero) desaguaria em conceitos mais claros e
universais.
Princípios
Humanistas resgatam a filosofia da Grécia Antiga, tentando encontrar
explicações racionais sem a utilização da religião e da superstição.
O
século XVIII trouxe uma nova etapa ao Renascimento, o Iluminismo. Seus ideais
espalharam-se por quase toda Europa, jogando luz sob as ideias obsoletas e
supersticiosas da Idade Média, conhecida como a Noite dos Dez Séculos.
Os
entraves para a evolução do homem precisavam ser retirados e com isso, a Razão
deveria ser sua guia, substituindo a antiga crença religiosa e ganhando maior
liberdade política, econômica e social.
Ao
que consta, tanto o nascimento da Maçonaria Especulativa quanto o florescimento
do REAA, advêm do homem ter relembrado sua especial condição: a racionalidade.
Neste contexto, os grandes inimigos da maçonaria são eleitos e seus antídotos enfaticamente
recomendados, chegando aos rituais franceses o juramento maçônico de se
combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e o erros, além de se lutar
perenemente contra o fanatismo e a superstição.
2.2.
OS INIMIGOS DA MAÇONARIA ENFATIZADOS NO REAA
Identificado
o contexto histórico francês do REAA, surge dúvida séria quanto à
compatibilidade do conceito de Egrégora
Maçônica em um rito que exige de seus
membros o juramento de combater os grilhões da humanidade.
Assim,
com o intuito de bem identificar os significados contidos nos substantivos que
representam os inimigos da maçonaria, em especial para o REAA, é que se enxerga
a necessidade do detalhamento dos seus conteúdos.
A
Maçonaria tem por objetivo o combate aos “grilhões” da humanidade, como o
despotismo, o preconceito, a ignorância e o erro, dessa forma buscando
glorificar a verdade e a justiça.
Entende-se
por grilhões uma forma de restrição de liberdade, mas não somente ao sentido de
liberdade como o de circular livremente, mas sim a liberdade de pensamento,
liberdade essa que se alcança através da capacidade de discernir; e o
discernimento, por sua vez, é alcançado pela razão.
O
discernimento é necessário ao Maçom, pois somente pode ser considerado livre
aquele que não está aprisionado aos grilhões do preconceito, da ignorância, do
erro e da superstição. A Razão unida à inteligência devem ser usadas pelo
correto uso do Maço e do Cinzel. A Pedra Bruta deve ser transformada
aplicando-se nela a Razão e a Inteligência para ser utilizada no Edifício
Social como uma Pedra Cúbica, de forma justa e perfeita.
Entende-se
por preconceito o juízo pré-concebido, que se manifesta numa
atitude discriminatória, perante pessoas, crenças, sentimentos e tendências de
comportamento. É uma ideia formada antecipadamente e que não tem fundamento
sério.
A
ignorância é a condição da
pessoa que não tem conhecimento da existência ou da funcionalidade de algo. O
estado da pessoa desprovida de conhecimentos; sem cultura; condição de quem não
tem estudo.
O erro é definido como uma opinião, julgamento contrário à verdade.
Falsa doutrina ou opinião falsa. Um engano ou equívoco.
A
superstição, outra masmorra da
razão, pode ser definida como um desvio do sentimento religioso, fundado no
temor ou na ignorância, e que empresta caráter sagrado a certas práticas
destituídas de qualquer transcendência. Define-se, também, como uma crendice em que se confia em situações
com relações de causalidade que não se podem mostrar de forma racional ou
empírica. Ela geralmente está associada à suposição de que alguma força
sobrenatural, que pode inclusive ser de origem religiosa, agiu para promover a
suposta causalidade.
Superstições
são, por definição, não fundamentadas em verificação de qualquer espécie. Elas
podem estar baseadas em tradições populares, normalmente relacionadas com o
pensamento mágico. O supersticioso acredita que certas ações (voluntárias ou
não) podem influenciar de maneira transcendental a sua vida.
O elo causal entre a atitude do
supersticioso e o efeito que se supõe ocorrer é, em muitos casos, difuso,
muitas vezes não declarado e sempre impossível de ser verificado ou sem cunho
científico.
