domingo, 10 de dezembro de 2017

DA PERPENDICULAR AO NÍVEL OU PARA A PERPENDICULAR AO NÍVEL?

Em 20/09/2017 um Irmão que me pede para não divulgar o seu nome e o da sua Loja, Grande Oriente Lusitano, formula a seguinte questão:

DA PERPENDICULAR AO NÍVEL OU PARA A PERPENDICULAR AO NÍVEL?


Envio-lhe este e-mail após ter lido o seu artigo com o nome em assunto (http://iblanchier3.blogspot.pt/2012/10/perpendiculacao-ao-nivel.html).
Gostaria de pedir uma explicação relativamente à expressão "da Perpendicular ao Nível". Após ler o seu texto a minha dúvida adensou-se, pois concordo consigo.
O meu método de estudo de Maçônico baseia-se em tentar encontrar a Verdade mais antiga, indo à sua origem e tentando perceber qual o seu significado original. Como t
al, gostaria de lhe perguntar qual a origem da expressão da "Perpendicular ao Nível"? Provém de alguma versão Rito Escocês Antigo e Aceito?
Mais, gostaria de saber a sua opinião sobre o cruzar da Palavra, isto é o 2º Vigilante (Perpendicular) fala para os Aprendizes Maçons (para Norte), enquanto o 1º Vigilante (o Nível) fala para Sul. Como tal, será que a ascensão do Perpendicular ao Nível, possa ser uma alusão à subida da "regência" do 2º Vigilante (Perpendicular) à do 1º Vigilante (Nível)?
Gostaria de saber a sua opinião mais aprofundada sobre o assunto. Irei subir o meu salário daqui a poucas sessões e estou a escrever uma prancha relativamente a este assunto e gostaria de saber um pouco mais.
Aceita o meu TFA\ (Como dizemos em Portugal, Aceita o meu TAF\).

CONSIDERAÇÕES.

Dois aspectos a se considerar no caso do REAA.
  1. “Perpendicular ao Nível”. A questão não é o “da perpendicular ao” (saindo da, partindo da), mas o de “para a perpendicular ao” (indo para, se dirigindo para, se deslocando para).
A Perpendicular é o Prumo que é representado por uma linha vertical que vai perpendicular ao Nível. É um símbolo parecido com um “tê” invertido (letra T). Esse símbolo na Moderna Maçonaria é comumente utilizado no avental do Venerável Mestre e dos ex-Veneráveis, equivocadamente chamados de “Taus invertidos”.
Assim, a linha horizontal é a representação do Nível e a vertical a do Prumo. Por conseguinte, um segmento de linha (no sentido vertical) é perpendicular a outro segmento de linha (no sentido do horizonte). Em síntese é o Prumo que se coloca perpendicularmente ao Nível.
Como o Nível é a joia do Primeiro Vigilante, por extensão esse instrumento representa também a Coluna do Norte, enquanto que o Prumo, como joia do Segundo Vigilante representa a Coluna do Sul. O Nível está no Norte e o Prumo está no Sul.
Por questão iniciática, os Aprendizes ocupam no REAA o Topo da Coluna do Norte (parede setentrional) e os Companheiros o Topo da Coluna do Sul (parede meridional).
Estando o Aprendiz preparado e instruído conforme as exigências da Arte ele obtém o seu aumento de salário (Elevação), ou seja, passa do Primeiro para o Segundo
Grau (sai do Norte e vai ocupar lugar no o Sul).
Essa ascensão iniciática se traduz na passagem (Elevação) de uma para outra Coluna, ou seja, do Nível ao Norte para o Prumo ao Sul e significa alegoricamente que se vai “para” a perpendicular ao Nível.
A meu ver, o grande problema que tem causado falsa interpretação é que muitos rituais apresentam essa frase como “da perpendicular ao nível”. Na verdade é um erro ortográfico que dá outro sentido à locução. Escrito dessa forma ela nos dá a falsa impressão de que “vamos da perpendicular (Prumo) para o Nível”, o que é no mínimo contraditório, pois inverte o rumo do Aprendiz passando para Companheiro. Inverte também as Colunas e as joias dos Vigilantes.
Assim, o correto é usar a preposição “para” como elemento que exprime lugar ao qual alguém ou algo se dirige, ou para onde volta à vista. Nesse caso, do topo da Coluna do Norte para o topo da Coluna do Sul.
O termo correto é “para a perpendicular ao nível”
Lembra-se que a caminhada iniciática se principia no topo da Coluna do Norte (Aprendiz) e vai para o topo da Coluna do Sul (Companheiro). Só depois de cumprida obrigatoriamente essa jornada é que o postulante chegará ao mestrado no Oriente.
  1. Quem instrui os Aprendizes e Companheiros – Essa não é questão iniciática, mas sim de tradição histórica. Não se trata também de “cruzar” a palavra. É só uma questão de hierarquia e nada tem a ver com a responsabilidade pela Coluna. O responsável por toda a Loja é o Venerável Mestre e os Vigilantes são os seus auxiliares – um Vigilante não é o dono da respectiva Coluna, ele apenas auxilia o Venerável.
A origem desse costume não está no Rito, mas nas origens das classes de trabalhadores nos canteiros medievais do passado.
Nos canteiros de trabalho (Maçonaria Operativa) as iniciações operativas geralmente se davam nos períodos solsticiais. O proposto era então recebido reservadamente pelo Segundo Vigilante (2º Warden, na época) que o instruía sobre as obrigações de ofício (Old Charges). Em seguida ele era conduzido até o Primeiro Vigilante (1º Warden) que fazia uma oração em favor do candidato. Como conclusão da admissão, ele, agora o Aprendiz Admitido, sob a tutela do Mestre da Obra prestava o juramento sobre o Evangelho de São João e lhe eram entregues o avental e luvas para o ofício. Durante o tempo relativo ao seu aprendizado na arte de construir (geralmente três anos), era o Segundo Vigilante o seu instrutor.
O mesmo depois ocorria com Aprendiz Admitido ao passar para Companheiro do Ofício, ou do Craft. Na ocasião do seu aumento de salário era o Primeiro Vigilante (Warden) o seu instrutor. Em seguida, agora como Companheiro, ele prestava o seu juramento e passava aproximadamente cinco anos se aperfeiçoando. Durante esse tempo paulatinamente o Primeiro Vigilante lhe ia sendo revelando os segredos do ofício.
É daí a origem da instrução aos Aprendizes pelo Segundo Vigilante e dos Companheiros pelo Primeiro Vigilante.
É nesse sentido que no verdadeiro REAA\ os Aprendizes, ao Norte recebem simbolicamente instrução do Segundo Vigilante que fica no Sul e os Companheiros, ao Sul a recebem do Primeiro Vigilante que fica no Norte.
Obviamente que isso é tudo simbólico e traduz um costume operativo à época em que não existiam Templos Maçônicos e nem existiam graus maçônicos, senão apenas duas classes de trabalhadores, cujos quais eram dirigidos por um Companheiro experimentado e designado como o Mestre da Obra.
É sabido e é de boa geometria que na Moderna Maçonaria Aprendizes e Companheiros recebam instruções dos Mestres do quadro e não restritamente apenas dos Vigilantes.


T.F.A.

PEDRO JUK



DEZ/2017.

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