domingo, 12 de janeiro de 2020

REAA - DISPOSIÇÃO DOS CARGOS EM LOJA - VERDADES E FANTASIAS


Em 23/10/2019 o Irmão Companheiro Maçom Christian Emmanuel Dantas Roque, Loja Manoel Reginaldo da Rocha, 2.439, REAA, GOB-RN, Oriente de Pau dos Ferros, Estado do Rio Grande do Norte, apresenta a seguinte questão:

DISPOSIÇÃO DE CARGOS EM LOJA


Meu irmão gostaria de saber se o irmão tem algum estudo sobre a disposição dos cargos de Venerável, 1 e 2 vigilante, orador, secretário e cobridor interno. Um irmão me contou que viu em estudo que a disposição destes cargos seguem a estrela de seis pontas de Davi, mas eu lendo o Blog do irmãos, li que a estrela de seis pontas não elemento simbólico do REAA, por isso veio esta dúvida, os cargos de estão dispostos no manual daquela para formar uma banda estrela de seis pontas ou existe outra explicação para isso? Não seria mera coincidência?

COMENTÁRIOS

Sob o ponto de vista autêntico, os recintos de trabalho dos templos maçônicos na Moderna Maçonaria foram criados tendo por modelo as Igrejas (disposição oriente-ocidente e o altar-mor) e o Parlamento Britânico (disposição dos lugares da assembleia e o great-chair).
A Igreja por ter sido a protetora dos Pedreiros Livres por um longo período da sua história e o Parlamento Britânico porque a Moderna Maçonaria, surgida pelo advento da Premier Grand Lodge no ano 1717, nascera em Londres. Destaque-se que o primeiro Templo Maçônico somente viria surgir nos meados do século XVIII. Anteriormente a isso era comum os Maçons se reunirem nos adros das igrejas medievais e posteriormente nas tabernas.
No que diz respeito à localização dos lugares dos ocupantes de cargos em Loja, querem alguns tratadistas afirmar que essa disposição remete à mística da religião hebraica (cabala e a árvore da vida), todavia essas são apenas simples conjecturas, não existindo nada que se comprove algo nesse sentido. É bom que se diga que a Moderna Maçonaria é constituída por ritos, dos quais cada um tem as suas particularidades, não podendo assim, ser essa matéria tratada de modo generalizado.
Indubitavelmente, sob essa óptica não se discute a influência das civilizações e das manifestações do pensamento humano na formação da Moderna Maçonaria, contudo é preciso que para isso exista critério acadêmico, principalmente quando se tratar da formação de conceitos doutrinários que envolvem os ritos maçônicos. Esse é um caminho que precisa ser trilhado com muita prudência, antes de se proferirem afirmativas suportadas apenas pela simples presença figurada de um símbolo ou de uma alegoria no contexto histórico e doutrinário. Embora sugestivo, relacionar a disposição dos cargos em Loja com a cabala hebraica, reitero, é algo que não se sustenta sob uma análise mais crítica. Senão por algumas coincidências, nada comprova que a localização dos lugares pertinentes aos cargos na Loja foi idealizada para atender à mística dessa ou daquela religião.
É preciso antes se compreender que a sala da Loja (espaço de trabalho maçônico) não é uma cópia do Templo de Jerusalém, e nem o Templo hebraico serviu de arquétipo para templos maçônicos. A alegoria da construção do Templo possui um sentido muito mais amplo e profundo do que o de servir de modelo. Assim, é verdade que os templos maçônicos trazem relações alegóricas tomadas do Templo de Jerusalém, como a divisão do espaço em Oriente, Ocidente e Átrio, as Colunas do Pórtico, o Altar ocupado pelo Venerável e o Santo dos Santos, todavia nada disso pode ser afirmado como reprodução física e literal  do lendário Templo que, segundo a Bíblia, fora construído por ordem do Rei Salomão.
