I – INTRODUÇÃO.
Na profusão da edição de rituais e instruções maçônicas no Brasil,
muitas questões têm se apresentado que ainda clamam por uma solução ou
explicação satisfatória nesse particular, sobretudo pela inserção de instruções
que não pertencem a esse ou aquele Rito e sua correspondente doutrina iniciática,
levando-se em conta à vertente na qual pertença o costume maçônico.
É o caso, por exemplo, de uma questão que envolve dentro da simbologia
maçônica o conjunto composto pelo Círculo, pelo Ponto e pelas Paralelas
Tangenciais e ainda no contexto acrescido do Livro da Lei e da Escada de Jacó.
Indiscriminadamente esse conjunto alegórico em não raras vezes tem habitado as
instruções para o Aprendiz emanadas e alguns rituais brasileiros do Rito
Escocês Antigo e Aceito como o exemplo do que segue:
"Em Loja Maçônica Regular, Justa e perfeita, existe um ponto dentro
de um circulo, que o verdadeiro Maçom não pode transpor. Este círculo é limitado,
ao Norte e ao Sul, por duas linhas paralelas, uma representando Moisés e outra
o rei Salomão. Na parte superior deste círculo, fica o Livro da Lei Sagrada,
que suporta a Escada de Jacó, cujo cimo toca o céu. Caminhando dentro deste
círculo sem nunca o transpor, limitar-nos-emos às duas linhas paralelas e ao
Livro da Lei Sagrada, e, enquanto assim procedermos, não poderemos errar".
O conteúdo acima foi motivo de
consulta perpetrada por um Respeitável Irmão da COMAB, no que assim se
manifestava naquela oportunidade: “Este
texto tem gerado inúmeras discussões em Loja sem jamais chegarmos a uma
interpretação adequada ou mesmo o seu significado filosófico”.
II – COMENTÁRIOS
II.1 – VERTENTE INGLESA DE MAÇONARIA
Embora o Círculo entre as Paralelas Tangenciais seja um conjunto
simbólico eminentemente genérico na Maçonaria universal, a sua composição junto
como o Altar, com a Escada de Jacó e com o Livro da Lei Sagrada, além da menção
aos personagens bíblicos de Moisés e de Salomão, é um conjunto alegórico pertencente
à Tábua de Delinear[1]
inglesa do Primeiro Grau, portanto não são componentes do Painel do Grau
de Aprendiz do Rito Escocês Antigo e Aceito, Rito esse de vertente francesa,
a despeito de que em se tratando do conteúdo simbólico de ambos (da Tábua e do
Painel), aparecem significativas diferenças.
Devido à existência dessas distinções litúrgicas e ritualísticas entre
os dois principais sistemas doutrinários maçônicos (embora o escopo seja único
- o de reconstruir e aprimorar o Homem) - surgem então às anfibologias e as
incompreensões sobre esse conteúdo, sobretudo quando pertinente às instruções e
catecismos maçônicos se equivocadamente generalizados.
Na concepção inglesa (teísta), por exemplo, esse conjunto no momento em
que é composto pelas paralelas tangenciais, pelo círculo e pelo ponto, dentre
outros, representa também a Lei (do patriarca Moisés) e a Sabedoria (do rei Salomão).
À bem da verdade, esse conjunto simbólico é fruto haurido da Moderna
Maçonaria e sacramentado através das Lições Prestonianas (William Preston[2]), além de outras interpretações
relacionadas à mencionada alegoria, efetivamente a partir do primeiro quartel
do Século XIX, inclusive quanto à alusão aos personagens bíblicos do Antigo
Testamento, Moisés e Salomão, já que os nomes dessas personalidades se dariam
em substituição aos tradicionais santos patronais João, o Batista e João, o
Evangelista devido à decisão da Grande Loja em transformar a Maçonaria em uma
instituição não sectária na Inglaterra, nesse particular sob o ponto de vista
religioso[3].