Esta maneira de pensar contrária à
razão, não só viola os princípios da ciência, mas aprisiona aquele que assim
age. A Maçonaria se levanta contra a superstição por já ter experimentado, nas
brumas da história humana, a facilidade com que homens sem escrúpulos manipulam
pessoas através de crendices, retirando-lhes a liberdade de ação e de pensamento.
2.3.
A EGRÉGORA MAÇÔNICA NO REAA E SUA POSSÍVEL (E
EQUIVOCADA) ORIGEM
Algumas
definições de Egrégora Maçônica que estão disponíveis em livros e repositórios
levam o maçom a pensar em entidades terrenas e espirituais trabalhando juntas,
com princípios místicos envolvidos, formando uma unidade ativada pela suposta
energia do pensamento.
Para
alguns autores, como Jorge Adoum e Nicola Aslam, a Egrégora Maçônica, se “bem feita”,
com a reunião de fortes e idênticas vibrações, com pensamentos da mesma
natureza, um ser verdadeiro ganharia vida e ficaria animado de uma força boa ou
má, conforme o gênero dos pensamentos emitidos pelos participantes.
Orlando
Soares da Costa, preceitua:
“O nosso corpo, tal como o planeta Terra, é um
verdadeiro campo eletromagnético. As células do nosso corpo são basicamente
compostos de sódio e potássio. Basta um pequeno conhecimento de física elementar
para saber que nosso corpo físico é uma grande bateria. Cada célula do nosso
corpo é ligada a três dos nossos sistemas: o Nervoso, o Circulatório e o
Imunológico. Interessa-nos neste momento apenas o Nervoso. Este como sabemos, é
formado por miríades de pequenos feixes capilares que se encontram em dois
grandes eixos, os sistemas nervoso simpático e parassimpático, que se unem em
um eixo central que é a medula, que conduz toda a carga energética ao conjunto
cerebral em nossa caixa craniana, através do hipotálamo.”
Inclusive autores maçônicos que se
autodenominam ligados ao REAA, identificam a presença do ente Egrégora e atribuem-lhe uma posição
central nas sessões ritualísticas. Um deles é Rizzardo da Camino. Em seu livro
“O Aprendizado Maçônico”[1],
ele nos traz:
“As Lojas mais “espiritualizadas”, emprestam
à Cerimônia, atenção especial; há um fundo musical adequado; a luminosidade
passa a ser mais amena com colorido adequado; todos de pé; o Oficiante
ajoelha-se; ergue com ambas as mãos o Livro Sagrado e lhe faz a leitura. Esse
momento é de expectativa. Os videntes notam a formação de um “SER ESPIRITUAL”,
com semelhança ao ser humano, com características angélicas, envolto em nuvens
diáfanas; cresse e cobre a todos os presentes, permanecendo em flutuação,
tenuamente visível, sem perturbar pelo seu mistério. É “um corpo espiritual”
que se forma; seus componentes são retirados da aura de cada um dos IIr.·.
presentes. É a Egrégora. É o mistério que faz de cada um, um só ser; todos os
Maçons passam a uma individualização única; é a harmonização dos pensamentos,
dos ideais, dos propósitos; é a aura geral, o esplendor único. É a
transformação do corpo físico em corpo místico; é a fusão de todos numa
corrente divina. A Egrégora é um ser real, que permanece enquanto o Livro
Sagrado permanecer aberto. E “ele” esse corpo divino e místico, esotérico e
diáfano, faz parte da “cobertura celestial”. É a proteção real. Não há mais o
porquê de um Ir.·. manter com outro qualquer dissonância, pois todos passaram a
formar um só corpo, fundidos e imersos na Egrégora.”
A leitura das linhas acima, em
contraste com as definições trazidas no tópico anterior sobre superstição, dá
condição do pesquisador maçônico questionar a validade e existência desta
entidade chamada Egrégora. Afirmar pela existência e formação de um campo vibracional energético, sem qualquer lastro
doutrinário ou simbólico oficialmente admitido pelos rituais, muito menos
cientificamente válido, alcança, aparentemente, as raias da fantasia,
encobrindo os reais motivos pelos quais os maçons, no REAA, se reúnem em sessão
de Loja.
Diante de tal panorama, pergunta-se
o real motivo dessa influência exacerbada do misticismo no pensamento maçônico latino.