A boa geometria nos ensina a se afastar das generalizações e das meras especulações hauridas dos caminhos fáceis suportados pelo simples copiar o que está pronto. Perscrutar com astúcia e perseverança é o caminho para as deduções lógicas.
Assim, remeto o Irmão a ler o livro intitulado "As Origens Históricas da Mística Maçônica" de autoria do saudoso Irmão José Castellani - Editora Landmark. Essa obra, além de importante traz uma excelente bibliografia de apoio.
No tocante a sua questão e as estrelas de cinco e seis pontas, sem dúvidas elas fazem parte do relicário simbólico da Maçonaria, todavia, símbolos muitas vezes cabem apenas no contexto doutrinário de alguns ritos, portanto generalizar a liturgia maçônica não é atitude das mais prudentes.
Não se discute a presença da Estrela de Davi e do Pentagrama de origem pitagórica, o que se discute é que a Estrela de Seis Pontas, a de Davi, é parte integrante da liturgia do Craft (vertente inglesa) enquanto que o Pentagrama, ou a Estrela Flamejante é parte integrante da Maçonaria latina (vertente francesa).
Nesse sentido, não há como relacionar os seis primeiros cargos abordados quando da circulação das bolsas no REAA com a Estrela de Davi. Ora, como mencionado, a estrela hexagonal é símbolo utilizado na Maçonaria anglo-saxônica (teísta) que, por sinal, não adota circulação de bolsas feito como a que ocorre no REAA, rito de origem francesa (deísta) que adota como símbolo a Estrela Flamejante (cinco pontas).
Pior ainda é querer projetar uma suposta estrela com seis pontas tomando por base o trajeto do oficial na circulação da bolsa. Ora, esse trajeto está muito longe de representar dois triângulos equiláteros como os que verdadeiramente formam a Estrela de Davi. Para se comprovar, basta esboçar esse trajeto desenhando-o numa folha de papel. Ver-se-á que que a figura apurada é completamente disforme em comparação com a estela formada por dois triângulos equiláteros.
Dado a isso é que tenho "batido nessa mesma tecla", onde reafirmo que no simbolismo do REAA não existe estrela com seis pontas, portanto o trajeto do oficial circulante nada tem a ver com a Estrela de Davi e muito menos com a Cabala hebraica. Também nada tem a ver com o Pentagrama.
Como tenho explicado, esse trajeto se dá obedecendo aos cargos imprescindíveis para a abertura de uma Loja no REAA, ou seja, sete Mestres Maçons sendo, os seis primeiros cargos compostos pelas Luzes da Loja, pelas Dignidades do Orador e do Secretário e pelo Cobridor acrescido do Mestre de Cerimônias.
Explica-se assim que no REAA os três primeiros cargos atendem ao Landmark onde uma Loja deve ser impreterivelmente dirigida por três Luzes; os dois outros atendem à presença obrigatória de um representante da Lei (Orador), e de um que registra as atividades no canteiro (Secretário); ainda um outro, o Cobridor, que atende ao Landmark do sigilo cobrindo o recinto para protege-lo dos cowans e, para completar os sete Mestres a imperiosa presença do Mestre de Cerimônias para organizar e dar beleza aos trabalhos.
É isso. Sem mistérios e ilações as coisas se explicam pela razão. O canteiro de obras simbólico (Loja) é o local onde os maçons trabalham para o aprimoramento do homem. Crenças e credos religiosos são respeitados na intimidade de cada um dos membros da Ordem. Para a salutar convivência nesse canteiro, a Maçonaria só exige dos seus membros a crença num "Arquiteto Criador".
Como cada qual professa a sua fé, a mesma é assunto de foro íntimo e não deve alimentar discussões e proselitismos religiosos perante a assembleia reunida em Loja.
Em torno de um ideal comum, os maçons, independente da sua classe social, cor, credo e religião, trabalham incessantemente pelo aprimoramento da humanidade.


T.F.A.

PEDRO JUK


JAN/2020

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