Em 27/04/2017 o Respeitável Irmão
Hercule Spoladore, Loja de Pesquisas Maçônicas Brasil, COMAB, Oriente de
Londrina, Estado do Paraná pede considerações a respeito do uso do balandrau
pela Maçonaria devido aos comentários abaixo:
USO DO BALANDRAU
COMENTÁRIOS.
Do Irmão Hercule Spoladore para o Irmão Rui Jung Neto:
Jung,
Balandrau segundo o Castellani, não é
usado na Europa. Ele, trata-se de imitação dos balandraus usados pelas
Irmandades Católicas no Brasil no fim do século XIX. Na Maçonaria foi invenção
de brasileiro.
Mas também ele cita em outro local que
os Collegia Construtorum que acompanhavam as legiões romanas, reconstituindo
tudo o que elas destruíam, usavam uma túnica preta mais curta que o balandrau
atual.
“Grande quebra galho”, muito usado
atualmente no REAA. De fato, ele não é próprio da Maçonaria, mas fica fácil
para um Irmão, especialmente quando chega atrasado em casa e tem que sair correndo
para a Loja.
Nos Ritos de Schroeder e Trabalho de
Emulação, não é permitido. Mas por uma questão de boa vizinhança as Lojas do
Emulação e do Schroeder recebem Irmãos do REAA como visitantes tolerando o tal
de balandrau. Mas não toleram que seus seguidores usem o balandrau. Pelo menos
a indumentária destes Ritos assim exigem os rituais que sejam a caráter,
própria de cada rito. Salvo melhor juízo, é o que eu tinha a dizer.
Do Irmão Francisco a respeito da menção do Irmão Hercule:
Já visitei uma Loja Maçônica em Berlin (Rito
Escocês) maioria dos Irmãos presentes estavam usando balandrau igual ao que
usamos nas nossas lojas básicas (inclusive na sala de passos perdidos havia um
local com vários balandraus a disposição dos interessados). Para entrar na loja
não pediram nada, apenas fui apresentado pelo guia turístico que era nosso
irmão, depois da reunião nos deram a maior atenção, oferecem um jantar em uma
taberna (inclusive para esposas).
O Irmão Hercule então faz o seguinte comentário a respeito do
pronunciamento do Irmão Francisco:
É agora não sei mais nada. Fiquei
perdido. Castellani dizia que Balandrau é invenção de brasileiro (teria
exportado o produto para a conservadora Alemanha?). Mas sei que o traje no
Emulação e no Schröder é à caráter, de acordo com o Rito não admitem balandrau.
Quanto a essa Loja que você visitou. Tem o nome dela? A Potência? Ela pode não
ser do Rito Schröder e nem do Emulação, evidentemente. Vai ver que a praga do
REAA espalhou para todo o mundo. Mas se você viu Balandrau na Alemanha, então
ele não existe só no Brasil como sempre pensei.
Talvez merecesse um estudo mais
acurado. Para mim é total surpresa saber que na Alemanha tem balandrau. Na
Convenção de Lausanne não se tratou disso.
Estou enviando copia desta conversa
para o Jung e para o Juk. Quem sabe eles esclarecem alguma coisa.
COMENTOS ELABORADOS POR PEDRO JUK
A questão do uso do
balandrau na Maçonaria tem causado, em não raras vezes, muitas discussões,
sobretudo no que diz respeito à regularidade do seu uso.
O balandrau
menciona, dentre outros, ser uma antiga vestimenta de capuz e mangas largas,
abotoado na frente às vezes usados por membros de confrarias e geralmente por
comunidades religiosas. Na Moderna Maçonaria, provavelmente por influência das
antigas Associações Monásticas medievais (uma das ancestrais da Ordem), ele tem
tido o seu uso permitido em alguns ritos maçônicos, geralmente nas sessões
econômicas (ordinárias), porém como veste talar (até os tornozelos) e de cor
negra.
Segundo
Steinbrenner in História da
Maçonaria, amplamente mencionado por José Castellani em algumas de suas obras,
o balandrau tem origem entre construtores à época do Imperador romano Numa
Pompílio (século VI a. C.) [1] e os Collegia Fabrorum, cujos componentes eram os Collegiati e formavam a primeira associação de ofício organizada
que se tem notícia e que acompanhavam as legiões de soldados romanos pela
Europa com a finalidade de reconstruir o que fosse destruído nos conflitos
deflagrados pelas conquistas de novas regiões.
No intuito de
diferenciar os construtores dos legionários, os Collegiati usavam uma túnica escura, o que seria também adotado
mais tarde pelas Associações Monásticas, Confrarias Leigas e por fim pelas
associações de ofício operativas dos francos-maçons medievais, as quais tinham
como característica particular a liberdade concebida pela Igreja para viajar de
um lugar para o outro. Durante esses deslocamentos, os construtores tinham o
hábito de vestir um balandrau negro, geralmente com capuz.
