Em 23/10/2019 o Irmão
Companheiro Maçom Christian Emmanuel Dantas Roque, Loja Manoel Reginaldo da
Rocha, 2.439, REAA, GOB-RN, Oriente de Pau dos Ferros, Estado do Rio Grande do Norte,
apresenta a seguinte questão:
DISPOSIÇÃO DE CARGOS EM LOJA
Meu irmão gostaria
de saber se o irmão tem algum estudo sobre a disposição dos cargos de Venerável,
1 e 2 vigilante, orador, secretário e cobridor interno. Um irmão me contou que
viu em estudo que a disposição destes cargos seguem a estrela de seis pontas de
Davi, mas eu lendo o Blog do irmãos, li que a estrela de seis pontas não
elemento simbólico do REAA, por isso veio esta dúvida, os cargos de estão
dispostos no manual daquela para formar uma banda estrela de seis pontas ou
existe outra explicação para isso? Não seria mera coincidência?
COMENTÁRIOS
Sob o ponto de vista autêntico, os recintos de trabalho dos templos
maçônicos na Moderna Maçonaria foram criados tendo por modelo as Igrejas (disposição
oriente-ocidente e o altar-mor) e o Parlamento Britânico (disposição dos
lugares da assembleia e o great-chair).
A Igreja por ter sido a protetora dos Pedreiros Livres por um longo período
da sua história e o Parlamento Britânico porque a Moderna Maçonaria, surgida
pelo advento da Premier Grand Lodge no ano 1717, nascera
em Londres. Destaque-se que o primeiro Templo Maçônico somente viria surgir nos
meados do século XVIII. Anteriormente a isso era comum os Maçons se reunirem nos
adros das igrejas medievais e posteriormente nas tabernas.
No que diz respeito à localização dos lugares dos ocupantes de cargos em
Loja, querem alguns tratadistas afirmar que essa disposição remete à mística da
religião hebraica (cabala e a árvore da vida), todavia essas são apenas simples
conjecturas, não existindo nada que se comprove algo nesse sentido. É bom que
se diga que a Moderna Maçonaria é constituída por ritos, dos quais cada um tem as
suas particularidades, não podendo assim, ser essa matéria tratada de modo
generalizado.
Indubitavelmente, sob essa óptica não se discute a influência das
civilizações e das manifestações do pensamento humano na formação da Moderna
Maçonaria, contudo é preciso que para isso exista critério acadêmico,
principalmente quando se tratar da formação de conceitos doutrinários que
envolvem os ritos maçônicos. Esse é um caminho que precisa ser trilhado com muita
prudência, antes de se proferirem afirmativas suportadas apenas pela simples
presença figurada de um símbolo ou de uma alegoria no contexto histórico e
doutrinário. Embora sugestivo, relacionar a disposição dos cargos em Loja com a
cabala hebraica, reitero, é algo que não se sustenta sob uma análise mais crítica.
Senão por algumas coincidências, nada comprova que a localização dos lugares
pertinentes aos cargos na Loja foi idealizada para atender à mística dessa ou
daquela religião.
É preciso antes se compreender que a sala da Loja (espaço de trabalho maçônico)
não é uma cópia do Templo de Jerusalém, e nem o Templo hebraico serviu de arquétipo
para templos maçônicos. A alegoria da construção do Templo possui um sentido
muito mais amplo e profundo do que o de servir de modelo. Assim, é verdade que os
templos maçônicos trazem relações alegóricas tomadas do Templo de Jerusalém, como
a divisão do espaço em Oriente, Ocidente e Átrio, as Colunas do Pórtico, o
Altar ocupado pelo Venerável e o Santo dos Santos, todavia nada disso pode ser afirmado
como reprodução física e literal do
lendário Templo que, segundo a Bíblia, fora construído por ordem do Rei Salomão.
A boa geometria nos ensina a se afastar das generalizações e das meras
especulações hauridas dos caminhos fáceis suportados pelo simples copiar o que
está pronto. Perscrutar com astúcia e perseverança é o caminho para as deduções
lógicas.
