quarta-feira, 14 de junho de 2017

PERSONALIDADES MAÇÔNICAS DA NOSSA HISTÓRIA

Em 02/05/2017 o Respeitável Irmão Paulo Assis Valduga, adormecido da Loja Luz Invisível, REAA, GORGS (COMAB), Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, solicita as seguintes informações:

PERSONALIDADES MAÇÔNICAS


Tenho uma dúvida sobre a real condição de Maçons do primeiro governo após a Proclamação da República; tirando Marechal Deodoro (Grão-Mestre do GOB) e Rui Barbosa (vida maçônica {???} já conhecida - nunca passou de A\M\) os demais: Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo, Benjamin Constant, Campos Salles, Eduardo Vandekolk e Demétrio Ribeiro eram maçons ativos, frequentadores de suas Lojas, ou eram maçons só de "apelido" tal qual Rui Barbosa?

CONSIDERAÇÕES:

Antes dois aspectos que devem ser abordados.
O primeiro é o que trata das condições de trabalhos das Lojas Maçônicas em um Brasil no final do século XIX e começo do século XX. Naquela época a imensa maioria das Lojas se reunia em trabalhos com forte teor político que circundava as conquistas sociais, portanto mesmo que atentas à liturgia maçônica, aquelas reuniões, na maioria das vezes, eram de caráter administrativo para o trato das questões que envolviam o desenvolvimento de um Brasil que surgia do final de uma monarquia e ingressava na primeira República. Naquele período da história não era comum, como hoje, reuniões ritualísticas semanais, porém as mais específicas destinadas aos afins daqueles idos momentos da história. Igualmente havia a questão do deslocamento entre as distâncias que ligavam as cidades aos aglomerados populacionais interioranos das províncias de outrora, o que sem dúvida trazia muita dificuldade para se organizarem reuniões das Lojas. Sob esse prisma, não era constante a presença de muitos maçons no cotidiano das Lojas, sobretudo àqueles que exerciam cargos no governo, nos ministérios e nas forças armadas. Em síntese era uma condição bem diversa da de hoje, principalmente em se tratando de frequência como penhor de regularidade.
Entretanto, isso não era demérito algum para os maçons daquela época, sobretudo em se levando em conta os sacrifícios que eram exigidos para se superar dificuldades comuns àqueles tempos. Esse retrato histórico, sem dúvida, viria influenciar substancialmente no formato daquelas sessões maçônicas, sobretudo às ritualísticas, o que não dá com isso condições para se estabelecer nenhum juízo de valor que possa medir a atividade de maçons pelas suas frequências na Loja.
O segundo aspecto é o de se deve fazer justiça ao Maçom Rui Barbosa de Oliveira, muitas vezes mencionado de maneira, a meu ver, injusta no tocante à sua vida maçônica. O brilhante jurista, nascido em Salvador na Bahia em 5 de novembro de 1849, veio a concluir o curso na Faculdade de Direito da capital paulista em 1870. Tornou-se maçom em São Paulo na Loja América, local onde ele iniciou a sua destacada jornada abolicionista. Como maçom ele, em abril de 1870, apresentou durante os trabalhos da Loja um projeto relativo à libertação dos escravos como consta a seguir:
“Obrigatoriedade de declaração para todos os candidatos ao ingresso na Maçonaria de que, dali em diante, libertariam todas as crianças do sexo feminino nascidas de escravas suas; obrigatoriedade também de todas as Lojas maçônicas brasileiras reservarem um quinto das suas receitas para alforria de crianças escravas; que todos os maçons brasileiros ficariam obrigados a assumir um compromisso de que declarariam livres as filhas de suas escravas”.
A despeito de toda a sua comprovada trajetória como homem político e jurista brilhante que lhe renderia mais tarde o título de Águia de Haia ele, como maçom, só pela apresentação desse projeto libertário na sua Loja, já o colocava destacadamente como um importante membro da Maçonaria, até porque, sem entrar no mérito da sua frequência e do seu grau maçônico - se Aprendiz na época – só esse projeto já bastaria para vislumbrar a sua excelente qualidade como praticante da Arte Real. Rui Barbosa, depois de ser bacharelar em 1870, voltaria para a Bahia de onde daria início a sua respeitabilíssima trajetória pelo cenário político social brasileiro.
No que diz respeito à vida maçônica dos demais personagens mencionados na sua questão, devo dizer que é uma severa empreitada que demanda de meticulosa pesquisa, assim elaborada para que não se caia no campo da propagação de inverdades ou, como historiador, cometer o equívoco de assumir preferência por um dos lados dos fatos relatados.
Assim, o que eu poderia a priori comentar, seria algo muito superficial para esse momento, tal como os que se seguem:
