quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

LEIUTURA DO SALMO 133

Em 09.07.2025 o Respeitável Irmão Rodrigo Cunha, Loja Peregrinos, 3525, REAA, GOB -SP, Oriente de Várzea Paulista, Estado de São Paulo, apresenta a seguinte questão:

 

SALMO

 

A dúvida é pertinente a um podcast que assisti, o canal Maçonizando. Num trecho da entrevista você comentou que no REEA não há leitura do salmo 133, que tal prática é costume no rito de York. A questão é, dado a este detalhe, onde no REEA , não se deveria ler tal salmo na abertura do Livro da Lei, porque então no ritual do Aprendiz, está descrito que o Orador deve fazer a leitura do referido salmo, e porque ainda praticamos esse costume se não é próprio do Rito.

 

CONSIDERAÇÕES

 

Inicialmente, gostaria de salientar que em minha fala ao canal Maçonizando, tratei de aspectos históricos e não especificamente de um ritual.

No contexto histórico, vale relatar que no início das atividades do simbolismo do REAA, nem mesmo havia leitura de trecho do Livro da Lei.

Com o aperfeiçoamento dos rituais do REAA, ocorrido a partir dos meados do século XIX, pós Lojas Capitulares, e a sedimentação iniciática do rito baseada, principalmente em ritos solares do passado, a adoção da leitura de um trecho do Livro da Lei, relativo ao triunfo da Luz sobre as trevas, começava paulatinamente a se consagrar no Rito.

Na França, antes da adoção do termo “simbolismo”, as Lojas que praticavam o Franco-maçônico básico eram conhecidas como “Lojas de São João”, principalmente pela relação solar entre os solstícios (cultos pagãos) e os dois santos padroeiros, João, o Batista e João, o Evangelista (cristianismo).

Historicamente, vale lembrar que a Maçonaria primitiva nascera à sombra da Igreja e dela obteve proteção por muito tempo. Assim, nada a se estranhar que resquícios clericais tenham alcançado a cultura da Moderna Maçonaria.

À vista disso, por influências clericais, o REAA acabaria adotando a leitura de João, 1; 1-5 na abertura dos trabalhos do grau de Aprendiz, sobretudo pela relação solsticial da plenitude da Luz (verão no hemisfério Norte). De certa forma, com isso solidificava-se um elo entre o período operativo e o especulativo da Ordem.

             Entretanto, em virtude de fatos históricos, na Maçonaria brasileira a leitura do Salmo 133 acabaria sendo introduzido por volta do segundo quartel do século XX, pelas Grandes Lojas Estaduais brasileiras. Mais tarde essa indevida inserção contaminaria também o REAA praticado no GOB, o que perdura até hoje.

Na realidade, na Maçonaria o Salmo 133 teve uma breve aparição no Yorkshire, na Inglaterra, contudo logo veio a desaparecer por completo, somente vindo reaparecer, mais tarde, em rituais de algumas das Grandes Lojas Norte-americanas, no sistema conhecido como Blue Lodges - na verdade, essa leitura do Salmo não ocorre na abertura dos trabalhos, porém é lido por um oficial durante uma perambulação do Candidato pela Loja, na iniciação.

É bastante provável que Mário Marinho Béhring, ao buscar reconhecimento das Grandes Lojas Norte-americanas para as suas recém-criadas Grandes Lojas Estaduais brasileiras, tenha copiando o Salmo 133 das Blue Lodges, inserindo-o indevidamente no ritual do REAA que fora por ele criado em 1928 para a sua Obediência, então criada. Enfim, esta é uma provável gênese do indevido aparecimento do Salmo 133 na liturgia do REAA.

Atualmente, por circunstâncias alheias à originalidade do REAA, o Salmo 133 também aparece inadequadamente consagrado nos rituais vigentes no GOB.

Arrematando essas considerações, é conveniente mencionar que em Maçonaria nem sempre os rituais trazem, na sua totalidade, a originalidade do rito. Apesar disso, o maçom deve irremediavelmente seguir o que consta no Ritual vigente. Retirar algo consagrado por uso e costume não é tão simples como se pensa. Cabe, nesse caso, lembrar do que disse o Irmão Goethe, "matar o dinossauro não é tão difícil; difícil é consumir os seus restos".

 

T.F.A.

 

PEDRO JUK – SGOR/GOB

jukirm@hotmail.com

http://pedro-juk.blogspot.com.br

 

 

DEZ/2025

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