Em 01/09/2017 o Respeitável Irmão
Elton dos Santos Gregory, Loja Solus, 196, Grande Loja do Estado do Rio Grande
do Sul, sem mencionar o nome do Rito e Oriente, Estado do Rio Grande do Sul,
formula a seguinte questão.
TRÊS PONTOS
Em conversa com um Aprendiz também da Grande Loja, mas integrante da
Loja Obreiros de Israel, ficamos na dúvida do significado do quadrado com os
três pontos em seu interior
, que é colocado no Livro do Chanceler, quando
apomos nosso ne varietur.
Se possível esclarecer-nos, ficamos muito gratos.
CONSIDERAÇÕES:
O que eu não
entendi bem é esse “quadrado com três pontos”. O que me intriga é o “quadrado”.
Deixando o
“quadrado” de lado, vamos às considerações relativas aos “três pontos”.
Na realidade os
três pontos em forma de um delta (um ápice voltado para cima) é uma forma de
abreviatura maçônica e, ao mesmo tempo, também uma forma de identificação que alguns
maçons usam colocando-os logo após a sua assinatura.
Embora muito usado
entre os maçons especulativos, esse costume não é unânime na Maçonaria
Universal, sendo mais comum o seu uso na Maçonaria de vertente latina – é o
caso da brasileira.
A vertente maçônica
que usa a tripontuação triangular como abreviação, tem a mesma como um modo de
indicar onde uma palavra sofreu apócope (foi cortada).
Na verdade a
tripontuação triangular como abreviação atualmente acabou perdendo a sua
originalidade e se tornou até certo ponto banal pelo seu excesso de uso em
muitos textos que envolvem concepções sobre Maçonaria.
Historicamente esse
tipo de abreviatura foi estabelecido em tempos passados com a intenção de se
prevenir contra os cowans bisbilhoteiros,
cujo método servia exclusivamente para elaborar escritos compreensíveis apenas àqueles
que verdadeiramente compreendiam a “Arte”.
Esse sistema de
abreviação, na intenção de dificultar a sua compreensão, era também usado em se
invertendo às vezes a disposição das sílabas das palavras em apócope, cujos
três pontos lhe eram colocados na forma de um delta ou mesmo distribuídos na
horizontal (em forma de reticência).
Vale a pena
mencionar que a Maçonaria anglo-saxônica comumente usa como abreviação a
monopontuação em lugar da tripontuação triangular, porém com bastante critério,
utilizando-se desse método apenas por necessidade premente.
Já na França,
segundo Alec Mellor nos informa in
Dictionaire de La Franc-Maçonnerie et des Franc-Maçons, Paris, 1978, essa
prática é abusivamente usada, o que deu inclusive origem à expressão pejorativa
“Irmãos três pontos” aos Francomaçons.
José Castellani,
mencionando o mesmo Alec Mellor (autor reconhecidamente fidedigno em todo o
mundo maçônico) nos informa: “no século
XVIII, quando foi introduzida a tripontuação, em documentos franceses, eles,
algumas vezes, eram dispostos em linha horizontal (...) e até em outras
posições, já que não havia padronização”.
Mais tarde,
entretanto, o costume de tripontuação em forma de um delta (triângulo) viria se
firmar na Maçonaria francesa.
No Brasil, e mesmo
na América espanhola, esse costume de abreviação tripontual triangular
acompanharia o costume da Maçonaria francesa, já que naquela época, a França,
não só na Maçonaria, ditava a moda em quase todo o mundo.
Os três pontos como
abreviação, em princípio eram usados apenas para indicar onde havia sido feito
o corte nas palavras - na apócope.
Somente a
posteriori é que os “três pontos” seriam também colocados após a assinatura
visando identificar um maçom, cujo costume é comum entre nós até os dias
de hoje – é o caso da tripontuação que acompanha o “ne varietur” no Livro de Presença na Loja.
Como abreviatura, é
comum também no Livro de Presenças a tripontuação triangular que identifica o
grau simbólico do maçom. Exemplo A\M\, C\M\ e M\M\, reservando-se também ao título
distintivo dado ao Mestre Maçom Instalado como M\I\.
Salvo as apócopes
como meio sigiloso de escrita maçônica, é certo que nunca houve entre os
antigos maçons a preocupação de se identificar como tal (colocar três pontos
após a assinatura), já que naquela época isso só poderia lhes trazer
dissabores, sobretudo após a publicação da bula papal In eminenti apostolatus specula, de Clemente XII de abril de 1738,
ao contrário da atualidade onde vemos muitos maçons brasileiros que
exageradamente andam enfeitados com penduricalhos maçônicos, só faltando mesmo
sobre eles um letreiro em néon anunciando: “eu sou maçom”.
Há que se destacar
ainda que além das abreviaturas para ocultar escritos maçônicos em épocas de
perseguições, era costume entre os maçons o uso de um nome simbólico no intuito
de ocultar o seu verdadeiro nome. Essa prática, entretanto caiu em desuso à
medida que a liberdade individual e coletiva ia sendo assegurada, só sendo
mantida atualmente em alguns círculos maçônicos a exemplo do Rito Adonhiramita.
Assim,
genuinamente, a tripontuação, originária da vertente francesa de Maçonaria,
surgiu no século XVIII com a finalidade de dificultar a compreensão do texto
aos não maçons que porventura viessem ter acesso a documentos maçônicos.
A técnica dessa
abreviação consiste em indicar por três pontos, geralmente em forma de um
delta, a supressão de um fonema ou sílaba de uma palavra que, em Maçonaria de
vertente francesa, ocorre geralmente após uma consoante e dobrando a letra
inicial em caso de plural, a despeito que em alguns títulos, a apócope possa
ocorrer igualmente logo após a sua primeira, ou primeiras letras, se for o
caso. Exemplo A G\ D\ G\ D\ U\.
Como explicado, a
tripontuação não é original quando se tratar de identificar a assinatura de um
maçom, entretanto esse já é considerado costume consuetudinário e largamente
usado por maçons praticantes de Maçonaria de vertente latina (conquanto isso
seja facilmente imitado por muitos profanos).
Em síntese, no que
diz respeito às abreviações na Maçonaria para tornar textos compreensíveis
somente aos maçons, existem inúmeras técnicas que não ficam restritas apenas a
apócopes por unipontuação ou tripontuação. Muitas práticas nesse particular
seguem, às vezes, os costumes e a linguagem genuína de uma região onde é
praticada a Maçonaria – essa é uma observação importante e deve ser
efetivamente considerada.
Concluindo, é oportuno
mencionar que na atualidade esses costumes somente são mantidos para preservar
a sua tradição. Não faz sentido na atualidade o abuso desordenado dessa prática
como muitas vezes alguns o cometem. É fantasia também e não existe nenhum
compromisso com a originalidade maçônica o que alguns autores dissertam em
ilações tenebrosas dando significados ocultos e místicos à tripontuação. Isso é
pura invenção. Os três pontos verdadeiramente só indicam, por primeiro, onde
uma palavra foi cortada e, em segundo, sugerem a identificação de um elemento
como pertencente à Maçonaria. Portanto, não existe para essa tripontuação
triangular nenhum significado místico, oculto ou esotérico.
E.T. – Os vocábulos
“unipontuação” e “tripontuação” são neologismos utilizados especificamente
nesse texto na intenção de identificar dois substantivos no contexto das
considerações.
T.F.A.
PEDRO JUK
NOV/2017.
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