Quintino de Sousa Ferreira, mais tarde Quintino Bocaiuva – nascido no Rio de Janeiro em 1836, propagandista da República, como maçom foi Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil de 1901 a 1904, tendo sido iniciado na Loja Amizade em São Paulo, Capital. Dentre outros, foi o redator do “Manifesto Republicano” datado de dezembro de 1870 (de inspiração maçônica e liderado pelo Grão-Mestre do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, Joaquim Saldanha Marinho), publicado no primeiro número do jornal “A República”.
Aristides da Silveira Lobo, natural de Alagoas, nasceu em 1838, político e jornalista foi um dos signatários do “Manifesto Republicano” de 1870. Maçom, ele fazia parte dos quadros do Grande Oriente do Vale dos Beneditinos, Obediência a qual pertencia a grande maioria dos maçons republicanos das Lojas espalhadas pelas províncias de então. O jornal “A República”, onde fora publicado o “Manifesto” foi, naquela oportunidade, dirigido por Aristides Lobo.
Benjamin Constant Botelho de Magalhães, nascido em 18 de outubro de 1836 em São Lourenço, Município de Niterói, Rio de Janeiro, foi oficial do Exército Brasileiro e professor da Escola Militar. Positivista maçom, sem dúvida foi o maior personagem do movimento republicano e, não à toa, foi cognominado como o “Pai da República”. Ao lado de Sena Madureira, foi um dos personagens principais da Questão Religiosa (uma das questões causadoras da Proclamação da República em 1889). Benjamin Constant, embora bons pesquisadores brasileiros o afirmem como positivista e maçom, ainda não existem referências (pelo menos que eu saiba) de quando e onde ele teria sido iniciado na Maçonaria.
Manuel Ferraz de Campos Sales, terceiro presidente do Brasil, nascido em 1841, em Campinas, Estado de São Paulo, como maçom, segundo José Castellani, não se tem certeza da Loja através da qual ele teria sido iniciado, sendo que o mais provável tenha sido na Loja Independência de Campinas. Em 1863, todavia, ele teria sido um dos fundadores da Loja Sete de Setembro em São Paulo. Conforme afirmam autores confiáveis, apesar de seus encargos políticos, foi maçom bastante ativo em toda a sua vido, tendo fundado a Loja Regeneração III de Campinas e recebido o título de Membro Honorário do Supremo Conselho do Brasil, em 1883.
Eduardo Wandenkolk, nascido no Rio de Janeiro em 1838, almirante e chefe da Pasta da Marinha do Governo Provisório de 1889 a 1891, não se sabe ainda quando e nem onde foi iniciado na Maçonaria, entretanto não existem dúvidas sobre a sua qualificação maçônica, já que existem documentos de algumas Lojas e depoimentos de contemporâneos seus que comprovam suas atividades como maçom.
Demétrio Nunes Ribeiro, nascido a 5 de dezembro de 1835 em Alegrete, Rio Grande do Sul, sei apenas que ele aparece na história como educador maçom. Como político, foi Ministro da Agricultura de 1889 a 1901 e, como deputado constituinte, propôs a separação da Igreja do Estado. Eu não tenho de momento nenhuma referência sobre quando e onde ele teria sido iniciado na Maçonaria.
Dadas essas restritas e superficiais considerações, eu entendo que todos eles foram importantes personagens que construíram uma parte da nossa história. Como maçons e as suas participações diretas nas Lojas, eu penso que, se avaliados, seja feita cada avaliação de conformidade com o cenário político e social da época sem que com isso sejam feitas comparações ao modus vivendi dos maçons da atualidade.
Destaque-se que na atualidade, com o advento da Internet, não raras vezes encontramos informações preciosas sobre o que nos propomos a pesquisar, embora, na mesma escala, também podemos encontrar verdadeiros lixos literários irresponsavelmente publicados, a exemplo do tal “Rui Barbosa: vergonha de ser maçom”, que nada mais é do que um supra-sumo da manipulação de conteúdo e seguido de calúnia e difamação. Não ficam livres também muitos livros editados, cujos autores são de perfil temerário.
Por fim, devo mencionar que tenho muitos dados a respeito, embora dispersos precisem ser ainda catalogados para pesquisa. Assim, segue alguma bibliografia confiável que pode auxiliar na busca de mais fatos para os assuntos aqui abordados: Maçons e a Abolição da Escravatura, Os Maçons que Fizeram a História do Brasil, História do Grande Oriente do Brasil, A Maçonaria na Década da Abolição e da República, Histórias Pitorescas de Maçons Célebres – todas elas de autoria do saudoso Irmão José Castellani. Obviamente que não foi a intenção citar obras de apenas um autor, pois todas as mencionadas possuem um precioso roteiro bibliográfico que leva à documentação primária e envolve também diversidade de autores autênticos.


T.F.A.

PEDRO JUK



JUNHO/2017

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