Assim, remeto o Irmão a ler o livro intitulado "As Origens
Históricas da Mística Maçônica" de autoria do saudoso Irmão José
Castellani - Editora Landmark. Essa obra, além de importante traz uma excelente
bibliografia de apoio.
No tocante a sua questão e as estrelas de cinco e seis pontas, sem
dúvidas elas fazem parte do relicário simbólico da Maçonaria, todavia, símbolos
muitas vezes cabem apenas no contexto doutrinário de alguns ritos, portanto
generalizar a liturgia maçônica não é atitude das mais prudentes.
Não se discute a presença da Estrela de Davi e do Pentagrama de origem pitagórica,
o que se discute é que a Estrela de Seis Pontas, a de Davi, é parte integrante
da liturgia do Craft (vertente inglesa) enquanto que o Pentagrama, ou a Estrela
Flamejante é parte integrante da Maçonaria latina (vertente francesa).
Nesse sentido, não há como relacionar os seis primeiros cargos abordados
quando da circulação das bolsas no REAA com a Estrela de Davi. Ora, como
mencionado, a estrela hexagonal é símbolo utilizado na Maçonaria anglo-saxônica
(teísta) que, por sinal, não adota circulação de bolsas feito como a que ocorre
no REAA, rito de origem francesa (deísta) que adota como símbolo a Estrela
Flamejante (cinco pontas).
Pior ainda é querer projetar uma suposta estrela com seis pontas tomando
por base o trajeto do oficial na circulação da bolsa. Ora, esse trajeto está
muito longe de representar dois triângulos equiláteros como os que verdadeiramente
formam a Estrela de Davi. Para se comprovar, basta esboçar esse trajeto desenhando-o
numa folha de papel. Ver-se-á que que a figura apurada é completamente disforme
em comparação com a estela formada por dois triângulos equiláteros.
Dado a isso é que tenho "batido nessa mesma tecla", onde
reafirmo que no simbolismo do REAA não existe estrela com seis pontas, portanto
o trajeto do oficial circulante nada tem a ver com a Estrela de Davi e muito
menos com a Cabala hebraica. Também nada tem a ver com o Pentagrama.
Como tenho explicado, esse trajeto se dá obedecendo aos cargos
imprescindíveis para a abertura de uma Loja no REAA, ou seja, sete Mestres
Maçons sendo, os seis primeiros cargos compostos pelas Luzes da Loja, pelas
Dignidades do Orador e do Secretário e pelo Cobridor acrescido do Mestre de
Cerimônias.
Explica-se assim que no REAA os três primeiros cargos atendem ao
Landmark onde uma Loja deve ser impreterivelmente dirigida por três Luzes; os
dois outros atendem à presença obrigatória de um representante da Lei (Orador),
e de um que registra as atividades no canteiro (Secretário); ainda um outro, o Cobridor,
que atende ao Landmark do sigilo cobrindo o recinto para protege-lo dos cowans
e, para completar os sete Mestres a imperiosa presença do Mestre de Cerimônias para
organizar e dar beleza aos trabalhos.
É isso. Sem mistérios e ilações as coisas se explicam pela razão. O
canteiro de obras simbólico (Loja) é o local onde os maçons trabalham para o
aprimoramento do homem. Crenças e credos religiosos são respeitados na
intimidade de cada um dos membros da Ordem. Para a salutar convivência nesse
canteiro, a Maçonaria só exige dos seus membros a crença num "Arquiteto
Criador".
Como cada qual professa a sua fé, a mesma é assunto de foro íntimo e não
deve alimentar discussões e proselitismos religiosos perante a assembleia
reunida em Loja.
Em torno de um ideal comum, os maçons, independente da sua classe
social, cor, credo e religião, trabalham incessantemente pelo aprimoramento da
humanidade.
T.F.A.
PEDRO JUK
JAN/2020
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