Em 02/10/2017 o Respeitável Irmão Paulo Assis
Valduga REAA Oriente de São Borja, Estado do Rio Grande do Sul, se referindo a
um escrito relacionado à Estrela de Davi (Selo de Salomão) publicado no Grupo
Arte Real, me solicita esclarecimentos.
ESTRELA DE SEIS E DE CINCO PONTAS.
Meu
estimado Irmão Pedro, já estava com saudades de
importuná-lo, eis que recebo do Grupo Arte Real/SC essa "belíssima" (como
costumam tratar em Lojas nossos Irmãos independente da qualidade do que foi
apresentado) Peça de Arquitetura que reavivou este sentimento.
Li algures que você escreveu, se
não estou enganado, que a Estrela de Davi não é símbolo maçônico, mas não
consegui descobrir onde está arquivado, se possível esclareça-me sobre o
assunto.
Inclusive, nossos Irmãos mais
eruditos aqui em São Borja a usam para explicar o movimento do Mestre de
Cerimônias e do Tesoureiro durante seus trajetos, mesmo na ARLS Cel\ Aparício Mariense - GOB-RS é assim ensinado, não importando que a
estrela seja destorcida pela posição do 2º Vigilante sempre dão um jeito de
encaixá-la.
Das pérolas abaixo destaco:
"Se você ainda não percebeu isso, o
ocultista e o pagão adoram o sexo"
(o Irmão Paulo me apresenta o escrito publicado no grupo).
CONSIDERAÇÕES.
A Estrela de Seis Pontas, o Hexagrama, não é
símbolo apropriado para REAA\, mas é comum no Craft inglês com
o título de Blazing Star e até mesmo
como a Magsen David (teísmo inglês –
vide as Lições Prestonianas).
Para a vertente inglesa de Maçonaria a Estrela
Hexagonal se encaixa perfeitamente na doutrina teísta que é comum ao Craft.
Destaque-se que nos trabalhos ingleses não é corriqueira a liturgia da circulação
da bolsa para a coleta tal como acontece na vertente francesa onde, por
exemplo, no escocesismo simbólico é uma prática trivial.
A propósito, nunca escrevi que a Estrela de Davi
não é um símbolo utilizado pela Maçonaria. Mencionei sim que ela não é
condizente como a do REAA\, pois no escocesismo esse
símbolo estelar se refere à estrela de cinco pontas.
Desafortunadamente alguns oportunistas,
provavelmente pela incompetência de distinguir a existência de duas vertentes
maçônicas principais, uma teísta (inglesa) e outra deísta (francesa), sempre
pela lei no menor esforço, inventaram justificativas para alguns procedimentos
que no mínimo são contraditórios desde que bem compreendida a Arte.
Cada rito ou ritual maçônico possui característica
própria que vai moldada conforme o seu arcabouço doutrinário. Nesse caso, por
exemplo, se distinguem as duas Estrelas (hexagonal e pentagonal) como elementos
de estudo conforme o grau e a raiz maçônica.
Comum à vertente francesa e em particular ao REAA\ a
Estrela Flamejante possui apenas cinco pontas e traz consigo característica
hominal haurida dos ensinamentos especulativos pitagóricos.
Assim, não existe na simbologia do escocesismo
simbólico nenhuma estrela hexagonal, muito menos a esdruxula invenção de que o
trajeto para a coleta com as bolsas por primeiro deve representar uma pretensa
estrela com seis pontas, cuja qual necessita de muita imaginação para que esse
percurso possa ser comparado a uma perfeita estrela com seis pontas (já escrevi
bastante sobre isso).
Os incautos antes de imaginar essas firulas
ritualísticas deveriam antes aprender que as circulações que envolvem as coletas,
tanto nas propostas e informações como do óbolo, respeitam simplesmente a hierarquia
das Luzes Loja e das duas outras Dignidades constituídas pelo Orador e
Secretário somados todos ao Cobridor Interno (elemento indispensável na
composição para abertura da Loja).
No caso do REAA\ esses seis cargos
prioritários mais o do Mestre de Cerimônias correspondem aos “sete
mestres”, ou o número mínimo necessário para se abrir uma Loja,
onde três a governam, cinco a compõem e sete a completam (todos Mestres).
Racionalmente ser explica então que nada disso tem
a ver com “Estrela de Seis Pontas” no REAA\.
De fato a Estrela de Seis Pontas existe na
Maçonaria, mais não no escocesismo, portanto não há o porquê de se inventar nele
justificativa que denote a representação de uma figura estelar de seis ápices.
A Estrela de Seis Pontas é sim um elemento simbólico, mas na Maçonaria inglesa.
É sabido que o REAA\ é filho espiritual da França.
Para
melhores esclarecimentos, seguem algumas definições despidas de apreciações
fantasiosas sobre o Hexagrama e o Pentagrama utilizado no simbolismo da
Maçonaria.
Hexagrama – designa a reunião de seis letras ou caracteres;
é também a estrela de seis pontas formada pela união entre os vértices de um
hexágono regular (polígono de seis lados iguais, cujos lados se igualam ao
comprimento do raio da circunferência onde o polígono é inscrito).