Por que razão a cultura maçônica brasileira aceita melhor os fatos explicados
com base em argumentos metafísicos do que aqueles explicados com bases
científicas?
Sem dúvida que a característica
dos povos latinos de serem suscetíveis a influências do misticismo não lhe é
exclusiva. A Humanidade de modo geral sempre esteve sujeita a influências de
tudo aquilo que não se pode explicar. Desde as mais priscas eras, o pensamento
do homem era levado por crenças místicas. Já na Grécia Pré-Socrática toda e
qualquer explicação era dada com base em atos praticados por deuses ou
semideuses de sua mitologia.
Mais tarde, com a ascensão do
Império Romano, a cultura grega foi absorvida pelo povo romano e o misticismo
foi mais arraigado ainda nas crenças da população.
Os Latinos foram um antigo povo de
origens indo-europeias estabelecido na Península Itálica, mais precisamente na
costa do Mar Tirreno, na região hoje chamada de Lácio, local onde se encontra a
cidade de Roma. Esse povo contribuiu de forma determinante na formação do povo
romano, que absorveu sua língua e cultura. Por esta razão, muitas vezes o termo
“latino” é empregado como sinônimo de “romano”.
Os latinos e depois os romanos
antigos acreditavam serem descendentes de Marte, o Deus grego da guerra, relacionando
a isso o caráter de ser um povo extremamente belicoso. Mesmo após a queda do
Império Romano, com o domínio dos povos bárbaros, passou-se a evidenciar a
crença monoteísta em um ser supremo.
Com o evoluir da História, os
povos europeus passaram a sofrer pesada influência da Igreja Católica nas
Idades Média e Moderna. Com o advento das grandes navegações, os colonizadores
da América Latina, mais notadamente os espanhóis e portugueses, essa influência
cruzou o oceano e desembarcou no novo continente, a América.
O indivíduo branco, que participou
da formação da cultura brasileira fazia parte de vários grupos, que chegou ao
país durante a época colonial. Além dos portugueses, vieram os espanhóis, de
1580 a 1640, durante a União Ibérica (período sob o qual Portugal ficou sob o
domínio da Espanha). Entretanto, foi dos portugueses que recebemos a herança
cultural fundamental, onde a história da imigração portuguesa no Brasil
confunde-se com nossa própria história.
A mitologia portuguesa[2]
é herdeira de um caldeirão de povos e culturas, com mitologias bastante
diversas entre si, que deixaram um fértil legado imaginário. Engloba o conjunto
de narrativas maravilhosas e lendas sobre personagens e suas façanhas,
fenômenos naturais e objetos extraordinários ou regiões fantásticas, com
características sobrenaturais, transmitidas de geração em geração, no decorrer
dos séculos, tanto no campo literário como no da tradição oral. Todavia, um dos
mais importantes legados portugueses foi a religião católica, crença de grande
parte da população brasileira. O catolicismo, profundamente arraigado em
Portugal, deixou no Brasil as tradições do calendário religioso, suas festas e
procissões, tornando-se a religião oficial do Estado até a Constituição
Republicana de 1891, que instituiu o Estado laico. Atualmente, o Brasil é
considerado o maior país do mundo em número de católicos nominais. De acordo
com o IBGE 73,8% da população brasileira declara-se católica.
Com isso, os povos
latino-americanos obviamente acabaram formando uma cultura essencialmente
misticista, em virtude de toda influência na sua formação social e política,
não apenas de seus colonizadores mas também dos próprios povos que já habitavam
o continente antes da invasão europeia. Portanto, seria pouquíssimo provável
que tais povos se desvirtuassem dessa característica.
Como
hipótese científica, admite-se que estas circunstâncias sociológicas pressionaram
o contingente de maçons brasileiros a tal ponto que, por um conforto
ideológico-religioso, preferiu-se optar em descaracterizar passagens
ritualísticas e premissas doutrinárias do REAA, a buscar desenvolver-se
aptidões de pesquisa metodológica científica geradoras da liberdade de
espírito. Tal particularidade constitui, em conjectura, o fundamento da adição do
conceito de Egrégora Maçônica dentro do REAA.
2.4.
EGRÉGORA MAÇÔNICA VS SUPERSTIÇÃO E A AUTÊNTICA ESPIRITUALIDADE
Há
tempos o homem segue costumes, muitas vezes sem saber como surgiram e por que
permanecem até hoje, quando tudo parece ter esclarecimento lógico e racional.