Naquela oportunidade então é que seria recomendado na medida do possível
para que as novas Tábuas de Delinear não contivessem símbolos associados ao
Cristianismo. Nesse sentido, por exemplo, é que o título Bíblia seria designado
simplesmente como o “Volume das Sagradas Escrituras”. Essa aparente descristianização
dos catecismos maçônicos seria um dos motivos principais que levaria às
escaramuças entre os Antigos e os Modernos relativos às duas Grandes Lojas
rivais à época na Inglaterra.
Obviamente que ao longo desses acontecimentos, longe da unanimidade,
muitos símbolos cristãos ainda assim permaneceriam como integrantes desse
corolário alegórico particular à Maçonaria Inglesa. É o caso da Cruz que
identifica a Fé como virtude teologal, colocada no primeiro lance da Escada de
Jacó em direção ao céu, sobejamente conhecida na composição do “Tracing Board” (Tábua de Delinear) do
primeiro Grau do Craft inglês nos Trabalhos de Emulação (equivocadamente
chamado no Brasil como Rito de York).
Nesse conjugado alegórico o Circulo
entre as Paralelas Tangenciais é exposto na Tábua de Delinear aparecendo como uma
espécie de base, alicerce ou arrimo que dá apoio ao Volume da Lei Sagrada que,
por sua vez é o sustentáculo da Escada de Jacó.
Dentre outras exegeses pertinentes para esse conjunto alegórico, a mais
comum encontrada é a que se destaca a seguir:
O Circulo entre as paralelas expressa os limites impostos pela Sabedoria
daquele que cumpre a Lei. Essa é a base (Altar) onde descansa o código de moral
e ética (Volume das Sagradas Escrituras), cujo caminho avulta a ascensão do Obreiro
ao aperfeiçoamento. É o que sugere a Escada em cujo topo aparece uma Estrela de
Sete Pontas (sete – a Fé, Esperança e Caridade somadas à Justiça, Prudência,
Temperança e Coragem). O interior do Círculo representa o espaço limitado pelos
ditames da obediência à Lei exarada no Volume da Lei Sagrada. Em linhas gerais
denota que aquele que segue os ditames da Lei, não pode errar.
Para ilustrar essa interpretação, também
fica aqui transcrito um trecho do livro Master
Key de autoria de John Browne datado de 1.802 com perguntas e respostas
pertencentes à Primeira Preleção com base Prestoniana que serve de apoio para
justificar de onde fora retirado o conteúdo textual mencionado no ritual da
COMAB citado na introdução desse arrazoado e que é o motivo principal desses
apontamentos. Esse mesmo texto também pode ser encontrado no livro Simbolismo
na Maçonaria, Colin Dyer, publicado no Brasil pela Madras
Editora Ltda., São Paulo, 2.006.
“(...) Perg: Qual é o primeiro ponto da Maçonaria? Resp: O joelho
esquerdo despido e dobrado. Perg: No que incide esse primeiro ponto? Resp: Na
posição ajoelhada me foi ensinado a amar o meu Criador. Sobre o meu joelho
esquerdo nu e dobrado eu fui iniciado na Maçonaria. Perg: Existe algum ponto
principal? Resp: Sim, o de podermos fazer um ao outro feliz e ainda transmitir
aquela felicidade para outro. Perg: Existe algum ponto central? Resp: Sim, um
ponto no interior do círculo, do qual o Mestre e os Irmãos não podem
materialmente errar”.
Eis aí então a origem dessas citações nas instruções maçônicas,
lembrando sempre que elas realmente se adequam aos catecismos da vertente
inglesa de Maçonaria.
Ilustrando ainda mais, segue a sequência do texto mencionado nesse
catecismo conforme a mesma obra citada:
“(...) Explicai esse ponto no interior do Círculo. R. Nas Lojas
regulares de Francomaçons existe um ponto no interior de um círculo, ao redor
do qual o Mestre e os Irmãos não podem materialmente errar. O círculo é limitado
ao Norte e ao Sul por duas linhas perpendiculares paralelas: a no Norte
representa São João Batista, e a do Sul simboliza São João Evangelista. Nos
pontos de cima destas linhas e no perímetro do circulo, está colocada a Bíblia
Sagrada, sobre a qual se apoia a Escada de Jacó, que alcança as nuvens do céu.
