Em 13/01/2016 o Respeitável Irmão
Hideraldo Teodoro, Loja Pentalpha, nº 2.239, REAA, GOSP-GOB, Oriente de São
Paulo, Estado de São Paulo, solicita o seguinte:
SUCESSÃO NA LOJA
Outrossim (e aqui já peço desculpas novamente,
por saber que o Irmão é ocupado e recebe um número muito grande de consultas,
mas são poucos com seus conhecimentos e disposição para nos esclarecer),
peço-lhe mais uma vez o socorro de suas luzes em algo que está verdadeiramente
me aborrecendo, e falo inicialmente da minha Loja. Trata-se da escolha de
Irmãos para a direção das Lojas, para o veneralato...
Tenho visto, na grande maioria das
Oficinas, inclusive na minha, a mentalidade, que acaba guiando os Irmãos nesses
casos, de que há necessidade de renovação, é necessário, é preciso renovar,
colocar novos Irmãos no Trono de Salomão, acrescendo-se a isto o fato de
entenderem que, para tanto, deve-se aplicar o sistema de rodízio, ou seja,
"de quem é a vez", seja no sentido de "eleger" o Mestre
mais antigo ou aquele que ocupa no momento a 1ª Vigilância da Loja. Acabo me
perguntando, então, do por que da eleição, já que há um "sistema"
rotativo para a ocupação do cargo de Venerável, bem como se não deve haver uma
análise sóbria de quem possuiria as melhores condições para empunhar o 1º
Malhete, lembrando-me do que diz a respeito o próprio Ritual de Instalação:
"- As condições essenciais para o desempenho das funções de Venerável
Mestre são as seguintes: ...Ser versado na nobre ciência da Arte Real e amante
da sabedoria..." e como é triste ver Veneráveis com dificuldade já para
ler os rituais de uso comum, sem conhecimentos básicos de história e doutrinas
da Ordem, da ritualística, legislação, etc... Como já fui Venerável, me pego exclamando
com meus botões, diante de alguns exemplos do que digo: "Ele é pior que
eu!”.
Longe de mim arvorar-me em exemplo de
Venerável, mas, com toda sinceridade, sempre procurei e procuro aprender,
conhecer, e quando no Trono de Salomão, me esforcei por saber mais ainda do
essencial, ao menos, para me desincumbir o melhor possível de minhas
obrigações, e somente aceitei ser indicado e eleito para o cargo após ter mais
de 20 anos de Maçonaria, e perdoe-me se pareço orgulhoso e presunçoso, mas o
veneralato não é para todos os maçons, para todos os Mestres. Penso se não
seria o caso de serem maiores as exigências legais para que alguém possa ser
eleito Venerável, se não deveria o mesmo submeter-se a um exame de condições
por uma Comissão de Mestres Instalados mais preparados, doutos, com a
necessidade de ser por eles aprovado para poder assumir as funções. Já temos em
muitas Lojas uma deplorável situação de Irmãos que não leem, não se interessam
em aprender, em se desenvolver, não estudam, de Lojas que não ensinam, etc.,
para ainda termos à frente das mesmas Mestres em iguais condições, mas que
deveriam ser os guias dos Irmãos, ensinando-os, já que estão sob o sólio
"para esclarecer a Lojas com as luzes da sabedoria..."
Estarei assim tão errado, meu Irmão?
Gostaria muito de seu sábio parecer, até porque penso em preparar um trabalho a
respeito, começando pelas considerações históricas e vindas para o momento
atual, para nossos “usos e costumes”.
CONSIDERAÇÕES.
Entendo
perfeitamente o lamento do Irmão. Infelizmente muitos dos que pertencem a nossa
Sublime Instituição nem mesmo a conhecem como deveriam.