Ocorre que infelizmente a sociedade é alimentada por dogmas culturais e mídia
transbordada por uma pseudociência mística que mistura sua falácia com o jargão
científico, mas rejeita o método científico como teste para suas teorias.
Uma
pseudociência é um mito que reivindica status científico, mas não quer ser
julgada como tal. Ironicamente, sua expansão só tende a aumentar, uma vez que
nos oferecem aquela visão romântica da vida que queremos ver, e é muito fácil
acreditar em algo quando estamos com sede de nos apegar a qualquer coisa. Todos
os dias os nossos temas
culturais, o nosso sistema educacional, nas revistas, nos jornais, na
televisão, no rádio e mesmo nas escolas nos bombardeiam com elas.
Apesar
de ser possível apontar características supersticiosas dentro de praticamente
todas as religiões, é considerado um equívoco confundir as duas coisas.
Religião não é magia. Enquanto uma prática supersticiosa, como um talismã ou
uma simpatia, propõem melhorar nossa existência aqui e agora no mundo físico, a
religião trata da vida espiritual. A superstição traz um benefício imediato,
apenas por placebo, enquanto a religião busca a paz divina, envolvendo normas
éticas e códigos de conduta.
Hipócrates de Cós é o pai da
medicina. Ele é lembrado, principalmente, por causa do juramento hipocrático.
Mas ele é celebrado sobretudo por seus esforços para arrancar a medicina do
terreno da superstição e trazê-la à luz da ciência. Numa passagem peculiar,
Hipócrates escreveu:
“Os
homens acham a epilepsia divina, simplesmente porque não a compreendem. Mas se
chamassem de divino tudo o que não compreendem, ora, as coisas divinas não
teriam fim.”
A um Deus das Lacunas é atribuída
a responsabilidade pelo que ainda não compreendemos. Como o conhecimento da
medicina, tecnologia e demais disciplinas tem se desenvolvido progressivamente,
cada vez mais aumenta o que compreendemos e diminui o que tinha de ser
atribuído à intervenção divina ou magia.
Há milênios filósofos céticos cansados
de respostas fáceis e despertados pela admiração e a curiosidade de descobrir o
que há por trás dos mistérios que os cercam, instavam em atacar e desafiar
tudo, a eles não escapando a crença nos deuses, que dominantemente é
vislumbrado, de diversas formas, como factível de tal existência. Muitos,
contudo, extinguem o politeísmo e a existência de um Deus antropomórfico (com
formas humanas) conferindo a Este uma unidade: o Todo, o Uno, as leis que
governam o universo, o Criador de um plano, A energia e matéria, o espirito de
bondade e inteligência infinita, a Perfeição e as formas que denominamos de
Natureza. O próprio gênio e físico Albert Einstein tinha sua concepção de que
“Deus é a lei e o legislador do Universo“.
A busca pela verdade é campo da
ciência e da racionalidade. O problema dessa busca é a capacidade de
interpretação, pois na cultura popular prevalece uma espécie de Lei de Gresham,
segundo a qual a ciência ruim expulsa a boa, nos tornando analfabetos da razão.
Há 2400 anos, Platão, no livro VII
das Leis, deu a sua definição de analfabetismo científico:
Aquele que não sabe contar um, dois, três,
nem distinguir os números ímpares dos pares, ou que não sabe contar coisa
alguma, nem a noite nem o dia, e que não tem noção da revolução do Sol e da
Lua, nem das outras estrelas [...]. Acho que todos os homens livres devem
estudar esses ramos do conhecimento tanto quanto ensinam a uma criança no
Egito[...] Com espanto, eu [...] no final da vida, tenho tomado conhecimento de
nossa ignorância sobre essas questões; acho que parecemos mais porcos do que
homens, e tenho muita vergonha, não só de mim mesmo, mas de todos os gregos.
Compete aos homens, por sua
racionalidade, identificar e desmitificar todo conhecimento mal empregado, pela
oportunidade de enxergarmos determinados costumes com o olhar crítico da
ciência, onde a dúvida só pode ser sanada pelas lentes das evidências. O
próprio ceticismo nos deu amparo para questionar o, até então, inexplicável e
sermos livres de fato.