Aí também estão contidos as Ordens e os Preceitos de um Ser que é Infalível,
Onipotente e Onisciente, de tal forma que, enquanto estivermos no seu interior
e obedientes a Ele, como foram João Batista e João Evangelista, seremos levados
a Ele e não nos decepcionaremos nem O frustraremos. Portanto, ao nos mantermos
assim circunscritos será impossível a que venhamos errar materialmente”.
Como se pode notar o texto tem a intenção de explicar à instrução onde o
termo “circunscrito” representa o limite imposto pelo Círculo, cujo “ponto
central” é a origem donde o Maçom por primeiro dobrou o joelho esquerdo apoiando-o
no chão e se sujeitando no ato à “obrigação” (também conhecida na vertente
latina como juramento) de cumprir os deveres impostos e à promessa perpetrada –
o Livro da Lei é o Código de Moral e Ética; o Círculo é o limite; o Ponto é a
origem e a Escada o caminho para o aperfeiçoamento[4]. Assim, isso significa que
se bem observada a Arte e ressalvados os limites da Lei, o Maçom não pode
errar.
Ainda em relação ao texto acima
mencionado, há que se notar também que à época ainda era citado na Inglaterra a
Bíblia Sagrada, assim como os nomes dos Santos patronais cristãos, muito embora
já no primeiro quartel do Século XIX não tardariam esses títulos a serem
substituídos - a Bíblia seria denominada como o Volume da Lei Sagrada, e cada
Santo padroeiro passariam a ser um dos personagens bíblicos do Antigo
Testamento - Moisés e Salomão.
II.2 – R\E\A\A\ - VERTENTE FRANCESA DE MAÇONARIA.
Dadas essas considerações, entra finalmente na questão o Rito Escocês
Antigo e Aceito que, embora até possua em muitas das suas características
influências históricas anglo-saxônicas (o título Antigo, por exemplo),
sobretudo porque o seu simbolismo sofrera influência direta das Lojas Azuis
norte-americanas que pratica o Craft oriundo da Grande Loja dos Antigos da
Inglaterra, vale a pena lembrar que mesmo assim o Rito Escocês é historicamente
originário da vertente francesa da Maçonaria.
Sob essa óptica, o arcabouço doutrinário francês de Maçonaria, principalmente
aquele relativo ao simbolismo do Rito Escocês Antigo e Aceito, nele envolve o
aperfeiçoamento humano que é simbolicamente representado pela alegoria da
ressurreição e morte da Natureza, bem como a sua constante renovação (cultos
solares da Antiguidade).
Assim o simbolismo do Rito Escocês aborda e encena a evolução da
Natureza. Nesse particular teatro iniciático aparece representada na sua
liturgia e ritualística os solstícios e os equinócios, os ciclos Naturais ou as
estações do ano, as Colunas Zodiacais, as Colunas Solsticiais B e J (marcam a
passagem dos trópicos de Câncer e Capricórnio), assim como as Colunas do Norte
e do Sul que são separadas no Templo pelo eixo imaginário do Equador.
Nesse
particular, o REAA por ser um Rito de origem francesa o mesmo não usa o
título distintivo de Tábua de Delinear, entretanto faz uso no seu lugar do nome
de Painel da Loja que fica situado e exposto originalmente em Loja aberta no centro
do Ocidente. Entretanto, se faz mister observar que no conteúdo simbólico desse
Painel da Loja do REAA\ não
existe a figura da Escada de Jacó e nem aparece o Círculo com o Ponto ao centro
entre as Paralelas Tangenciais, daí não combinar qualquer instrução que
porventura possa fazer menção a esses símbolos relacionados ao franco maçônico
básico do escocesismo – essa conduta doutrinária, se por acaso mencionada, além
de equivocada não faria mesmo qualquer sentido.
Devido a não observação correta desses particulares - já que nem tudo o
que reluz é ouro - é que em busca do significado simbólico ainda existem
referimentos como: “Este texto tem gerado
inúmeras discussões em Lojas sem jamais chegarmos a uma interpretação adequada
ou mesmo o seu significado filosófico”.