Quando se trata de
eleger a diretoria da Loja, muitos se colocam a disposição e outros são até conduzidos
(pré-estabelecidos), porém o principal para essa qualificação nem sempre é
levado em consideração. O fundamental é ser antes de tudo um bom conhecedor da
Maçonaria para só depois se colocar como disponível para empunhar um dos
malhetes da Loja, especialmente quando se trata do primeiro malhete. Quando se
fala em um “conhecedor de Maçonaria”, entenda-se que não é só aquele que
conhece a sua cultura, sua história e a sua filosofia, mas ser também um
conhecedor das suas leis, bem como ser um obreiro preparado, sobretudo pela
virtude da humildade e da discrição.
De tudo o que eu posso lhe dizer numa
situação dessas é que ela geralmente acontece por pura falta de instrução e,
por conseguinte, de conhecimento da causa. Digo isso não me referindo a sua
Loja especificamente, mas pela experiência que adquiri ao conhecer “certas”
formas com as quais algumas Oficinas levam alguns obreiros a conquistar o Grau
de Mestre Maçom. Nesse caso há que se perguntar: como algumas Lojas instruem?
Que tipo de instrução? Existe avaliação competente? Ou simplesmente se está
apenas preocupado em cumprir o tempo para logo exaltar? Não seria essa pressa à
razão para justificar essa tal renovação?
Atrás disso ainda aparece um dos
grandes defeitos do ser humano: a vaidade. Aliás, um dos motes da Maçonaria é combate-la,
entretanto não raras vezes nos deparamos com nossos legisladores mergulhados sim
em discussões inócuas relativas às pompas, títulos, assentos no Oriente e outras
ações desse quilate.
Penso que falta para uma boa
parcela dos maçons a verdadeira compreensão da Arte. Compreender a Arte é
vivenciá-la e praticá-la antes que ficar se preocupando com carimbos e
convenções peripatéticas do “onde está escrito” o óbvio.
Deixando essas considerações de
ordem prática de lado, há ainda que se levar em conta o aspecto legal e a plenitude maçônica adquirida – o direito do Mestre. Assim,
concorrer a um cargo eletivo não é uma questão de indicação e escolha, mas uma
questão de direito do Mestre, desde que preenchidos os requisitos legais.
Ora, então se a lei
prevê uma candidatura e um mau candidato legalmente se elege, me parece que quem
o elegeu foi o quadro da Loja, daí a responsabilidade é de quem o elegeu. Como
um membro da Loja, no mínimo ele deveria ser conhecido pelo eleitorado. Em
síntese, a prudência é a mãe de todas as virtudes. Então a sucessão de um
Venerável não é só uma questão de renovação, mas de bom alvitre.
Agora quanto à questão de Comissão de Mestres Instalados mencionada
pelo Irmão, eu diria que a mesma é ilegal, portanto não é solução. Mestre Instalado
só participa de Conselho e que está previsto na Lei, cuja nomeação é feita pela
Obediência com a finalidade única de instalar um Venerável.
Não pode existir
interferência de Mestres Maçons portadores do título de Instalado na diretoria
da Loja, salvo a sua participação se necessária conforme previsto no RGF, até
porque um Mestre Instalado é apenas um ex-Venerável, destacando-se em algumas
situações o mais recente.
Perdoe-me a
franqueza, mas sem generalizar, muitos Mestres Maçons Instalados também foram
eleitos Veneráveis sem a qualificação devida, o que não os qualificaria para
indicar alguém para concorrer uma eleição para a diretoria da Loja, se fosse o
caso.
A propósito, quando
me referi a um Mestre Maçom Instalado como sendo simplesmente um ex-Venerável é
porque Mestre Instalado não é grau sob nenhum pretexto Ele é apenas um título
honorífico.
Então meu Irmão o assunto
é complexo, porém se essa questão tem que ser corrigida, ela deve partir da
própria Loja. Daí, cada Mestre que não concordar com o ranço de certas práticas
e concepções anacrônicas, deve trabalhar exaustivamente para erradicar esses
costumes nocivos que sustentam a falsa compreensão da Ordem – a corda não se
rompe pela união dos fios do sisal (fibra
do agave). É oportuno lembrar também a fábula do “Feixe de Esopo”.
T.F.A.
PEDRO JUK
MARÇO/2017
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