Nessa toada, livres e de bons
costumes, os Maçons tem o dever de se desvencilhar das amarras da falsa
ciência. Os bons pedreiros, ao construírem seus edifícios e catedrais, carecem
utilizar o conhecimento empírico e pragmático da engenharia, caso contrário
suas obras tendem a ruir. Na vida espiritual (leia-se espirito como
personalidade imaterial da consciência) os Maçons têm os mesmos deveres, se
desvencilhar das amarras da ignorância e do erro. Apesar disso vemos no meio
Maçônico alguns costumes que se assemelham as ditas superstições, dentre elas
aquelas trazidas do meio profano e outras que se originaram dentro de Loja,
vezes por má interpretação, outras por simples influência do meio cultural no
transcorrer dos tempos. Nisso podemos citar o uso de amuletos ou termos empregados
de forma duvidosa ou equivocada, tal como a concepção da Egrégora Maçônica por
muitos.
3. CONCLUSÃO:
Os
motivos que levam os Maçons do REAA a reunirem-se em Loja, não dependem de uma
energia vibracional gerada entre os irmãos, os colocando em um uníssono ou
sincronia, mas sim tal harmonia está em objetivos e ideais convergentes, a fim
de poderem progredir nos trabalhos da Maçonaria, em coerência com o Humanismo,
que foi a base teórica e filosófica do Movimento Iluminista.
Ao se reunirem os Maçons,
obtém-se uma sinergia, resultado da somatória de todos os esforços voltados
para os mesmos objetivos, mesmos fins, e que são muito claros para todos os
praticantes do REAA: combater o despotismo, a ignorância, os preconceitos e os
erros; glorificar a Verdade e a Justiça; promover o bem-estar da Pátria e da
Humanidade; levantando Templos à virtude e cavando masmorras ao vício.
A Maçonaria Especulativa busca
entender, por meio da razão, a Natureza e o papel do homem em seu meio, por
isso luta por manter-se livre das superstições, temores e erros.
Por
outro lado, não se pode deixar de reconhecer a importância da espiritualidade
que outros Ritos Maçônicos no Brasil conservam em suas práticas, tendo por base
a formação religiosa do povo brasileiro, influenciada fortemente pelas Igreja
Católica, pelas religiões africanas e indígenas. E tal fato não é nem bom ou
ruim, mas uma realidade com as quais os maçons devem aprender a conviver, em
conformidade com os princípios da tolerância e livre credo.
Com
ou sem mística, o que é de fato fundamental é agregar forças construtivas para
que os maçons consigam dar formas concretas aos fins supremos de Liberdade,
Igualdade e Fraternidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Os conceitos apresentados, com adaptações, foram consultados nos
seguintes sites: http://www.significados.com.br, http://pt.wikipedia.org
Hernandes,
Paulo Antonio Outeiro.
Curso de
formação de aprendizes do Rito Escocês Antigo e Aceito.
1º
edição-Londrina-Ed. Maçônica “A Trolha”, 2015.
Bauer,
Alain
O
Nascimento da Franco Maçonaria – tradução Fulvio Lubisco
São
Paulo-Ed. Madras, 2008.
Pike,
Albert e Pessoa, Fernando.
As Origens
e os Ensinamentos da Maçonaria- tradução Fulvio Lubisco.
São
Paulo-Ed. Madras, 2015.
Cortella,
Mario Sergio
Pensar nos
faz bem- filosofia, religião, ciência e educação.
5º edição-
Petrópolis- Ed. Vozes, 2015.
Procedimentos
Ritualísticos, 1º Grau Rito Escocês Antigo e Aceito. 2016.
Ritual, 1º
Grau-Aprendiz Maçom- Rito Escocês Antigo e Aceito. 2009.
SUPERSTIÇÕES
E CRENDICES
[1]
CAMINO. Rizzardo da, O Aprendizado Maçônico. São Paulo: Livraria Maçônica Paulo
Fuchs, Maio de 2001. P. 96-97.
[2]
In MITOLOGIA Portuguesa [online]. Disponível na internet via https://pt.wikipedia.org/wiki/Mitologia_portuguesa.
Consulta em 05 de abril de 2017
Parabéns aos irmãos que produziram essa belíssima Peça de Arquitetura!
ResponderExcluirTFA