Desse modo, infelizmente é verdadeiro comentar que alguns autores e ritualistas
brasileiros, talvez por mera falta de atenção, ainda insistem inadvertidamente em
misturar procedimentos de vertentes maçônicas distintas nas suas instruções.
Desse modo se explica que a falta de sentido dessa inferência é que faz
com que jamais se chegue a uma
interpretação adequada ou mesmo o seu significado filosófico (é a queixa de
muitos).
Essas ilações ainda são o sustentáculo para a propagação, através de certos
autores imaginosos, de verdadeiras pérolas do faz-de-conta, geralmente
suportadas por palavras bonitas que em superficial análise acabam por não fazer
sentido algum – palavras mais palavras e palavras... Vazias ao vento.
Não obstante a toda essa aleivosia histórica e ritualística, ainda
existe outra classe – a daqueles que “acham bonito”, ou que simplesmente “copiam”
rituais anacrônicos imaginando-os como fontes primárias e fidedignas. É o caso,
por exemplo, do enxerto de toda a Tábua de Delinear, que é da doutrina inglesa,
no Rito Escocês que possui sabidamente preceito francês.
Daí, como se o sol pudesse ser tapado com a peneira e na tentativa de se
justificar toda essa aberração se utilizando a lei do menor esforço, identificou-se
o intruso objeto como o tal do “Painel Alegórico”, o que só fez aumentar ainda
mais a cinca oferecendo absurdamente para o escocesismo simbólico a existência equivocada
de “dois painéis” – um legítimo (o da Loja) e o outro como produto de enxerto
oriundo de outra vertente maçônica (o tal justificado como Alegórico).
Ora, isso
evidentemente não existe e é produto de mera
enxertia imposto por “achistas”, já que o Rito Escocês genuinamente possui
apenas o Painel da Loja no centro do Ocidente e não mais outro painel que,
ainda por cima, seja denominado de “alegórico” (sic).
Para que não pairem dúvidas, evidentemente o estudante de Maçonaria deve
conhecer o Painel da Loja (sistema Francês) e a Tábua de Delinear (sistema
Inglês). Em linhas gerais, no grau de Aprendiz, o primeiro é aquele que, dentre
outros símbolos, destaca-se por apresentar um pórtico ladeado pelas Colunas B e
J (vide ritual do GOB, edição 2.009, por exemplo). Enquanto que a segunda (a
Tábua) é aquela que destaca dentre outros símbolos, três Colunas, tendo ao centro
uma Escada em direção ao firmamento em cujo topo se apresenta uma Estrela
Heptagonal (vide ritual de Emulação).
Nesse sentido, quando misturados os conteúdos simbólicos, a mixórdia
acaba por trazer consigo instruções inglesas para dentro da doutrina francesa
de Maçonaria. Aliás, esse é um fator deveras importante que todo o estudante da
Ordem precisa saber distinguir: existem
duas vertentes principais de Maçonaria – uma inglesa e outra francesa.
Embora o objetivo da Sublime Instituição seja um só, os métodos doutrinários se
diferem conforme a respectiva vertente – tanto pela visão social, quanto pela
visão cultural.
Retomando essa questão.
Embora nos três Graus simbólicos do Rito Escocês cada respectivo Painel da
Loja não apresente literalmente o símbolo do Círculo entre as Paralelas
Tangenciais, a doutrina por si só ao mencionar a alegoria da evolução da Natureza,
de modo abstrato acaba, sem mostrar os símbolos, por se referir ao Sol (Círculo)
e aos trópicos de Câncer ao Norte e Capricórnio ao Sul (limites solsticiais).
Explica-se: como as datas solsticiais de 24 de Junho e 27 de Dezembro
aludem respectivamente aos solstícios de inverno e de verão no hemisfério Norte
(origem do Rito) ainda, por extensão, coincidem por influência da Igreja com as
datas comemorativas a João, o Batista (verão no Norte) e com João, o Evangelista
(inverno no Norte).