A representação do símbolo estelar hexagonal corresponde
à sobreposição de dois triângulos equiláteros que se cruzam e coincidem cada um
com um dos ângulos adequados aos seis vértices do hexágono.
Como símbolo maçônico, nos trabalhos do Craft
inglês, a exemplo do Ritual de Emulação (também conhecido inapropriadamente
como York) o hexagrama é a Estrela Flamejante (Blazing Star). Do judaísmo ela é a Magsen David (Estrela de Davi ou o Selo de Salomão).
Como uma insígnia muito antiga, sua interpretação
mística mais corrente e que é aproveitada pela Maçonaria, envolve a relação
espírito-matéria; o triângulo componente da estrela que vai com o ápice
apontado para cima representa os atributos da espiritualidade e o que vai com o
ápice voltado para baixo representa os atributos da materialidade. Na realidade
essas concepções tratam do aprimoramento do espírito sobre a matéria, alegoria
altamente representativa na jornada evolutiva do simbolismo maçônico.
Infelizmente alguns tratadistas compararam
equivocadamente esses triângulos, espiritual-material, a determinados cargos em
Loja, o que acabou dando na falsa estrela que determinados articulistas ainda
insistem em disseminar essa ideia anacrônica.
Devo
registrar que eu mesmo, no começo dos meus estudos e juntamente com o saudoso e
competentíssimo Irmão José Castellani, desatentamente acabamos embarcando nesse
equivoco. Felizmente não tardou que a Verdadeira Luz logo nos indicasse o
adequado caminho, pelo que abandonamos imediatamente essa presunçosa ilação,
embora algumas publicações daquela época ainda não tenham passado por uma
correção – registre-se o fato.
Pentagrama – dentre outros, menciona a figura simbólica
composta por cinco letras ou sinais. É o pentágono regular estrelado (estrela
de cinco pontas) que recebe concepções particulares de determinados credos. Em
Maçonaria, particularmente da vertente deísta francesa, tem em alguns ritos
importância mística e é representada pela Estrela Flamejante de Cinco Pontas ou
Pentalfa.
Na realidade o Pentagrama estelar maçônico se
derivou especulativamente do pentagrama das escolas pitagóricas. Dentro das
concepções filosóficas do pitagorismo a Estrela Pentagonal em sua posição
normal – uma só ponta voltada para cima – representa o homem e a sua alta
espiritualidade. Nela simbolicamente se inscreve a figura de um homem, cujo
ápice superior é a sua cabeça e os demais representam os seus membros. Já em
posição invertida, na Estrela Pentagonal se inscreve a figura de um bode,
representando assim os atributos da materialidade e da animalidade. Em
Maçonaria a Estrela Pentagonal é sempre representada como figura de alta
espiritualidade, isto é, com um único ápice para cima.
A
Maçonaria francesa ao adotar o símbolo da Estrela Hominal do pitagorismo busca
mostrar ao Iniciado no Segundo Grau que a obra de aperfeiçoamento do ser humano
é feita através do preparo e da elevação das qualidades espirituais (caráter,
inteligência, moral, etc.). Assim, nada disso têm a ver com formação abstrata
de uma eventual estrela construída a partir de deslocamentos sobre o piso da
sala da Loja e muito menos envolve com concepções de magia, de feiticeiros, de bruxarias
e outras rumores desse gênero.
Com esse
pequeno demonstrativo arrazoado espero ter trazido um pouco de conhecimento a
respeito dessas alegorias maçônicas.
No que diz respeito a “perola” escrita mencionada
na sua questão e publicada em alguns grupos maçônicos na INTERNET, realmente,
pelo menos da minha pessoa, ela não merece nenhuma consideração, já que o meu
compromisso é com a autenticidade da Sublime Instituição e não com inferências
que absolutamente nada, mais nada mesmo contribuem ou tem a ver com a
verdadeira Maçonaria.
Infelizmente determinados articulistas,
provavelmente por muito pouco compreender quais são os verdadeiros desígnios da
Ordem, ficam por aí a expor anacronismos e semear opiniões particulares como
fosse uma assembleia maçônica um palco para exposições de proselitismos e
ideias temerárias – isso quando não copiam coisas que nem mesmo eles entendem.
A propósito, é oportuno mencionar que a INTERNET
tem sido um instrumento de incalculável valor para a informação e para o
esclarecimento dos homens, todavia há que se compreender também que nem tudo o
que reluz é ouro, portanto essa ferramenta eletrônica também tem servido como
repositório de verdadeiros suprassumos do lixo literário.
Concluindo, devo alertar que boa parte da bibliografia
maçônica editada no mundo livreiro é digna também de ser avaliada como lixo
literário. Faz-se cogente saber separar o joio do trigo. Infelizmente
inescrupulosos autores que pensam mais em ganhos fáceis continuam a publicar
verdadeiros atentados contra a legítima história, filosofia e ritualística da
Sublime Instituição. Nesse campo me parece que cada um se adequa às suas
convicções, enquanto isso o “aparente” toma a vez do “real” – “se você ainda não percebeu isso, o
ocultista e o pagão adoram sexo” (sic). Então se pergunta ao autor dessa
pérola: e o que a Maçonaria tem a ver com isso?
T.F.A.
PEDRO JUK
DEZ/2017.
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