Como a Moderna
Maçonaria é herdeira dessas confrarias medievais, o costume do uso do balandrau
é nela perfeitamente justificado, a despeito de que ele não seja permitido em
determinadas ocasiões da atualidade, a exemplo das sessões denominadas “magnas”
onde nelas se exige geralmente o uso do terno preto ou escuro.
De fato, alguns
ritos maçônicos a exemplo do York e do Schröder têm o hábito conservacionista
de não permitir o uso do balandrau, salvo em casos excepcionais e relativos a visitantes
que não pertençam a esses ritos.
Comentários à parte
é discutível a obrigatoriedade do uso de trajes como o terno preto (paletó,
calça e colete), ou a parelha preta (paletó e calça) acompanhados de camisa
branca e gravata preta na Maçonaria, até porque isso mais tem uma forte dose de
influência clerical – o traje como sinal de respeito - do que um pretenso
simbolismo que possa envolver uma vestimenta.
Há que se levar em
conta também, que o traje masculino vem sofrendo variações através dos tempos e
de acordo com os costumes dos povos, assim é temerário se querer estereotipar
um traje único para a Maçonaria.
As roupas do século
XVIII, época em que floresceu a Moderna Maçonaria, eram bem diferentes das
atuais, além do que muitos povos usam ainda suas roupas típicas; os militares
maçons, não raras vezes nas sessões das Lojas, usam os seus uniformes. Então
nos parece um pouco contraditório se que se estabeleça um traje padrão
universal para a Maçonaria com base apenas na cultura ocidental contemporânea
como é o caso do terno preto.
No que diz respeito
ao verdadeiro traje maçônico e sua universalidade, indiscutivelmente ele é o avental,
já que é regra indispensável seu uso pelos maçons nas sessões maçônicas, a
despeito, obviamente, de que por baixo do avental o maçom esteja trajando roupa
decente e apropriada para a sessão, coisa que, sem qualquer dúvida, o balandrau
supre perfeitamente esse objetivo. Nesse sentido, afirmar que o balandrau não é
trate maçônico parece ser irrelevante já que o verdadeiro traje maçônico é o
avental e que, por debaixo dele, o balandrau, desde que preto e talar, poderia
perfeitamente ser vestido.
Destaque-se que a
adoção do uso do balandrau nas sessões maçônicas, em muitos países, é até mesmo
desconhecida, ou raramente é mencionado, já que cada país geralmente adota o
traje que lhe é tradicional por uso e costume ou mesmo que se adeque ao
conforto relativo às condições de temperatura. Em muitos países que
costumeiramente a temperatura é elevada os maçons se reúnem trajando camisas de
mangas curtas. Os árabes, por exemplo, usam albornozes e na Escócia é comum o
uso do kilt (saia escocesa). Já os ingleses costumeiramente usam ternos pretos,
etc. Obviamente que sobre a vestidura, em Loja o maçom estará sempre vestindo o
seu avental.
Apenas a título de
ilustração, me recordo que quando das minhas andanças maçônicas pelo Brasil, me
deparei com inúmeras fotografias antigas relativas aos obreiros e suas
respectivas Lojas. Eu sempre chamei atenção nessas oportunidades para uma
particularidade que envolvia o traje usado pelos Irmãos do passado, além do
avental. A grande quantidade dessas fotos trazia irmãos trajados para as
sessões sem estarem necessariamente usando terno preto e nem balandrau, mais
sim paletós, pulôveres, calças e camisas de diversos matizes, o que mostra que
um traje específico não era regra na Maçonaria brasileira, salvo o uso do
avental.
Retomando o
raciocínio em relação ao uso do balandrau, eu não teria como afirmar que o seu
uso seja uma invenção brasileira, até porque sua origem advém nos nossos
ancestrais construtores na distante Europa antiga e medieval.
Entendo que, além
da tradição que envolve o balandrau nos meios maçônicos, existe ainda o aspecto
da sua praticidade e conforto como vestimenta, portanto é possível que ele não seja
um traje restrito ao Brasil, salvo a proibição do seu uso se o rito não o
permitir.
No Brasil, o terno
preto é oriundo de costume clerical e muito conhecido como o traje de missa.
Essa tendência inclusive viria influenciar muitos dos costumes maçônicos
brasileiros ao ponto de atualmente nalgumas Obediências o adotarem como uso
obrigatório para as suas sessões maçônicas.
Quanto ao balandrau
e a origem do seu uso especificamente no Brasil eu não saberia de momento
informar, senão que talvez pela sua origem europeia, tenha ele tenha chegado também
por aqui junto com os próprios costumes maçônicos.
No que diz respeito
ao seu uso na Alemanha, eu penso que seja possível, mesmo que contrário ao que
determina o Rito Schröder, já que pode ser plausível o seu uso por outro rito
praticado em solo germânico, ou ainda, seguindo a tendência progressista que
acompanha a Maçonaria.
T.F.A.
PEDRO JUK
JUNHO/2017
[1] Data referencial aos Collegiati.
Entretanto não se afirma a existência de Maçonaria naqueles tempos. Entenda-se
que a arte de construir é ofício milenar, porém nunca a instituição Maçonaria.
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