Assim, essa alegoria maçônica no Rito envolve toda a evolução da
Natureza associando-a as etapas da vida humana – Primavera, Verão, Outono e Inverno,
ou o nascimento, a infância, a juventude, e a maturidade, tudo distribuído de
modo iniciático nos Graus de Aprendiz (puerícia), Companheiro (puberdade) e
Mestre (maturação).
Por assim ser, mesmo de modo oculto, o Círculo entre as Paralelas Tangenciais
pode representar também o Sol entre os Trópicos indicando que, conforme os
solstícios, o Astro Rei, sob o ponto de vista da Terra, estando mais ao Norte
ou mais ao Sul nunca ultrapassará na sua eclíptica anual o limite indicado
pelos os trópicos.
Sob essa óptica, não significa de maneira alguma que esses símbolos
careçam estar literalmente expostos no Painel relativo ao arcabouço
doutrinário francês.
Simbolicamente no Templo o Sol também é o centro (onde existe a
circulação) que fica entre as Colunas do Norte e do Sul, cujo limite deste
deslocamento, seja ele austral ou boreal, está representado pela marcação da
passagem abstrata (sem base material) dos trópicos de Câncer e Capricórnio. Daí
as Colunas B e J, também conhecidas como “solsticiais”, serem os marcos
toponímicos que marcam a passagem dos aludidos Trópicos no Templo – sob o ponto
de vista da porta de entrada para o Oriente, ao centro está à linha imaginária
do Equador, à esquerda, marcada pela Coluna B, está à linha imaginária
correspondente ao Trópico de Câncer e à direita, balizada pela Coluna J, a
correspondente ao Trópico de Capricórnio.
O Sol ao tangenciar o limite de Câncer (solstício de verão no Norte)
corresponde à data comemorativa ao santo padroeiro João - o Batista, enquanto
que ao tangenciar o limite de Capricórnio (solstício de Inverno no Norte)
corresponde à data comemorativa ao Santo padroeiro João, o Evangelista.
Essa alegoria sugere no Rito em questão que a consciência do Homem,
limitando-se tal qual às Leis da Natureza, é inviolável, já que ele, o Homem, é
também parte integrante dessa Ordem Natural perpetrada pela Criação (um conceito
deísta).
No escocesismo a Loja simbolicamente representa um segmento do Globo
Terrestre situado sobre o Equador, cuja largura vai do Norte ao Sul ou
vice-versa e o seu comprimento de Leste para o Oeste ou vice-versa. A sua
altura vai da Terra (Pavimento Mosaico) ao Céu (Abóbada).
É sobre esse espaço (Oficina) que a Terra simbolicamente fica viúva do
Sol uma vez por ano (inverno). À bem da verdade é o processo da evolução da
Natureza a partir do seu renascimento na Primavera até a sua morte no Inverno
para novamente renascer na Primavera (Lenda de Hiran). Assim comparativamente e
de modo iniciático, tal como a Natureza que morre para renascer como a fênix
revivida, também o Homem profano fenece para renascer iniciado na Luz – da
câmara de Reflexão à Exaltação do Mestre (a senda iniciática).
III – COSIDERAÇÕES FINAIS.
Em linhas gerais essas são as interpretações que envolvem a alegoria
composta pelo Círculo entre as Paralelas Tangenciais nos dois sistemas de
Maçonaria abordados, todavia somente ficam passíveis de uma explicação racional
se devidamente separadas conforme as suas tradições, usos e costumes nos
diversos rincões terrenos onde se apresenta a Sublime Instituição – cada coisa
no seu devido lugar ou haverá o caos
no Canteiro.
É oportuno aqui mencionar uma contradição que não raras vezes aparece no
escocesismo quando muitos Irmãos, de modo anacrônico, ainda insistem em
comparar a evolução dos Graus com os “degraus da Escada de Jacó” que, diga-se
de passagem, nem mesmo aparece como elemento simbólico na doutrina do Rito
Escocês.
Pior ainda é querer definir o número de degraus que formam essa Escada
quando nem mesmo na Bíblia, essência da doutrina moral como Livro da Lei, essa
quantidade é mencionada.
É o caso, por exemplo, quando alguém congratulação menciona o
ultrapassado jargão: “parabéns por teres conseguido
alcançar mais um degrau da Escada de Jacó”.
Ora, sem apelar para o preciosismo, não existe nada mais contraditório
do que comparar a ascensão aos Graus com os degraus de uma escada que nem mesmo
é parte integrante da doutrina simbólica do escocesismo.
Diferente do Círculo e das Paralelas que mesmo de modo abstrato chegam a
fazer sentido no corolário doutrinário do Rito Escocês, a Escada, nem mesmo em caráter
contemplativo, é mencionada na alegoria dos Painéis do verdadeiro escocesismo.
PEDRO JUK
OUT/2014
ROTEIRO BIBLIOGRÁFICO AUXILIAR:
DYER, Colin – Simbolismo na Maçonaria, Editora Madras, São Paulo.
CARVALHO, Francisco de Assis – Símbolos Maçônicos e Suas Origens, Volumes I e
II, Editora Maçônica A Trolha, Londrina – Pr.
LOMAS, Robert – O Poder Secreto dos Símbolos Maçônicos, Editora Madras,
São Paulo.
MELLOR, Alec – Dicionário da Franco Maçonaria e dos Franco Maçons, Editora
Marins Fontes, São Paulo.
JUK, Pedro – Exegese Simbólica para o Aprendiz Maçom – Tomo I, Editora
Maçônica A Trolha, Londrina, Paraná.
JUK, Pedro – Topografia e Simbolismo do Templo REAA, Ensaios, Diário JB
NEWS, Florianópolis, Santa Catarina.
JUK, Pedro – São João e os Solstícios na Maçonaria, Ensaios, Diário JB
NEWS, Florianópolis, Santa Catarina.
NOTAS
[1] O Painel na
Inglaterra denomina-se Tabual de Delinear ou de Traçar (Tracing Board). Já na França é denominado como Painel do Grau. O
conteúdo simbólico entre ambos aparecem sensíveis diferenças.
Alguns autores acreditam que o nome “Tábua de Delinear” se derive como
uma corruptela do antigo “cavalete” (tressel)
ou Prancha de Traçar (Tracel ou Tracing
Board) geralmente usada nas Lojas no final do século XVIII que objetivava
apresentar os hieróglifos maçônicos, cuja Prancha ou Tábua muitas vezes nas
Lojas ficava disposta sobre um cavalete no centro.
[2] Willian Preston
(1.742 – 1.818) – Nascido em Edimburgo na Escócia, foi iniciado em Londres no
ano de 1.763. De carreira maçônica fecunda e brilhante assumiu o veneralato da
Loja Antiquity nº 1 (atualmente nº 2) considerada à época como “Loja dos Tempos
Imemoriais”. À Preston e dado o título simbólico de ter sido ele o primeiro
professor de Maçonaria, permanecendo ainda ligado aos seus Ilustrations of Freemansonry (Esclarecimentos dobre a
Franco-Maçonaria), cuja primeira edição data de 1.772. Essa importante obra
teve dezessete edições, das quais doze durante a vida do autor. Falecido em
1.818 foi sepultado na Catedral de São Paulo em Londres. Os Ilustrations of Freemansonry se
constituem de uma coletânea de conferências eruditas e de alto valor literário
para uso das Lojas. É devida ainda a William Preston a autoria das famosas Prestonian Lectures (Lições
Prestonianas) que permanecem atuais e são base para conferência de notáveis
sobre assuntos instrutivos de interesse maçônico. A coletânea das Lições Prestonianas
é publicada pela Quatuor Coronati Lodge,
2.076 de Londres. As dissertações sobre o conteúdo das Tábuas de Delinear
inglesas se baseiam nas mensagens Prestonianas. O termo “Prestoniano” deriva-se
em homenagem a Preston.
[3] Além da disposição
contrária ao sectarismo religioso, a Grande Loja se posicionava também
contrária ao sectarismo político. Essa é a origem da proibição de discussões
que envolvam política e a religião nos Templos e em nome da Maçonaria presente
até os dias atuais na imensa maioria das Constituições das Obediências
Maçônicas.
[4] A ascensão ou subida
dos degraus dá a ideia de evolução e aperfeiçoamento.
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